Leio, na última edição da revista ‘’Piauí’’, bombástica entrevista com o ex Senador, Delcídio Amaral,
onde ele, ‘’escancarando de vez’’, revela todo o conteúdo de sua delação
premiada e os fatos a ela correlatos, como interferências sofridas para que não
o fizesse, vindas, principalmente do Senado. Abandonado pelo Governo, do qual
era líder, pelo PT, que sempre o considerou um ‘’estranho no ninho’’ e, até, pelos colegas de Senado, a quem fizera
incontáveis favores, procurou salvar a própria pele. Ficou preso em condições
sub-humanas e relata que, quando faltava luz no prédio da PF e o gerador era
ligado, fumaça inundava a cela improvisada, onde estava recluso, asfixiando-o. Ficou
cerca de 90 dias preso e somente foi libertado, por ordem do Ministro Teori
Zavaski, quando a Polícia Federal e o Ministério Público deram-se por
satisfeitos com seus relatos. Sua condição física e psicológica, no plano
estritamente jurídico, compromete sua delação e nos preocupa, a nós, que
imaginávamos viver em um Estado de Direito, onde o ordenamento jurídico repudia
o principio, segundo o qual ‘’os fins
justificam os meios’’. É claro que todos, que queremos um País passado tão
a limpo, quanto possível, não podemos ser contra a ‘’lava jato’’ que, hoje, entra em sua 31ª fase, sempre correndo
atrás de empresários e funcionários de baixo escalão. Delcídio, em sua
entrevista- reproduzindo o conteúdo de sua delação -, detalha, de forma
minudente, suas conversas com Lula, no Instituto que leva o nome do mesmo, com
a ex-presidente Dilma, com os ex Ministros Mercadante e José Eduardo Cardoso,
além do sempre Renan Calheiros, todos imbuídos da missão de salvar o
ex-presidente e seus filhos, Bumlai e Cerveró. Os detalhes permitem concluir
que, se confirmada a veracidade dos fatos narrados, confirmada estará a
existência de fortes indícios da prática de crimes, onde o de ‘’obstrução da justiça’’ é o mais brando.
Em que pesem tais indícios, até o momento, nenhuma daquelas personalidades foi
incomodada. Enquanto isto, Marcelo Odebrecht comemora 01 ano de prisão, apesar
de desaparecidos todos os requisitos, estabelecidos pelo Código de Processo
Penal, para decretação ou manutenção daquela custódia. Fica claro, até para o
leigo, a confirmação de que a libertação daquele empresário está condicionada,
não aos ditames da lei, mas à delação que se lhe é exigida.
Conta a história que, certa feita, um cidadão romano, vítima
de arbítrio, foi preso. Dirigindo-se a seu algoz, lançou o vaticínio ‘’hodie, mihi, cras tibi’’, que, em
canhestra tradução, significa: hoje, sou eu, amanhã, será você’’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário