Roberta era mulher atormentada: passara dos 40 e apesar de
razoavelmente bonita e bem feita de corpo – seu forte eram as coxas torneadas –
não conseguia arranjar namorado. Ou melhor, não é que não conseguia, o problema
era conservá-los por muito tempo. Chegou a ir ao dentista, podia ser problema
de mau hálito, o que afasta qualquer mortal. Não era! Afora uma cárie, ainda
superficial, seus dentes eram perfeitos e suas gengivas não apresentavam
qualquer anomalia. Sabia conversar, estava por dentro de todos os assuntos da
moda, menos política, que era coisa de uns poucos, metidos a besta. Sabia que
estava em idade difícil, velha para os jovens e não se dispunha – ainda – a se
lançar nos braços de velho babão, que só funcionava na base de ‘’comprimido azul’’. Mas o tempo ia
passando e ela, ali, fim-de-semana em casa, ou em barzinho, com grupo de
mulheres, não amadas como ela. Até a Ana Lucia, baixinha, pouco cabelo,
arranjara namorado, estava de casamento marcado e ela, empacada. Resolveu se
abrir com uma amiga, a Solange, que depois de muito batalhar, conheceu
Guilherme e já moravam juntos, há mais de um ano. Não era grande coisa – o
Guilherme -, mas melhor do que ficar vendo filme velho, sábado à noite. Solange
foi definitiva: - ‘’Você é complicada,
Roberta. Esse negócio de muito papo, ficar no beijinho, homem não quer saber.
Não digo que você tem que transar logo no primeiro dia, mas, depois do terceiro
encontro, tem que ir para os ‘’finalmente’’. Lembra o Ricardo, aquele coroa que
lhe apresentei? Veio reclamar comigo que você estava se fazendo de difícil e
que ia botar a fila pra andar, porque a oferta era maior do que a procura. Quer
um conselho? Você precisa fazer terapia, romper essas barreiras. Se você
quiser, te indico um, ótimo psicanalista e não cobra caro.’’
Sobriamente vestida, quase sem pintura, sapato baixo, tudo
para não aparentar perua, entrou cautelosamente no edifício, onde se situava o
consultório do Dr. Edgar, o psicanalista que Solange lhe recomendara. Quando
tocou a campainha, a porta foi aberta por homem bonito, 1.90, por volta de 50
anos, que lhe estendeu largo sorriso: - ‘’Já
a esperava. Entre naquela sala, coloque-se à vontade e deite no divã, que eu já
volto.’’ Roberta se impressionou com a sala de atendimento, finamente
decorada, e, no canto, perto da janela, um enorme divã, em camurça
verde-petróleo, com uma poltrona de espaldar alto, ao lado. De algum lugar
vinha suave música, própria para relaxar. Ela tirou os sapatos, afrouxou o cinto
do vestido, que lhe apertava a cintura, deitou-se no divã, fechou os olhos e
deixou seus pensamentos viajarem, sem destino. De repente, ela sentiu um corpo
deitar a seu lado, beijar-lhe o rosto e passar as mãos sobre suas coxas. Ela as
segurou, afastando-as, pulou do sofá, recompondo-se:
- ‘’Pensei que o senhor
fosse um psicanalista.’’
– Correto. Eu sou’’.
- Mas a Solange não me
explicou seus métodos.’’
- ‘’A senhora disse
Solange? Mil perdões, eu havia entendido Fernanda.’’
Abriu a cortina, que estava fechada, apanhou um bloco de
papel, caneta e começou a fazer perguntas.
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