sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Terapia


Roberta era mulher atormentada: passara dos 40 e apesar de razoavelmente bonita e bem feita de corpo – seu forte eram as coxas torneadas – não conseguia arranjar namorado. Ou melhor, não é que não conseguia, o problema era conservá-los por muito tempo. Chegou a ir ao dentista, podia ser problema de mau hálito, o que afasta qualquer mortal. Não era! Afora uma cárie, ainda superficial, seus dentes eram perfeitos e suas gengivas não apresentavam qualquer anomalia. Sabia conversar, estava por dentro de todos os assuntos da moda, menos política, que era coisa de uns poucos, metidos a besta. Sabia que estava em idade difícil, velha para os jovens e não se dispunha – ainda – a se lançar nos braços de velho babão, que só funcionava na base de ‘’comprimido azul’’. Mas o tempo ia passando e ela, ali, fim-de-semana em casa, ou em barzinho, com grupo de mulheres, não amadas como ela. Até a Ana Lucia, baixinha, pouco cabelo, arranjara namorado, estava de casamento marcado e ela, empacada. Resolveu se abrir com uma amiga, a Solange, que depois de muito batalhar, conheceu Guilherme e já moravam juntos, há mais de um ano. Não era grande coisa – o Guilherme -, mas melhor do que ficar vendo filme velho, sábado à noite. Solange foi definitiva: - ‘’Você é complicada, Roberta. Esse negócio de muito papo, ficar no beijinho, homem não quer saber. Não digo que você tem que transar logo no primeiro dia, mas, depois do terceiro encontro, tem que ir para os ‘’finalmente’’. Lembra o Ricardo, aquele coroa que lhe apresentei? Veio reclamar comigo que você estava se fazendo de difícil e que ia botar a fila pra andar, porque a oferta era maior do que a procura. Quer um conselho? Você precisa fazer terapia, romper essas barreiras. Se você quiser, te indico um, ótimo psicanalista e não cobra caro.’’
Sobriamente vestida, quase sem pintura, sapato baixo, tudo para não aparentar perua, entrou cautelosamente no edifício, onde se situava o consultório do Dr. Edgar, o psicanalista que Solange lhe recomendara. Quando tocou a campainha, a porta foi aberta por homem bonito, 1.90, por volta de 50 anos, que lhe estendeu largo sorriso: - ‘’Já a esperava. Entre naquela sala, coloque-se à vontade e deite no divã, que eu já volto.’’ Roberta se impressionou com a sala de atendimento, finamente decorada, e, no canto, perto da janela, um enorme divã, em camurça verde-petróleo, com uma poltrona de espaldar alto, ao lado. De algum lugar vinha suave música, própria para relaxar. Ela tirou os sapatos, afrouxou o cinto do vestido, que lhe apertava a cintura, deitou-se no divã, fechou os olhos e deixou seus pensamentos viajarem, sem destino. De repente, ela sentiu um corpo deitar a seu lado, beijar-lhe o rosto e passar as mãos sobre suas coxas. Ela as segurou, afastando-as, pulou do sofá, recompondo-se:
- ‘’Pensei que o senhor fosse um psicanalista.’’
 – Correto. Eu sou’’.
- Mas a Solange não me explicou seus métodos.’’
- ‘’A senhora disse Solange? Mil perdões, eu havia entendido Fernanda.’’
Abriu a cortina, que estava fechada, apanhou um bloco de papel, caneta e começou a fazer perguntas.


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