quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Um chamamento à consciência

O Evangelho de hoje, 09, (Lucas, 6, 20-26) merece especial reflexão. Nele, Jesus acalenta os pobres, acenando-lhes, como recompensa pelas suas agruras, com o ‘’Reino de Deus’’. Ao contrario dos falsos missionários dos tempos modernos, Jesus não se propõe a resolver os problemas socioeconômicos do povo. Por outro lado, Jesus lança sua ameaça aos ricos, excluídos que serão da gloria eterna. Todavia, por ‘’ricos’’ devamos entender aqueles que levam vida confortável, voltada, exclusivamente, para si mesmos, sem se preocupar com seus semelhantes. A fotografia daquela criança imigrante, chegando morta à praia, chocou o mundo e fez com que muitos países, aos invés de erguer muros e cercas, para impedir a entrada dos fugitivos da miséria – e que miséria maior pode haver do que a guerra? -, resolvessem abrigar esses infelizes. É incompreensível que países ricos e poderosos, como os Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra não possam, em esforço conjunto, restaurar a paz na Síria e minimizar a fome na África. E nós, o que fazemos pelas crianças e desamparados, que passam por nós, todos os dias e que os contemplamos, como se fossem, apenas, parte da paisagem do cotidiano? Reduzimos a maioridade penal para 16 anos; amanhã, reduzi-la-emos para 14 e, depois de amanhã, para 12 e, tempo virá que, tal qual Herodes ensandecidos, matá-la-emos, os pobres, os filhos da miséria, no próprio berço, porque não queremos ser ameaçados, no nosso covarde conforto. Outro dia, na porta da Catedral da Sé, um morador de rua, que só tinha a própria vida para oferecer, ofereceu-a, em defesa de uma jovem ameaçada por um psicopata. Quem de nos seria capaz de tal gesto? Reclamamos da precariedade das políticas publicas que permitem que ‘’zumbis’’ se droguem nas ruas da cidade. Percorremos as ruas da cidade, onde homens, mulheres e crianças, vivem ao relento e dormem, cobertos por pedaços de papelão. E o que fazemos? Olhamos para o outro lado, sem parar para pensar que aquele homem e aquela mulher, hoje, molambos atirados a um canto, com certeza, um dia tiveram o sonho de ter uma vida, minimamente digna. E que destino está reservado para aquela criança, esquálida, maltrapilha, provavelmente faminta, que dorme, ao lado? Tornar-se-á mais um ‘’hóspede’’ das ‘’Febens’’ da vida? É mais fácil dizer: - ‘’O problema não é meu’’, como se todos nós, coletiva e individualmente, não fossemos responsáveis pelas mazelas sociais, que ajudamos a construir, com nosso egoísmo. Pois nós somos os ‘’ricos’’, de que fala o Evangelho, condenados a viver nas trevas que esse egoísmo construiu. O que Jesus propõe – e que grande recompensa ele nos oferece! é que nos deixemos atingir pelo amor ao próximo, traduzido por ações concretas de ajuda aos desafortunados. 

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