Acho que todo mundo já passou por experiência igual: você sai
à procura de uma coisa, um objeto qualquer e acha outro, que nem mais sabia da
existência. Pois não é que abro a gaveta de minha mesa de trabalho, buscando os
óculos reserva e, lá do fundo vem pequena agenda de endereços, capa descolorida,
páginas enrugadas, embaralhando as letras. Quantos anos têm? Difícil sabê-lo,
apenas constato sua antiguidade. Telefones de pessoas, que morreram ou se
tornaram desconhecidas, o que dá no mesmo. A antiguidade se revela por ainda
serem telefones de seis números e não haver registro de um único celular. Por
que teria eu guardado tal ‘’documento histórico’’? É mania que tenho, herdado
de minha mãe que guardava até papel de presente usado. A minha estante está
cheia dessas reminiscências: calendários de anos passados, revistas idem,
escritos, que me acompanham, vindos de outros escritórios. Em minha casa, para
ira contida de minha mulher, desapropriei um dos quartos, transformando-o em ‘’arquivo
morto’’ de processos, que se findaram há mais de 10 anos. Por que guardá-los,
se não poderão ressuscitar? Prometo que o transformarei em arquivo
‘’eletrônico’’, contendo apenas os dados essenciais. Sei que não cumprirei a
promessa e as inúteis pastas, juntando traças, lá ficarão, tornando inútil o
espaço, até que minha esposa cumpra a ameaça de jogar tudo no lixo... o que,
confesso, me deixará aliviado. E sigo acumulando tudo, inclusive meus amados
cachorros, que já foram 10 e, agora, são 8 e mais não são, porque me curvei ao
óbvio argumento de minha esposa que não temos tanta expectativa de vida assim,
para novos, uma vez que acabarão sendo herdados por nossos filhos, todos
morando em apartamento. Na verdade, ao longo da vida, apenas não acumulei dinheiro
e amigos. Quanto ao primeiro, preferi viver a vida, comendo bem, bebendo melhor
ainda e praia, muita praia, em diferentes locais do mundo. Como conseqüência,
acumulei lembranças, que, na velhice, torna-se a melhor riqueza. Quanto a não
acumular amigos, decorre da enorme má-vontade de conviver, jogar conversa fora,
prazeres que ficaram no arquivo, definitivamente morto, da juventude.
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