Indaga-me desconhecido leitor de minhas ‘’mal-traçadas’’, o porquê de eu, morador paulistano, viver a
invocar o Botafogo e se não sou simpatizante de time daqui. Vai a explicação:
sou migrante! Aqui cheguei, aos 15 anos, para continuar meus estudos, vindo do
interior de Minas Gerais, onde, naquela época, só chegavam as rádios e os
jornais do Rio que era, em todos os sentidos, a Capital do País. Devo dizer
que, de Minas para cima, todos éramos, culturalmente, submissos ao Rio. A opção
pelo Botafogo – que se eternizaria – surgiu no começo dos anos 50, quando dividíamos
com o Vasco a supremacia do futebol carioca. Mesmo vindo morar em São Paulo,
acompanhava, na alegria e na tristeza, o Botafogo, até porque quase todo
fim-de-semana estava por lá e, depois da praia, o Maracanã era destino certo.
Entre 1970 e 1982, fui morar no Rio, no bairro do Leme, bem próximo ao estádio
do ‘’glorioso’’. Nesse período
assisti a, pelo menos, 80% dos jogos do Botafogo e, por vezes varias, fui a
treinos do clube, ali na ‘’General
Severino’’. Era a época de Jairzinho, Gerson, Paulo Cesar ‘’Caju’’ e outras ‘’feras’’ que nos fazia o melhor dentre melhores, modéstia à parte.
Ao falar de minhas constantes idas ao Maracanã, imprescindível fazer referencia
a um amigo de vida inteira, Oswaldo Jurema, hoje morando em João Pessoa. É ele
filho de Abelardo Jurema, ex-ministro da justiça do governo João Goulart e que
eu, lacerdista, até a raiz do cabelo, detestava e em quem, antes de 1964,
cheguei a jogar tomates, quando veio participar de um programa de televisão, em
São Paulo. Já falei sobre isto! Quando Dr. Abelardo retornou do exílio, eu, já
amigo do filho, fui conhecê-lo. Foi paixão a primeira vista. Dr. Abelardo foi
um dos homens mais cultos e cordiais, que conheci e cuja integridade
transparecia na vida modesta, que levava. Nunca ouvi dele qualquer palavra de
ressentimento e olha que ele, arrancado da família, pela Revolução de 64, ‘’comeu o pão que o diabo amassou’’, em
seu exílio, no Peru. Mas volto a falar
do filho. Ele era Fluminense, tão fanático quanto eu era Botafogo. Pois quando
jogavam os dois clubes, íamos juntos ao ‘’Maracanã’’,
sentávamos lado a lado, nas cadeiras, torcendo tresloucadamente, mas sem
tripudiar sobre o vencido. Amizade, que se superpõe às diferenças
futebolísticas e ideológicas, dura, realmente, para sempre!
Quanto aos clubes de São Paulo, quando aqui cheguei só podia
pender para o Santos, de Pelé e companhia, mas era simpatia de momento, que
desapareceu, com o tempo. Tenho um filho, doentiamente corintiano e uma filha,
são paulina idem, a quem veio juntar meu neto mais velho. Assim, só me resta
simpatizar, sem maiores emoções, pelos dois. Paixão mesmo, primeira e
definitiva, na alegria e na tristeza (atualmente, mais essa que aquela) é pelo
Botafogo, cujos símbolos tenho-os todos, inclusive a camisa do Jairzinho, dele
recebida nos anos 70 e conservada limpa e passada, pronta para ser meu ultimo
traje.
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