terça-feira, 22 de setembro de 2015

Porque falar de Brasília

Liga-me amiga muito querida, a puxar-me as orelhas por falar mal de Brasília. ‘’Você conheceu bem a cidade?’’, pergunta-me ela. ‘’Sim e não’’, nebulosamente respondo. Lá estive, por centenas de vezes, não só durante os quase 10 anos, que trabalhei no Governo, mas também em razão de minha atividade profissional. A cidade é feia, arquitetonicamente falando, com aqueles prédios ministeriais enfileirados, tal qual peças de dominó. E depois, as coisas agrupadas, o setor comercial, o setor hoteleiro, locais para onde você só pode se deslocar de carro. A ‘’vida’’ de uma cidade, está em suas ruas, onde você pode caminhar, conhecendo cada canto, descobrindo, sem programação, bares, lojas e restaurantes. Acho tudo isto, andando pela Avenida Paulista, pela Nossa Senhora de Copacabana, pela Calle Florida, pela Via Veneto e por tantas outras, Brasil e mundo afora. Brasília, além dessa ausência de vida, é uma cidade reacionária, na pior expressão do termo: os ricos e poderosos – e como deles os há em Brasília – concentram-se no ‘’plano piloto’’ e os pobres foram empurrados para as cidades-satélites. Brasília não tem parque industrial e muito menos agropecuária. Sua economia gira em torno dos salários dos funcionários públicos e, se o Governo atrasar 90 dias o pagamento desses salários, metade dos estabelecimentos comerciais fecha as portas. E mais, estivesse o Governo – executivo, legislativo e judiciário – num centro populoso, com opinião pública ‘’fungando no cangote’’, ele se revigoraria ou tombaria de vez. Fico a imaginar Dª Dilma, depois de um dia de sandices, saindo, pela frente ou pelos fundos, do Palácio do Catete, seu carro, cercado por manifestantes, sem lhe dar rota de fuga. Fico a imaginar o Ministro Joaquim Levy, saindo pela curta e estreita rua Debret, assediado, a justificar seu ajuste fiscal. Pois Brasília permite o isolamento do Governo, que contempla aquela paisagem, ausente de povo e, por isso, acha que tudo vai bem, que a crise não tem essa gravidade toda. Brasília, na verdade, mais do que uma cidade, é um esconderijo, onde os malfeitores, de todo o gênero, e dos mais diferentes rincões do País, reúnem-se para tramar seus assaltos ao patrimônio publico. Desde sua fundação, em 1961, Brasília tem dado maus exemplos de cidadania, seja por um executivo ineficaz, seja por um legislativo, transformado em clube social, onde se permutam fofocas e interesses, quase sempre espúrios. Brasília é uma cidade tão sem vida própria que o maior numero de torcedores pertence ao Flamengo. Daí sua vocação para ser transformada em uma ‘’Las Vegas’’ tupiniquim e adquirir real utilidade publica. 

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