É interessante como alguns conceitos ideológicos vão sofrendo
mutações, ao longo do tempo e dos acontecimentos históricos. Pessoalmente, acho
esta dicotomia esquerda/direita total anacronismo, que desapareceu com o fim do
regime comunista, cujo tiro de misericórdia fora a queda do muro de Berlim, em
1989. No meu tempo de estudante universitário, ser de esquerda era,
essencialmente, ser anti-americano, era defender os valores nacionais,
preconizar a estatização de tudo. Nós que, já naquela época, imaginávamos um
Brasil inserido no universo político e econômico, éramos chamados de
‘’americanófilos’’, ‘’americanalhas’’, ‘’gorilas’’ e outros epítetos, tão a
gosto de uma geração bastante politizada. A roda do tempo girou, veio a
globalização, as redes sociais passaram a ser o mais efetivo meio de
comunicação e o conceito daquela dicotomia virou de cabeça para baixo. Hoje,
ser de esquerda, é defender a integração com organismos internacionais e, em
contraponto, ser de direita, como sinônimo de ‘’reacionário’’, é proteger
valores e conceitos ‘’nacionais’’. Vejam o que aconteceu com a Inglaterra, cuja
população, em sua maioria, optou por se desvincular da União Européia, como
meio de proteger seus valores nacionais, em um momento em que os empregos e a
segurança ficaram ameaçados com a chegada de mais de 600 mil imigrantes. A
vitória do ‘’sim’’, isto é, dos que desejavam a saída de União Européia, foi
considerada vitória da ‘’direita xenófoba’’. Afinal, o que pretendiam esses
‘’reacionários’’? Uma Grã Bretanha mais independente, sem se submeter às normas
intervencionistas da ‘’União’’, o estabelecimento de regras de controle sobre a
entrada de estrangeiros, principalmente os refugiados. A ‘’direita’’ avança, no
mundo, não porque prega o privilégio da classe mais rica, em detrimento dos
mais pobres, como sustenta a esquerda derrotada. O que aflora, como óbvio, é
que os discursos de esquerda são bons, em campanha política, mas não guardam identidade
com o ato de governar. Exemplo disto, é François Hollande que, ao propor
reforma trabalhista, fundamental para reduzir o ônus financeiro, advindo do
protecionismo, enfrenta a fúria da esquerda, que o elegeu. A vitória do
conservador, Mariano Rajoy, na Espanha, reflete o anseio do povo espanhol de
arquivar o populismo, que gerou a mais devastadora crise econômica, que deixou,
sem emprego, mais de 20% de força de trabalho espanhola. O Brasil, querendo ou
não, deverá rever sua permanência nesta união de esfarrapados, que se chama
‘’Mercosul’’ e, através de acordos bilaterais, expandir seu mercado exterior.
Que o inútil debate sobre esquerda/direita fique restrita aos intelectualóides
desocupados e que os países civilizados, sem abdicarem de seus valores
nacionais – como sustenta o ‘’Brexit’’ -, procurem o caminho comum do
desenvolvimento.
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