Parece que agora sai a famigerada reforma ortográfica, que
unificará o idioma, em todos os países de língua portuguesa (Brasil, Portugal,
Moçambique, Cabo Verde). A novela da unificação do idioma arrasta-se desde o
começo dos anos 90, resultado de trabalho realizado por filólogos dos países
interessados. Confesso que, a não ser em pontos esparsos, desconheço tal
trabalho e, não só desconheço, mas também não tenho qualquer interesse em
fazê-lo. E mais, continuarei a escrever, seguindo as regras atuais, sem me
preocupar com a acentuação acrescida ou suprimida. Aliás, durante cerca de 10
anos que lecionei Português, não dava relevância aos erros cometidos pela
ausência ou presença indevida dos acentos. Os chamados ‘’diferenciais’’, então, são de total imbecilidade. Dizia-se, por exemplo,
que para (do verbo ‘’parar’’) deveria
ser acentuado (pára), a fim de distingui-lo de para (preposição que indica
movimento). Ora, nem mesmo o mais energúmeno aluno é capaz de se confundir, no
uso de um e outro. Minha tesão sempre foram as virgulas que ditam o ritmo das
frases, principalmente nos períodos longos. E ritmo é tudo, é o ‘’molho’’ da frase, fazendo-a oscilar,
realçando a beleza da palavra ou expressão. Mas acento, pelo amor de Deus,
parece cicatriz. Como não conheço a extensão da reforma ortográfica, não sei se
também pretendem uniformizar o significado das palavras. Se for, aí a coisa
complica. Lembremos, por exemplo, que, em Portugal, ‘’fila’’ recebe o nome de
bicha. – ‘’Você já viu o tamanho da bicha
para entrar no cinema?’’, pergunta o namorado à namorada que, desconhecendo
a unificação, introduzida pela reforma, olhará para ele, de forma suspeita.
Também, em terras lusitanas, ‘’trolha’’
significa pedreiro, enquanto por aqui a tal palavra é, vulgarmente, utilizada
como sinônimo de ‘’grande problema’’.
Confuso, não? Temos todos, os de cá e os de além-mar, graves problemas, sem
solução. Portugal, que cabe dentro do Estado de São Paulo, ainda se salva, com
bons serviços públicos, mas o Brasil e a chamada ‘’África Portuguesa’’ ainda estão mergulhados em humilhante
terceiro-mundismo, para perderem tempo com essas inúteis reformas. Além do
mais, esse ‘’conselho de notáveis’’,
cuja idade media deve bater nos 90 anos, ainda não percebeu que a internet já
construiu um idioma novo, onde se fala por abreviaturas, sinais e neologismos,
ainda não registrados nos melhores dicionários.
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