Toca o interfone, é da portaria do prédio, avisando-me que
está lá um portador, trazendo encomenda de grande porte, para mim. Considerando
não ser época de natal e que não me recordo ter feito encomenda alguma, autorizei
a subida do portador, mas sem a encomenda.
- “De que se trata?”, perguntei
ao rapaz, fardado de azul, tão logo adentrou à sala de espera.
- “Vim trazer a
televisão que o senhor comprou pela internet. Pode fazer o cheque de 15 mil
reais nominal à empresa”, e estendeu-me a nota fiscal.
Conferi o nome – era o meu – e o endereço, idem, só que eu não
tinha comprado televisão alguma, ainda mais por 15 mil reais, coisa de
milionário distraído. E, pela internet, jamais! Primeiro, gosto de ver o que
compro e, depois, não confio nestas modernidades. Outro dia, indo viajar, fiz o
“check in” pela internet. Tinha certeza
que não ia embarcar. Embarquei, mas não vou abusar da sorte. De qualquer
maneira, aquela compra eu não fizera e deixei isto claro ao rapaz que,
estático, esperava o cheque e a autorização para subir a TV. Com lógica ilógica,
retrucava:
- “O nome não é do
senhor e então?”
- “O nome é o meu, o
endereço é o meu, mas reafirmo que não comprei nada, por isso o senhor pode
levar a mercadoria de volta. Afinal, quem mandou o senhor trazer a TV?”
- “Quem mandou, não sei.
Trabalho numa firma de entrega de mercadorias e recebi ordem de deixar ela aqui
e levar o cheque.”
- “Com certeza, está
havendo algum engano. Acho melhor você telefonar para sua empresa.”
O rapaz ligou o celular, balbuciou algumas palavras e depois
desligou, voltando a falar:
- “Disseram que é aqui
mesmo. É só o senhor assinar o canhoto da nota e me entregar o cheque. Vou lá
embaixo, buscar a televisão” – e saiu, sem me dar tempo de começar tudo de
novo. Liguei para a portaria, dei ordem para não deixar, nem o rapaz, nem a TV
subirem e pedi a minha secretária que levasse até ele a nota fiscal. O jovem
escafedera-se e, na portaria, restava uma TV, que não comprara, não pagara e
uma nota fiscal, dizendo que ela era minha. Ligo para a empresa, cujo nome consta
do impresso da nota fiscal e depois de ser transferido de ramal em ramal, por
uma gravação monocórdica, repetindo “sua
ligação é muito importante para nós”, chego à seção de “reclamações”, onde, séculos depois, sou
informado que “não há registro de entrega
efetuada em nome do senhor.” Desligo o telefone e recosto na cadeira: tenho
uma televisão, que não me foi entregue, acompanhada de uma nota fiscal que,
apesar de conter meu nome, não me diz respeito. O que fazer, ou melhor, o que não
fazer?
Nenhum comentário:
Postar um comentário