Quando entrei na Faculdade – já lá vai meio século – tive
alguns professores que, à época, eram Desembargadores do Tribunal de Justiça de
São Paulo, o que os revestia de um manto especial de saber e dignidade.
Lembro-me, em especial, de Washington de Barros Monteiro, não só por ter sido
meu professor de Direito Civil, por 04 anos, mas também pela meiguice, com que
nos tratava, o que fez dele nosso paraninfo. Décadas depois, foi contratar um
parecer dele, dirigindo-me a seu sóbrio escritório, ali ao lado do Teatro
Municipal. Na ocasião, acompanhou-me meu filho, então estudante de direito e o
ilustre professor, exaltou inexistentes qualidades minhas. Por óbvio, era só um
afago, primeiro, porque fui aluno apenas mediano; segundo, porque, tantos anos
passados, impossível ter ele me retido em uma memoria, que chegava aos 90 anos.
Todavia, tê-lo tido como meu professor, é motivo de orgulho, do qual não abro
mão, como, por certo, constitui honra e glória de nosso Tribunal de Justiça
tê-lo tido como seu integrante. Com o tempo, inúmeros colegas e contemporâneos,
que ingressaram na Magistratura, ascenderam ao Tribunal de Justiça e dois deles
chegaram a sua Presidência. O tempo seguiu seu caminhar implacável e eis que,
outro dia, deparei-me com ex-estagiário de meu escritório, envergando a toga de
Desembargador. Ao longo de quase 50 anos, a não ser longínquos e enfraquecidos
murmúrios, jamais tive conhecimento de fato relevante e consistente que pudesse
macular a dignidade de nosso Tribunal de Justiça. Vivemos tempos sombrios, com
as instituições em frangalhos, o que torna tênue a nossa melancólica democracia.
Nenhum membro do executivo federal pode circular pela cidade, sem correr o
risco certo de ser vaiado, como aconteceu com José Eduardo Martins Cardoso, ao
percorrer centro de compras, em direção a uma livraria. O próprio Lula afirmou
que não se encoraja a ir a restaurante em sua própria cidade – São Bernardo do
Campo, aliás, berço do petismo. Os deputados e senadores protegem-se no
anonimato e os mais conhecidos são reféns de si mesmos. Excluem-se dessa
mixórdia o Poder Judiciário – e eu só posso falar por São Paulo – que,
excetuados raríssimos e esporádicos casos pontuais, vem se mantendo como a viga
– mestra da verdadeira democracia, aquela em que o interesse do povo é colocado
acima de tudo, e de todos. Do lado contrário, o Procurador Geral da República,
ao propor o arquivamento da representação contra a Presidente Dilma Roussef,
compromete o alto grau de independência do Ministério Público, instituição que
vem se destacando pelos relevantes serviços prestados ao País. Em boa hora, o
Ministro Gilmar Mendes não acatou aquela proposta de arquivamento e determinou
que as diligencias prosseguissem. Não creio na desonestidade pessoa da
Presidente, mas, quanto a seu partido, os fatos têm gritado, todos os dias,
através do silencio que, no caso, no é o dos inocentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário