sexta-feira, 22 de julho de 2016

Por falar em loucura

Acho que já passou pela cabeça de todo mundo a possibilidade de ficar doido, não doido normal, porque isto todos nós somos, com maior ou menor intensidade. Quem já não perdeu o controle de si, em circunstancias especificas – no transito, em discussões, no trabalho e em casa -, quando fazemos ou dizemos coisas impensadas? O ser humano, principalmente o que vive em cidades neuróticas, como São Paulo, está sempre em estado de violenta emoção. Também não falo do doido ocasional, aquele cuja demência pontual não compromete seu convívio em sociedade. Eu, por exemplo, tenho o habito de falar sozinho, trocar ideias comigo mesmo, além de conversar muito com meus cachorros, que me ouvem atentamente. Às vezes, dou uma pausa, para estabelecer o dialogo com eles, o que nunca aconteceu. Provavelmente julgam minhas ideias superficiais ou inadequadas e preferem ficar em silencio. Confesso, para minha decepção, que ainda não identifiquei tema que lhes interessasse. Mas voltando a falar de “doido varrido”, aquele que, tendo perdido a consciência de si mesmo, vive em mundo imaginário, que tipo de lunático o amigo gostaria de ser? Ao longo da vida, já deparei com alguns, entre cômicos e dramáticos. Da minha infância extraio um que, de cima da ponte, atirava pedras no rio e dava gargalhadas, quando acertava alvo – seria peixe? – que só ele via. E havia outro que, sentado na calçada, chorava copiosamente, sempre que olhava para um amarelado retrato, tirado do bolso. Nos dias atuais, dois malucos chamam-me a atenção: um, que, microfone na mão, canta e dança, na praça, defronte ao fórum João Mendes, imaginando-se, por certo, em palco de teatro, aplaudido por extasiado público. O outro é um, ainda jovem que tranquilamente sentado em um dos bancos do Parque da Aclimação, comunica-se, através de ancestral celular, com personagens nacionais e internacionais, de Dilma a Obama, dando-lhes conselhos ou cobrando-lhes soluções. Fico a matutar: se definitivamente doido ficasse, de que espécie preferiria ser? Quando eu era criança – contava minha mãe -, passava longo tempo, debaixo do chuveiro, irradiando imagináveis partidas de futebol, sempre do Botafogo massacrando seus adversários. Acho que aí está minha vocação de doido: nas escadarias do Municipal, voz empostada e tome gol do Botafogo. Se me virem assim, por favor, não me interrompam, posso estar narrando momento crucial do jogo.

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