Como já alardeei, detesto o frio, que nos faz camuflar em
pesadas roupas e me traz inevitável banzo do verão. Todavia, tenho especial
carinho pelo mês de Junho, tantas são as comemorações, gerais e pessoais, nele
realizadas. No plano geral, as festas juninas que, se nestas plagas paulistanas
resumem-se às quermesses das Igrejas, pelo Brasil afora, especialmente no
Nordeste, continuam a serem festejadas com danças, fogueiras e quentões. Nada
tenho de saudosismo, mas são as raízes que traçam a personalidade de um povo e
de uma nação. Dos Santos reverenciados, minhas preferências recaem sobre São
João, que me remete à infância e São Pedro que considero injustiçado pela
hagiografia, apesar de ter sido a pedra sobre a qual se erigiu a Igreja. Acabou
tendo sua importância empanada pelo seu colega de dia, São Paulo, por quem
chego a ter antipatia: intitulou-se a si mesmo apostolo, desprezou Barnabé, que
o introduziu entre os apóstolos verdadeiros e quis tomar o lugar de Pedro. Suas
‘’cartas’’ – em grande numero não escritas por ele – estão recheadas de
cabotinismo, como se ele tivesse sido, pessoalmente, escolhido por Cristo, para
difundir o evangelho. É óbvio que Paulo foi importante. Culto, de origem nobre,
teve a visão cosmopolita que faltou a Pedro, humilde e analfabeto pescador. Outro
dia, um amigo, recém chegado da ‘’terra santa’’, mostrou-me uma foto da casa de
Pedro, quase uma gruta de ínfima dimensão. Nasceu e viveu ele na pobreza,
desceu da vida para seguir Jesus e o entendeu, mais com o coração do que a
razão, fraquejou, como qualquer ser humano e, exatamente pelo seu despojamento,
Cristo o escolheu para ser o fundador da Igreja que emergia. Impossível
imaginar Paulo, com seu imponente cavalo e aquela pose de ‘’eu sou mais eu’’,
participando de festa junina. Quanto a Pedro, vejo-o percorrendo as barracas de
canjica e quentões, pulando fogueiras e, até, ensaiando passos de quadrilha. E
não esqueçamos Santo Antonio, reverenciado, com incontida expectativa, pelas
‘’moças casadoiras’’.
Boas festas juninas a todos e quem puder, desfrute-as no
nordeste, especialmente na Paraíba, terra de muitos encantos e quase nenhum
frio.
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