Acho que já passou pela cabeça de todo mundo a possibilidade
de ficar doido, não doido normal, porque isto todos nós somos, com maior ou
menor intensidade. Quem já não perdeu o controle de si, em circunstancias
especificas – no transito, em discussões, no trabalho e em casa -, quando
fazemos ou dizemos coisas impensadas? O ser humano, principalmente o que vive
em cidades neuróticas, como São Paulo, está sempre em estado de violenta
emoção. Também não falo do doido ocasional, aquele cuja demência pontual não compromete
seu convívio em sociedade. Eu, por exemplo, tenho o habito de falar sozinho,
trocar ideias comigo mesmo, além de conversar muito com meus cachorros, que me
ouvem atentamente. Às vezes, dou uma pausa, para estabelecer o dialogo com
eles, o que nunca aconteceu. Provavelmente julgam minhas ideias superficiais ou
inadequadas e preferem ficar em silencio. Confesso, para minha decepção, que
ainda não identifiquei tema que lhes interessasse. Mas voltando a falar de “doido varrido”, aquele que, tendo
perdido a consciência de si mesmo, vive em mundo imaginário, que tipo de lunático
o amigo gostaria de ser? Ao longo da vida, já deparei com alguns, entre cômicos
e dramáticos. Da minha infância extraio um que, de cima da ponte, atirava
pedras no rio e dava gargalhadas, quando acertava alvo – seria peixe? – que só
ele via. E havia outro que, sentado na calçada, chorava copiosamente, sempre
que olhava para um amarelado retrato, tirado do bolso. Nos dias atuais, dois
malucos chamam-me a atenção: um, que, microfone na mão, canta e dança, na praça,
defronte ao fórum João Mendes, imaginando-se, por certo, em palco de teatro, aplaudido
por extasiado público. O outro é um, ainda jovem que tranquilamente sentado em
um dos bancos do Parque da Aclimação, comunica-se, através de ancestral
celular, com personagens nacionais e internacionais, de Dilma a Obama,
dando-lhes conselhos ou cobrando-lhes soluções. Fico a matutar: se
definitivamente doido ficasse, de que espécie preferiria ser? Quando eu era
criança – contava minha mãe -, passava longo tempo, debaixo do chuveiro,
irradiando imagináveis partidas de futebol, sempre do Botafogo massacrando seus
adversários. Acho que aí está minha vocação de doido: nas escadarias do
Municipal, voz empostada e tome gol do Botafogo. Se me virem assim, por favor, não
me interrompam, posso estar narrando momento crucial do jogo.
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