quinta-feira, 28 de maio de 2015

Porque o Botafogo, ontem e sempre


Indaga-me desconhecido leitor de minhas ‘’mal-traçadas’’, o porquê de eu, morador paulistano, viver a invocar o Botafogo e se não sou simpatizante de time daqui. Vai a explicação: sou migrante! Aqui cheguei, aos 15 anos, para continuar meus estudos, vindo do interior de Minas Gerais, onde, naquela época, só chegavam as rádios e os jornais do Rio que era, em todos os sentidos, a Capital do País. Devo dizer que, de Minas para cima, todos éramos, culturalmente, submissos ao Rio. A opção pelo Botafogo – que se eternizaria – surgiu no começo dos anos 50, quando dividíamos com o Vasco a supremacia do futebol carioca. Mesmo vindo morar em São Paulo, acompanhava, na alegria e na tristeza, o Botafogo, até porque quase todo fim-de-semana estava por lá e, depois da praia, o Maracanã era destino certo. Entre 1970 e 1982, fui morar no Rio, no bairro do Leme, bem próximo ao estádio do ‘’glorioso’’. Nesse período assisti a, pelo menos, 80% dos jogos do Botafogo e, por vezes varias, fui a treinos do clube, ali na ‘’General Severino’’. Era a época de Jairzinho, Gerson, Paulo Cesar ‘’Caju’’ e outras ‘’feras’’ que nos fazia o melhor dentre melhores, modéstia à parte. Ao falar de minhas constantes idas ao Maracanã, imprescindível fazer referencia a um amigo de vida inteira, Oswaldo Jurema, hoje morando em João Pessoa. É ele filho de Abelardo Jurema, ex-ministro da justiça do governo João Goulart e que eu, lacerdista, até a raiz do cabelo, detestava e em quem, antes de 1964, cheguei a jogar tomates, quando veio participar de um programa de televisão, em São Paulo. Já falei sobre isto! Quando Dr. Abelardo retornou do exílio, eu, já amigo do filho, fui conhecê-lo. Foi paixão a primeira vista. Dr. Abelardo foi um dos homens mais cultos e cordiais, que conheci e cuja integridade transparecia na vida modesta, que levava. Nunca ouvi dele qualquer palavra de ressentimento e olha que ele, arrancado da família, pela Revolução de 64, ‘’comeu o pão que o diabo amassou’’, em seu exílio, no Peru.  Mas volto a falar do filho. Ele era Fluminense, tão fanático quanto eu era Botafogo. Pois quando jogavam os dois clubes, íamos juntos ao ‘’Maracanã’’, sentávamos lado a lado, nas cadeiras, torcendo tresloucadamente, mas sem tripudiar sobre o vencido. Amizade, que se superpõe às diferenças futebolísticas e ideológicas, dura, realmente, para sempre!

Quanto aos clubes de São Paulo, quando aqui cheguei só podia pender para o Santos, de Pelé e companhia, mas era simpatia de momento, que desapareceu, com o tempo. Tenho um filho, doentiamente corintiano e uma filha, são paulina idem, a quem veio juntar meu neto mais velho. Assim, só me resta simpatizar, sem maiores emoções, pelos dois. Paixão mesmo, primeira e definitiva, na alegria e na tristeza (atualmente, mais essa que aquela) é pelo Botafogo, cujos símbolos tenho-os todos, inclusive a camisa do Jairzinho, dele recebida nos anos 70 e conservada limpa e passada, pronta para ser meu ultimo traje.    

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