quarta-feira, 13 de julho de 2016

A história de Sabrina


Esta quem me contou foi a moça que trabalha como, digamos, ‘’recepcionista’’, no estabelecimento comercial, aqui, ao lado, onde, em letras discretas, lê-se ‘’clínica de massoterapia’’. Advogo para o proprietário da casa e minha obrigação é mantê-la funcionando e atender as “atendentes”, em seus problemas pessoais, via de regra, ligados a direito de família. Não vem com esse sorriso irônico, pois, como se diz ‘’onde se ganha o pão, não se come a carne’’, apesar de achar esse ditado meio babaca, porque nada como carne no pão, mas esta é outra historia, porque quero mesmo é contar a historia de Sabrina e é claro que esse é seu ‘’nome social’’. Falsa loura, olhos verdes (será lente de contato?), pernas e coxas estonteantes, 27 anos, declarados, um filho de 05... e casada, desde os 22, quando engravidou. Completara o 2º grau e seu sonho era estudar biologia marítima. Esqueci de dizer que nascera e vivera, até os 20 anos, em Ilhéus, quando, com os pais, veio para São Paulo. Há cerca de 02 anos, o marido, que era almoxarife, foi despedido e a corda começou a apertar, aluguel atrasado, condomínio nem pensar e até o leite da criança racionado. O marido, cansado de procurar emprego, passava as manhãs com Ana Maria Braga e às tardes com a sessão idem. Ela, Sabrina, guiada por amiga, um dia chegou aqui ao lado. Foi aprovada na seleção. Dissera ao marido que arranjara emprego de recepcionista e a carteira profissional provava isto. O problema é que, registrada com salário mínimo, nunca chegava em casa com  menos de 500 reais. Aluguel em dia, condomínio em dia, geladeira cheia, inclusive com a cerveja preferida dele. Até que uma noite ela comunicou que comprara um carro, nada de luxo, um ‘’Palio’’ usado. Isto foi numa segunda, depois de ela ter passado o fim-de-semana fora, trabalhando, segundo ela, em convenção de executivos da área de informática. Ele, calado, escutou a historia, meio desconfiado, mas, alegre com o carro, calado ficou. Um mês depois, ele ainda desempregado, ela chega com prospectos de um prédio de apartamentos, em final de construção. Coisa simples, 02 dormitórios, 60m², mas com área de lazer, boa para o filhinho brincar. Apertando o cinto, dava para encarar a prestação do financiamento. O dinheiro para a entrada, ela tinha economizado. Com a pulga atrás da orelha, ele a seguiu, no outro dia. Por que ela nunca dissera onde trabalhava? Depois que ela passou pela porta de vidro, ele perguntou ao manobrista que empresa era aquela... e ouviu a resposta que já sabia. Voltou para casa, cabeça a mil: matá-la?; matar-se? O dia arrastou-se e ele, mais calmo, pensou no carro, no apartamento novo, na geladeira cheia. Ela chegou, como de hábito, por volta das 11 da noite, trazendo uma pizza, rescendendo a mussarela, que comprara, na esquina. Já no terceiro pedaço, ele perguntou: ‘’você sente prazer no que faz?’’ Ao que ela respondeu: ‘’é claro que não, é apenas negócio, prazer só com você.’’

 Agora, todos os dias, por volta das 13 horas, um Palio deixa Sabrina, aqui, ao lado e a busca, por volta das 22 horas. Ele ao volante. 

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