Já falei do especial carinho, que tenho, pela Avenida
Paulista, que, como mulher bem cuidada, conserva seus encantos e seu charme,
apesar da idade avançada. Muita coisa se perdeu, desde quando a percorria, de
bonde, lá pelo começo dos anos 60, vindo da Vila Mariana e indo em direção ao ‘’Fasano’’,
lá nas proximidades da Augusta, e onde se comia uma coxinha, recheada de
catupiry, a arrancar suspiros de prazer. Em nome do progresso, as grandes
mansões, como a dos ‘’Matarazzo’’, foram derrubadas para, em seu lugar,
erguerem-se imponentes edifícios. Para lá, em um primeiro momento, transferiu-se
o centro financeiro da Capital, banido pelo irrecuperavelmente decaído ‘’Cento
Velho’’. Mudou a avenida, mas não mudou sua elegância. Hoje, todavia, fui
encontrar um amigo, de cujo Escritório, no 11° andar, têm-se ampla visão da
avenida. Ei-la, rasgada ao meio, mulher, ventre aberto, parto inacabado, mostrando
estranhas entranhas, pernas abertas, útero rasgado, sob forma de imundos
tapumes, produto da incúria administrativa dos que, movidos, exclusivamente
pela ganância de poder, não guardavam qualquer identidade, com nossa
desventurada cidade. No ventre aberto, pretende-se construir, a preço de ouro
(o velho e suspeito interesse pessoal), ciclovia que, como tantas espalhadas
pela cidade, restará ociosa, à exceção dos domingos. Enquanto isto, ventre
estaticamente exposto, a avenida se ensurdece e se asfixia com os
congestionamentos, rotina de todos os dias e horas. Sinto vergonha e pena da
avenida, como, de resto, de outros lugares abandonados: a Praça da Sé, ocupada
por vagabundos, punguistas e fumadores de crack. O Pátio do Colégio, cercado pelo
Tribunal de Justiça, de um lado e pela Casa de Anchieta, do outro e
transformado em pista de skate. A Praça João Mendes, ornamentada por ‘’jovens
putas da tarde’’.
Em vão, procuro estrada, que me conduzirá a Pasárgada.
Informam-me que foi interditada por falta de manutenção.
‘’Resistir, quem há de?’’
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