sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Para falar de tentativas de suicídio e coxas



Luiz Claudio já vestia o pijama, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, sua tia Eulália, quase gritava: - ‘’Venha correndo, aconteceu uma desgraça, acho que sua prima se matou!’’ Ele era o único parente vivo da tia e, mesmo cansado, depois de um dia de trabalho pesado, vestiu a roupa, outra vez, manobrou o carro entre as estreitas pilastras e guiou-o em direção à casa de Dª Eulália, que ficava do outro lado da cidade. Sua prima, Irene, já batendo os 50, era neurótica e depressiva. Desde que, 30 anos antes, perdera o namorado, que se afogara no mar de Sernampetiba (comentou-se, à época, que ele estava drogado ou bêbado) – nunca mais se envolvera com outro homem. Vivia amuada, pelos cantos, de casa para o trabalho, mantendo seu quarto impecavelmente arrumado, o que passou a ser uma obsessão, para ela. Como não a suportava, raramente visitava a tia e só o fazia, quando tinha certeza que não encontraria a prima. Já passava da meia-noite, quando tocou a campainha da porta de entrada do velho prédio do Grajaú, que foi aberta, quase imediatamente. A tia recebeu-o, esbaforida:

- ‘’Cacá (era a única ou ultima pessoa que o chamava pelo apelido de infância), Irene (a prima) trancou-se no banheiro faz duas horas, não escuto barulho, bato na porta e nada. Será que ela se matou?’’ – ‘’Não sei, tia, vamos ver’’. Ao se dirigir ao banheiro, Luiz Claudio notou que havia uma moça na porta. Loura, alta, vestindo blusa amarrada na inexistente barriga e um short, deixando à mostra exuberante par de coxas. ‘’Esta é Cintia, mora no apartamento ao lado, ouviu meus gritos e veio em meu socorro’’, disse a tia, respondendo a uma pergunta, não feita por Luiz Claudio. Este bateu várias vezes na porta do banheiro, repetindo o nome Irene, Irene, sem obter resposta. – ‘’Tia, acho que temos que arrombar a porta, tudo bem?’’ E antes mesmo de obter autorização da tia, deu um ponta-pé na altura da fechadura e a porta se abriu. Irene estava sentada no vaso, baba escorrendo pelo canto da boca e um vidro vazio na mão. A tia começou a chorar alto e Cíntia, a das belas coxas, conteve o grito com as mãos. Luiz Claudio, colando o ouvido no peito da prima, constatou que o coração ainda batia. Com a ajuda de Cintia, levou a prima para o carro. Felizmente havia um hospital, há poucos quarteirões. E foram os quatro: a tia, no banco de trás, com a filha deitada, cabeça no colo e ele, dirigindo, com Cintia e suas coxas, ao lado. No hospital, Irene foi prontamente atendida. Enquanto esperavam, ele consolava a tia, sem conseguir despregar os olhos das coxas que pareciam persegui-lo. Finalmente, o medico chegou, que estava tudo bem, Irene fizera um vomitório e dali a umas 3 horas podia ir para casa. Ir até Ipanema e voltar até o Grajaú era muito sacrifício, por isso resolveu esperar na casa da tia, para onde voltaram todos. A tia passou um café, comeram um pedaço de bolo e ficarem em sepulcral silencio, quebrado por Cintia: ‘’por que a senhora não vai descansar um pouco, eu faço companhia a seu sobrinho.’’ Dª Eulália aceitou a sugestão e se retirou para seu quarto. Passados alguns minutos, ainda em silencio, Luiz Claudio perguntou: - ‘’sobre o que você quer conversar, enquanto esperamos?’’ – ‘’Tenho uma idéia melhor’’, respondeu ela, tomando Luiz Claudio pelas mãos, atravessando com ele o corredor entrando no apartamento dela e o conduzindo até a cama. – ‘’Feche os olhos e só abra, quando eu disser’’. Quando ela disse ‘’pode abrir’’, ele viu a silhueta de seu corpo nu, sob o lençol, que ela ergueu, para acolhê-lo em seus braços. 

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