Sentado, naquele banco, no calçadão, Luiz Claudio contemplava
a paisagem, sem se fixar em ponto determinado. Aqui, aproveitando os últimos de
sol, alguns rapazes jogam bola. Mais adiante, pessoas anônimas andavam à beira
mar. Cadeiras e barracas eram recolhidas, marcando o fim de mais um dia de
verão. Imagens voláteis que não conseguiam reter qualquer alegria. Ele sempre
fora animal do mar e do seu entorno. Nascera e fora criado na Farme de Amoedo e
seu mundo situava-se entre a subida da Niemeyer e a Pedra do Arpoador. Daquele
espaço sabia tudo e, fora dali, era um estrangeiro, desses que precisam de mapa
para se localizarem. Por culpa de parentes, vindos do interior, estivera uma ou
duas vezes, se tanto, no Cristo Redentor e no Corcovado. Foi ali, bem defronte
ao ‘’Sol Ipanema’’, que conhecera
Maria Clara. Ela saía do mar, gotas de água enfeitando seus quase nenhuns pelos
dourados. Seus olhos embarraram-se para sempre, como se se amassem desde
encarnações passadas. Nunca uma briga, por mais leve que fosse e aquele balé
mágico de corpos, quase todo dia. Quando ela foi fazer estágio em São Paulo,
dois dias depois, ele, sufocado de saudade, embarcou na ponte-aérea e a trouxe
de volta. Ela foi despedida. Melhor para ambos. Podiam passar mais tempo
juntos. Não tinham amigos, nem precisavam deles. Bastavam-se a si mesmos, sem
espaços para mais ninguém. Um dia, ela perguntou: - ‘’Vamos ter um filho?’’ E ele, sem precisar refletir disse: ‘’Não, não quero dividir você com uma criança
que, primeiro, vai deformar seu corpo e, depois, vai lhe exigir, fisicamente,
tirando o que me pertence.’’ Ela riu, ele riu e se lembrava de que se
atiravam, ali mesmo, no sofá da sala e se amaram com o ardor de sempre. Naquele
dia, tinham ido à praia, andaram, mergulharam nas ondas e se beijaram
longamente, como no dia em que saíram pela primeira vez. De volta para casa,
ainda no elevador, ela sugou-lhe o membro, até a última gota, e, depois,
amaram-se no chão da sala. Enquanto ela tomava banho, ele desceu pra comprar
comida. Quando voltou, sentiu um aperto no coração, estranha, mas concreta
sensação que algo se desfocara. Entrou no apartamento, coração acelerado,
pernas bambas. No quarto, as coxas de Maria Clara, só de calcinha, pendiam da
cama. De seu braço esquerdo escorria um rio de sangue. Ao lado, um bilhete,
poucas palavras, escritas naquela letra bordada: ‘’amor, tive medo que este sonho acabasse e resolvi ir embora.’’
Luiz Claudio, como se estivesse anestesiado, limpou o sangue, ajeitou o corpo
inerte de Maria Clara, no lugar da cama que era dela e, ali, naquele banco do
calçadão, com a visão opaca, pensava o que fazer da vida.
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