Naquela manhã, a Presidente acordou mais alvoroçada do que de
costume. Apenas engoliu seu café, entrou no carro e pediu ao motorista que
voasse para o Planalto. Afinal, quem teria coragem de multar, por excesso de
velocidade, o carro da presidência? Apesar dos pesares – tantos os eram – ela
possuía (ainda) algum prestigio. Além do mais, enquanto dormia, teve uma visão
que seria a solução para todos os problemas – dela e do Brasil. Entraria para a
historia como a presidente que realizara a maior mudança e era, literalmente
uma mudança. Pelo retrovisor, o motorista viu-a falando sozinha, gesticulando e
até rindo, o que era estranho, ela, que vivia emburrada, dando coice no vento.
Ao vê-la assim, esfuziante, ele até ousou perguntar: - ‘’tudo bem com a
senhora?’’ – ‘’Tudo ótimo, querido, só quero chegar logo.’’ O
‘’querido’’retumbou nos ouvidos do infeliz, acostumado a só ouvir reclamações,
que o carro estava sujo, que a gravata estava torta, onde já se viu o motorista
da Presidente andar com o sapato sem brilho. E aquela barba vencida? Por isso,
aquele ‘’querido’’ soou como música e ele achou melhor não fazer qualquer outro
comentário. Ao chegar à garagem ela quase pulou com o carro andando, entrou no
elevador privativo que levava a sua sala e já chegou gritando: ‘’me chame o
Mercadante! Quero-o em 5 minutos, aqui!’’ Em menos de 3, seu Chefe da Casa Civil
estava sentado a sua frente, suando na testa: ‘’será que ela vai me mandar
embora: Seria até bom, o Lula saía do meu pé e eu...’’ Seus pensamentos foram
interrompidos pela Presidente que se agitava na cadeira: - ‘’Merca (quando ela
o chamava assim, sabia, vinha furacão), tive uma visão ou um sonho, não importa
o que, que vai me tornar a mais querida e admirada presidente do Brasil e você
vai ter o privilegio de ser o primeiro saber’’. Mercadante relaxou na cadeira,
olhos esbulhados, o coração batendo na boca. A Presidente andava estranha,
falas desconexas, diziam que era efeito colateral do regime para emagrecer.
Ainda eram 9 horas e ele nem acordara direito, mas procurou ficar atento à nova
idéia da presidente, que deu um grande gole d’água e continuou a falar,
cuspindo saliva: - ‘’vou arrendar Brasília, transformá-la na ‘’Las Vegas’’ da América Latina. Jogo,
prostituição, de alta classe, só mulheres do tal ‘’book rosa’’, bebidas, só as importadas e droga, muita droga, menos
maconha e crack, que é coisa de pobre. Você já imaginou, Merca, os aviões
internacionais pousando, cheio de americanos, chineses e árabes, com seus
dólares, milhões de dólares para gastarem nas mesas de jogo e com as mulheres?
Os prédios dos Ministérios serão adaptados para cassinos. Façamos a conta: se
cada Ministério, transformado em cassino, faturar 100 milhões de dólares por
mês teremos 1,2 bi por ministério-cassino, que resultariam em 46,8 bi por ano,
mais do que o necessário para cobrir o rombo no orçamento. As instalações do
Congresso serão adaptadas para funcionarem como luxuosos prostíbulos, o que,
convenhamos, mudam apenas os personagens. O ‘’Alvorada’’
será um centro de consumo de drogas, principalmente haxixe, que tem todo aquele
ritual. ‘’E o governo, para onde vai?’’, perguntou, quase sem voz,
Mercadante. – ‘’O Governo, vou aceitar a
sugestão de um cara, lá de São Paulo, e vou levar de volta para o Rio, que já
tem todos os prédios públicos, que precisamos. Só quero que providencie uma
ciclovia, em torno dos jardins do Palácio do Catete, para eu dar minhas
pedaladas matinais. Agora, pode sair, explique o plano para o Levy e dê uma
coletiva para a Imprensa’’. Mercadante levantou-se, lentamente, da cadeira,
como se ainda quisesse comentar a idéia da Presidente, falar das dificuldades
em viabilizá-la, mas o olhar, quase alucinado da dita cuja, fê-lo sair, sem
saber por onde começar. Trancou-se em sua sala e ligou para o médico particular
da Presidente: - ‘’doutor, agora não tem
mais jeito. Precisamos internar a mulher!’’
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