terça-feira, 5 de julho de 2016

Comentário sobre livros, especialmente sobre “a Ditadura Acabada”



Conversando, via e-mail, com amiga querida (que, na longínqua juventude foi muito mais que amiga), disse-me ela se sentir perplexa ao constatar que, dos romancistas contemporâneos, desconhece a todos. Outro dia, meu irmão, lá do sul da Bahia, que mantém comigo uma relação de ‘’bate e assopra’’, desancou-me, porque, na mesma linha de minha amiga, eu dissera que desconhecia qualquer autor brasileiro atual, que valesse a pena. Citou ele dois: João Ubaldo, que não é tão contemporâneo assim e um outro, Mario Ribeiro que, para mim, é apenas nome de Rua, no Guarujá. Como já disse e redisse, tenho ancestral hábito de percorrer livrarias, em busca de novidades. Acabei de ler o livro sobre a derrocada do ex presidente Fernando Collor de Mello, do competente historiador, Marco Antonio Villa e o último de Elio Gaspari, ‘’A Ditadura Acabada’’. Gaspari é sempre preciso, identificando suas fontes e revelando fatos, desconhecidos por mim, apesar de ter vivido aquele período de nossa historia e ter percorrido dezenas de livros, à esquerda e à direita, sobre o tema. Apesar de Gaspari colocar-se mais à esquerda, o livro é imperdível para quem gosta do tema, até porque completa a série sobre os governos militares. O livro, especialmente para quem viveu aqueles dias, derruba a falaciosa tese de que a redemocratização do País foi conquista do povo, especialmente, a partir do movimento ‘’diretas, já’’. Na verdade, o processo de redemocratização começara, ainda no Governo Geisel, com a anistia e a extinção do AI-5. Tancredo teve, como principal cabo eleitoral, o General Leônidas Pires Gonçalves, egresso do ‘’núcleo de informações’’ e que aproximou o político mineiro dos Presidentes Geisel e Figueiredo. Na Convenção do PDS, Andreazza era candidato do Planalto, mas não o era do ‘’Sistema Militar’’ e o Presidente Figueiredo, naquela altura, simpatizante da candidatura Tancredo, nada fez para ajudá-lo, batido por Paulo Maluf, esse hostilizado pelo Planalto e pelo sistema militar e, assim, facilmente derrotado no Colégio Eleitoral. Com a morte de Tancredo, assumiu Sarney, cria da Revolução, como o foram, na sequencia, Collor e Itamar. Fernando Henrique, um ‘’auto-exilado’’, fez dois governos dentro dos princípios que guiaram o regime militar, princípios esses que foram rompidos com o lulopetismo e contra os quais, como no pré-64, o povo veio às ruas, desemborcando no impeachment de Dilma. Em 64, as Forças Armadas, galvanizando o anseio popular, demitiram o governo Jango, que não tinha marcas de corrupção, mas que pretendia transformar o Brasil numa ‘’República Sindical’’. Hoje, a população, mais politizada, mas embuída do mesmo espírito de ontem, repudia a corrupção e a má gestão da coisa pública, estas, sim, marcas, ou melhor, manchas do lulopetismo, que todos queremos apagar. Assim, as ‘’obras completas’’ de Elio Gaspari, sobre duas décadas (1964-1984) da história do Brasil, constituem leitura obrigatória para que, sem ter vivido aquele período, quer entender, com clareza, os dias atuais, e, também, para nós, que lá estivemos e, com juízo crítico mais apurado, melhor podemos avaliar a importância do trabalho desse importante jornalista. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário