quinta-feira, 30 de junho de 2016

A estrela que se apaga

Era uma vez um jovem, ainda adolescente, preto, de família paupérrima, que sonhou o sonho de se transformar em grande jogador de futebol, um Romário ou Ronaldo, talvez. Ficaria famoso e, depois do Brasil, conquistaria a Europa, Milan e Barcelona, talvez. Ganharia muito dinheiro e daria vida digna a sua paupérrima família. Correu atrás de seu sonho e, como tinha “bola nos pés”, como dizem os cronistas esportivos, chegou ao Botafogo carioca. Encantou a todos, inclusive a mim, que, por ser torcedor do Botafogo desde o ventre de minha mãe, vi passar pelo clube incontáveis craques, tantos o foram, que seria desperdício nominá-los. Acontece que aquele jovem fora tomado pela droga, cocaína, eu acho. Podia e devia ser assistido, até investimento seria. Resolveram que melhor seria abandoná-lo a própria sorte e ele, sozinho, seguiu batendo cabeça, passando por clubes menores. Um dia, voltou ao Botafogo. Ainda tinha “bola nos pés”, mas precisava de tempo para mostrá-la. De quando em vez ele entrava em campo. Não tinha o brilho do começo, todavia, se o ajudassem, jovem ainda, talvez transformasse seu sonho em realidade... não fosse a droga, cocaína, eu acho, que não o abandonara e da qual, sozinho, era presa fácil. Um dia, triste e infame dia, recusou-se a um exame “anti doping”. Foi proibido de fazer a única coisa que sabia fazer e de onde tirava seu viver: jogar futebol, por dois anos. Aquele era seu trabalho e a lei assegura a todos o direito ao trabalho, como, então, ficou aquele cidadão privado desse primordial direito? Por que, dentro do Botafogo, não se ergueu uma única voz para defender esse desprotegido jovem? Proibido de trabalhar, lançado à própria sorte, aquele jovem, agora preso, acusado de estupro, vê o sonho, um dia sonhado, transformar-se em pesadelo: negro, pobre, prisioneiro da droga e do homem. Muitas vezes me entristeci, vendo o Botafogo ser batido. Agora, mais que tristeza, envergonho-me por ver a indiferença, quase desprezo, em constatar que meu Botafogo poderia ter evitado o pesadelo daquele quase menino, que chegou Jobson e, sem gloria, termina apenas um nome, na estatística da criminalidade.

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