Almoço com Delegado de Polícia, conhecido, quase amigo, de 10
anos ou mais, que já ocupou relevantes cargos, no âmbito da Secretaria de
Segurança Pública do Estado e, atualmente, é Delegado Seccional tendo, sob sua jurisdição,
04 cidades, com universo de cerca de 02 milhões de habitantes. Uma das cidades
apresenta o maior índice de criminalidade do Estado e, como se situa próximo à
Capital, constitui a chamada “cidade
dormitório”. A Seccional é integrada por 08 distritos policiais, instalados
em minúsculas casas, sem espaço suficiente para abrigar, de modo conveniente,
os funcionários, o que exige improvisações como colocação de divisórias, para
multiplicarem as unidades de trabalho. O número de policiais é ínfimo, idem de
viaturas, para atenderem tão extenso território e população, o que exige
trabalho pra lá de redobrado de todos, com renuncia a qualquer conforto mínimo.
A própria sala do Delegado Seccional não chega a ser metade da minha e sequer
dispõe de banheiro privativo. Era a primeira vez que me encontrava com ele,
desde que tomara posse naquela Seccional e fui recebido com o largo sorriso de
sempre e incomum disposição. Em nenhum instante manifestou desagrado por
condições tão adversas de trabalho. Com cerca de 30 anos ou mais de polícia e
passando dos 60, já se acostumara com instalações precárias, equipamentos
precários e carência de pessoal e, mesmo assim, sempre superou estas
dificuldades, com muito trabalho e dedicação. Informou-me que pretendia mudar a
sede da Seccional para imóvel mais adequado, cedido pela Prefeitura, mas a
mudança estava emperrada, porque faltavam 150 mil reais para reformas
imprescindíveis na nova casa, recurso que a Secretária de Segurança não tinha
condições de disponibilizar. Sugeri-lhe que recorresse às empresas da Região –
e eu mesmo dispus-me a ajudá-lo nesta missão -, mas ele afastou a ideia: não
queria se tornar devedor de quem, amanhã, poderia investigar. Sai da Delegacia,
nunca antes das 08 da noite, percorre ruas estranhas e até trecho de rodovia
para chegar a sua residência. Corre o risco real de ser abordado, no trajeto,
por marginais, que ele mandou prender. Faço este comentário e ele, sorrindo,
responde: “são ossos do ofício”. Meu
amigo Delegado é um herói? Claro que não! Pelo menos não se considera assim,
pois este é o padrão do policial de nosso Estado, mal remunerado, sem estrutura
para o trabalho e que, muita vez, não tem o reconhecimento da população. E que
não venham dizer que há maus policiais, pois “maus” os há até no Vaticano. Na
verdade, falta às Secretarias de Segurança, de todas as Unidades da Federação
divulgar o trabalho do policial que, com armamento e equipamentos inferiores aos dos marginais,
ainda nos proporciona um mínimo de tranquilidade.
Ah, e meu amigo, Dejar Gomes Neto, Delegado Seccional de
Carapicuíba, ainda pagou o almoço.
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