Esta quem me contou foi a moça que trabalha como, digamos, ‘’recepcionista’’, no estabelecimento
comercial, aqui, ao lado, onde, em letras discretas, lê-se ‘’clínica de massoterapia’’. Advogo para
o proprietário da casa e minha obrigação é mantê-la funcionando e atender as “atendentes”, em seus problemas pessoais,
via de regra, ligados a direito de família. Não vem com esse sorriso irônico,
pois, como se diz ‘’onde se ganha o pão,
não se come a carne’’, apesar de achar esse ditado meio babaca, porque nada
como carne no pão, mas esta é outra historia, porque quero mesmo é contar a
historia de Sabrina e é claro que esse é seu ‘’nome social’’. Falsa loura, olhos verdes (será lente de contato?),
pernas e coxas estonteantes, 27 anos, declarados, um filho de 05... e casada,
desde os 22, quando engravidou. Completara o 2º grau e seu sonho era estudar
biologia marítima. Esqueci de dizer que nascera e vivera, até os 20 anos, em Ilhéus,
quando, com os pais, veio para São Paulo. Há cerca de 02 anos, o marido, que
era almoxarife, foi despedido e a corda começou a apertar, aluguel atrasado,
condomínio nem pensar e até o leite da criança racionado. O marido, cansado de
procurar emprego, passava as manhãs com Ana Maria Braga e às tardes com a
sessão idem. Ela, Sabrina, guiada por amiga, um dia chegou aqui ao lado. Foi
aprovada na seleção. Dissera ao marido que arranjara emprego de recepcionista e
a carteira profissional provava isto. O problema é que, registrada com salário
mínimo, nunca chegava em casa com menos
de 500 reais. Aluguel em dia, condomínio em dia, geladeira cheia, inclusive com
a cerveja preferida dele. Até que uma noite ela comunicou que comprara um carro,
nada de luxo, um ‘’Palio’’ usado. Isto foi numa segunda, depois de ela ter
passado o fim-de-semana fora, trabalhando, segundo ela, em convenção de
executivos da área de informática. Ele, calado, escutou a historia, meio
desconfiado, mas, alegre com o carro, calado ficou. Um mês depois, ele ainda
desempregado, ela chega com prospectos de um prédio de apartamentos, em final
de construção. Coisa simples, 02 dormitórios, 60m², mas com área de lazer, boa
para o filhinho brincar. Apertando o cinto, dava para encarar a prestação do financiamento.
O dinheiro para a entrada, ela tinha economizado. Com a pulga atrás da orelha,
ele a seguiu, no outro dia. Por que ela nunca dissera onde trabalhava? Depois
que ela passou pela porta de vidro, ele perguntou ao manobrista que empresa era
aquela... e ouviu a resposta que já sabia. Voltou para casa, cabeça a mil:
matá-la?; matar-se? O dia arrastou-se e ele, mais calmo, pensou no carro, no
apartamento novo, na geladeira cheia. Ela chegou, como de hábito, por volta das
11 da noite, trazendo uma pizza, rescendendo a mussarela, que comprara, na
esquina. Já no terceiro pedaço, ele perguntou: ‘’você sente prazer no que faz?’’ Ao que ela respondeu: ‘’é claro que não, é apenas negócio, prazer
só com você.’’
Agora, todos os dias,
por volta das 13 horas, um Palio deixa Sabrina, aqui, ao lado e a busca, por
volta das 22 horas. Ele ao volante.
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