Liga-me amiga muito querida, a puxar-me as orelhas por falar
mal de Brasília. ‘’Você conheceu bem a
cidade?’’, pergunta-me ela. ‘’Sim e
não’’, nebulosamente respondo. Lá estive, por centenas de vezes, não só
durante os quase 10 anos, que trabalhei no Governo, mas também em razão de
minha atividade profissional. A cidade é feia, arquitetonicamente falando, com
aqueles prédios ministeriais enfileirados, tal qual peças de dominó. E depois,
as coisas agrupadas, o setor comercial, o setor hoteleiro, locais para onde
você só pode se deslocar de carro. A ‘’vida’’
de uma cidade, está em suas ruas, onde você pode caminhar, conhecendo cada
canto, descobrindo, sem programação, bares, lojas e restaurantes. Acho tudo
isto, andando pela Avenida Paulista, pela Nossa Senhora de Copacabana, pela
Calle Florida, pela Via Veneto e por tantas outras, Brasil e mundo afora.
Brasília, além dessa ausência de vida, é uma cidade reacionária, na pior
expressão do termo: os ricos e poderosos – e como deles os há em Brasília –
concentram-se no ‘’plano piloto’’ e
os pobres foram empurrados para as cidades-satélites. Brasília não tem parque
industrial e muito menos agropecuária. Sua economia gira em torno dos salários
dos funcionários públicos e, se o Governo atrasar 90 dias o pagamento desses
salários, metade dos estabelecimentos comerciais fecha as portas. E mais,
estivesse o Governo – executivo, legislativo e judiciário – num centro
populoso, com opinião pública ‘’fungando
no cangote’’, ele se revigoraria ou tombaria de vez. Fico a imaginar Dª
Dilma, depois de um dia de sandices, saindo, pela frente ou pelos fundos, do
Palácio do Catete, seu carro, cercado por manifestantes, sem lhe dar rota de
fuga. Fico a imaginar o Ministro Joaquim Levy, saindo pela curta e estreita rua
Debret, assediado, a justificar seu ajuste fiscal. Pois Brasília permite o
isolamento do Governo, que contempla aquela paisagem, ausente de povo e, por
isso, acha que tudo vai bem, que a crise não tem essa gravidade toda. Brasília,
na verdade, mais do que uma cidade, é um esconderijo, onde os malfeitores, de
todo o gênero, e dos mais diferentes rincões do País, reúnem-se para tramar
seus assaltos ao patrimônio publico. Desde sua fundação, em 1961, Brasília tem
dado maus exemplos de cidadania, seja por um executivo ineficaz, seja por um
legislativo, transformado em clube social, onde se permutam fofocas e
interesses, quase sempre espúrios. Brasília é uma cidade tão sem vida própria
que o maior numero de torcedores pertence ao Flamengo. Daí sua vocação para ser
transformada em uma ‘’Las Vegas’’
tupiniquim e adquirir real utilidade publica.
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