sexta-feira, 29 de julho de 2016

Porque é tempo de informática

Toca o interfone, é da portaria do prédio, avisando-me que está lá um portador, trazendo encomenda de grande porte, para mim. Considerando não ser época de natal e que não me recordo ter feito encomenda alguma, autorizei a subida do portador, mas sem a encomenda.
- “De que se trata?”, perguntei ao rapaz, fardado de azul, tão logo adentrou à sala de espera.
- “Vim trazer a televisão que o senhor comprou pela internet. Pode fazer o cheque de 15 mil reais nominal à empresa”, e estendeu-me a nota fiscal.
Conferi o nome – era o meu – e o endereço, idem, só que eu não tinha comprado televisão alguma, ainda mais por 15 mil reais, coisa de milionário distraído. E, pela internet, jamais! Primeiro, gosto de ver o que compro e, depois, não confio nestas modernidades. Outro dia, indo viajar, fiz o “check in” pela internet. Tinha certeza que não ia embarcar. Embarquei, mas não vou abusar da sorte. De qualquer maneira, aquela compra eu não fizera e deixei isto claro ao rapaz que, estático, esperava o cheque e a autorização para subir a TV. Com lógica ilógica, retrucava:
- “O nome não é do senhor e então?”
- “O nome é o meu, o endereço é o meu, mas reafirmo que não comprei nada, por isso o senhor pode levar a mercadoria de volta. Afinal, quem mandou o senhor trazer a TV?”
- “Quem mandou, não sei. Trabalho numa firma de entrega de mercadorias e recebi ordem de deixar ela aqui e levar o cheque.”
- “Com certeza, está havendo algum engano. Acho melhor você telefonar para sua empresa.”
O rapaz ligou o celular, balbuciou algumas palavras e depois desligou, voltando a falar:
- “Disseram que é aqui mesmo. É só o senhor assinar o canhoto da nota e me entregar o cheque. Vou lá embaixo, buscar a televisão” – e saiu, sem me dar tempo de começar tudo de novo. Liguei para a portaria, dei ordem para não deixar, nem o rapaz, nem a TV subirem e pedi a minha secretária que levasse até ele a nota fiscal. O jovem escafedera-se e, na portaria, restava uma TV, que não comprara, não pagara e uma nota fiscal, dizendo que ela era minha. Ligo para a empresa, cujo nome consta do impresso da nota fiscal e depois de ser transferido de ramal em ramal, por uma gravação monocórdica, repetindo “sua ligação é muito importante para nós”, chego à seção de “reclamações”, onde, séculos depois, sou informado que “não há registro de entrega efetuada em nome do senhor.” Desligo o telefone e recosto na cadeira: tenho uma televisão, que não me foi entregue, acompanhada de uma nota fiscal que, apesar de conter meu nome, não me diz respeito. O que fazer, ou melhor, o que não fazer?

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