quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O Governo de joelhos

Na tresloucada tentativa de salvar o seu mandato, a Presidente Dilma, amparada por Lula, joga-se, humilhantemente, nos braços de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ambos envolvidos, até o pescoço, na ‘’lavajato’’. Como o PMDB recusou-se a indicar nossos ministros, a Presidente aceitou adiar a reforma ministerial e, em contra-partida, Eduardo Cunha, adiou sua decisão sobre o pedido de impeachment, subscrito por Helio Bicudo e Miguel Reale Jr. Troca-troca da pior qualidade, que desqualifica Dilma, como pessoa e avilta o cargo de Presidente. Seria até injurioso supor que não tenha ela percebido a enormidade do erro de sua política econômica. Seria até injurioso supor que ela não tenha percebido os descalabros, perpetrados pelo seu partido, para mantê-la no poder. Faltou à Presidente a coragem cívica de vir a público, reconhecer, humildemente, esses equívocos e pedir a união de todos, até porque os problemas atingem a todos. Se assim tivesse agido, por certo, teria o apoio e a confiança lúcida e correspondida, porque confiança não se entrega unilateralmente, confiança exige reciprocidade. Infelizmente, ela optou por uma pequena, astuta, mas medíocre trama palaciana para resolver, por meios ilegítimos, dificuldades, que todos reconhecemos, mas que só podem ser resolvidas por meios legítimos. A legitimidade, que a Presidente conquistou nas urnas, perdeu-a, quando perdeu a confiança do povo, e seu medíocre índice de popularidade demonstra isso. Perdeu-a, quando escondeu a existência de uma crise, que fulmina empresários e trabalhadores. Perdeu-a, quando foi se aconselhar com seu criador, o outrora guia de um ideal e que se transformou em coveiro do partido, que continha esse ideário. Perdeu-a e a continua perdendo, quando busca salvação na escória da política brasileira, despindo-se de sua dignidade, enveredando-se por descaminhos que contrariam tudo aquilo pelo qual urge e pugna a esmagadora maioria do povo brasileiro. E, ao invés de confessar seus erros e pedir a colaboração de quem pode e dever colaborar, a Presidente e seus sacripantas acólitos, preferem chamar os que apontam sua irresponsabilidade administrativa de ‘’golpistas de direita’’, a buscarem um ‘’terceiro turno’’ da eleição presidencial. Desde quando é ser da ‘’direita golpista’’ querer que se façam as coisas direito? Desde quando é ser da ‘’direita golpista’’, a não ser por um jogo de palavras, mal intencionadas, querer que se faça, democraticamente, o que nunca se deve fazer por vias espúrias? E desde quando é ‘’esquerda’’ o poder pessoal, que vai aperfeiçoando, primeiro no confinamento de um Palácio, no ermo, depois, cercando-se de um grupo de palacianos bisonhos, que fazem da intriga, do trança-pé a matéria-prima da adulação? Sai Mercadante, fica Mercadante, sai José Eduardo, fica José Eduardo, esse joguinho não é muito pueril, diante das adversidades com as quais o País se depara? Assim se prepara o quadro do desastre, que evolui a cada dia – o dólar não para de subir, a bolsa opera em queda, o desemprego aumenta -, enquanto o Congresso se demite de suas funções, com secreta e inexpressiva ambição de uns, em querer sobrepujar os outros (Renan x Eduardo, Eduardo x Renan), as contradições dentro dos partidos, cada vez mais divididos, que, como nunca, não contam com o respeito e a confiança da população. A Presidente, acuada por todos os lados, despida em sua dignidade, arruma as malas e segue viagem para a Assembléia Geral da ONU. Leva na bagagem a incerteza do impeachment, ou a certeza dele. Leva na bagagem a desconfiança – quase o mal querer – da população que só ouve falar em crise e em ‘’lavajato’’, como se ambos, crise e ‘’lavajato’’, fossem coisas banais e inconseqüentes. Que dirá a Presidente à imprensa internacional, quando a indagarem sobre uma e outra? Provavelmente, continuará mentindo, que a crise é passageira, está sob controle e, quanto à lavajato, nada tem ela com isto. E toda essa mentira em nome de uma ambição, sem sentido, porque corrói a dignidade, bem do qual não se pode abrir mão e nos faz a nós, Brasil, menores aos olhos do mundo.

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