sexta-feira, 21 de julho de 2017

Por conta de agradável almoço



Almoço com Delegado de Polícia, conhecido, quase amigo, de 10 anos ou mais, que já ocupou relevantes cargos, no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado e, atualmente, é Delegado Seccional tendo, sob sua jurisdição, 04 cidades, com universo de cerca de 02 milhões de habitantes. Uma das cidades apresenta o maior índice de criminalidade do Estado e, como se situa próximo à Capital, constitui a chamada “cidade dormitório”. A Seccional é integrada por 08 distritos policiais, instalados em minúsculas casas, sem espaço suficiente para abrigar, de modo conveniente, os funcionários, o que exige improvisações como colocação de divisórias, para multiplicarem as unidades de trabalho. O número de policiais é ínfimo, idem de viaturas, para atenderem tão extenso território e população, o que exige trabalho pra lá de redobrado de todos, com renuncia a qualquer conforto mínimo. A própria sala do Delegado Seccional não chega a ser metade da minha e sequer dispõe de banheiro privativo. Era a primeira vez que me encontrava com ele, desde que tomara posse naquela Seccional e fui recebido com o largo sorriso de sempre e incomum disposição. Em nenhum instante manifestou desagrado por condições tão adversas de trabalho. Com cerca de 30 anos ou mais de polícia e passando dos 60, já se acostumara com instalações precárias, equipamentos precários e carência de pessoal e, mesmo assim, sempre superou estas dificuldades, com muito trabalho e dedicação. Informou-me que pretendia mudar a sede da Seccional para imóvel mais adequado, cedido pela Prefeitura, mas a mudança estava emperrada, porque faltavam 150 mil reais para reformas imprescindíveis na nova casa, recurso que a Secretária de Segurança não tinha condições de disponibilizar. Sugeri-lhe que recorresse às empresas da Região – e eu mesmo dispus-me a ajudá-lo nesta missão -, mas ele afastou a ideia: não queria se tornar devedor de quem, amanhã, poderia investigar. Sai da Delegacia, nunca antes das 08 da noite, percorre ruas estranhas e até trecho de rodovia para chegar a sua residência. Corre o risco real de ser abordado, no trajeto, por marginais, que ele mandou prender. Faço este comentário e ele, sorrindo, responde: “são ossos do ofício”. Meu amigo Delegado é um herói? Claro que não! Pelo menos não se considera assim, pois este é o padrão do policial de nosso Estado, mal remunerado, sem estrutura para o trabalho e que, muita vez, não tem o reconhecimento da população. E que não venham dizer que há maus policiais, pois “maus” os há até no Vaticano. Na verdade, falta às Secretarias de Segurança, de todas as Unidades da Federação divulgar o trabalho do policial que, com armamento e  equipamentos inferiores aos dos marginais, ainda nos proporciona um mínimo de tranquilidade.
Ah, e meu amigo, Dejar Gomes Neto, Delegado Seccional de Carapicuíba, ainda pagou o almoço.

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