terça-feira, 11 de julho de 2017

Por causa da política de quotas



Escrevo, para homenagear dois antigos amigos: Geraldo Pimentel (“Gela” para os íntimos) e Carlos Alberto Ladeira. “Gela” foi meu colega, no então chamado “curso ginasial”, lá na cidade do interior, de onde vim, e onde completou o curso científico. Em seguida, mudou-se para Belo Horizonte, fez vestibular para medicina, formou-se pela UFMG e, hoje, é importante médico ginecologista, na Capital mineira. “Gela” era negro, de família pobre, seu pai, modesto alfaiate. Carlos Alberto Ladeira, ou simplesmente “Ladeira” para os íntimos, foi meu colega no curso “clássico”. Ao final do mesmo, Ladeira fez vestibular para “Letras”, tendo se formado pela USP. Algum tempo depois, mudou-se para a Alemanha e, atualmente é Professor em importante Universidade, daquele País. Como “Gela”, Ladeira é negro e de família pobre: seu pai era mecânico de automóveis. Ambos, Gela e Ladeira, pelos seus méritos, superaram suas barreiras e se tornaram vencedores.
Narro os fatos acima, porque li, nos jornais de fim-de-semana, que a USP estabeleceu quotas, pelas quais, até 2020, 50% das vagas estarão reservadas para negros, pardos, indígenas e alunos egressos das escolas públicas. A instituição de quotas, a meu juízo, mais do que privilégio odioso e lesão ao principio constitucional da isonomia, como pensam alguns, constitui preconceito com aqueles estudantes, por considerá-los incapazes de, em igualdade de condições,  disputarem vagas, na USP, com brancos e alunos vindos do ensino particular. Cria-se assim, o “estudante de segunda categoria”, aquele que somente teve acesso à Universidade de São Paulo, não pelos seus méritos intelectuais, mas pelo favorecimento da política de quotas. Este é o Brasil, cada vez mais distante da possibilidade de sair do terceiro mundismo: por não se dar a mínima prioridade ao ensino fundamental, deixaram-no mediocrizar e, agora, para consertar a lacuna, fruto da incúria administrativa, institucionaliza-se essa nefasta reserva de mercado, absurdamente racista, porque parte do pressuposto que o branco é mais inteligente do que o negro e irresponsável, porque abre as portas da mais importante Universidade a alunos mal-preparados, porque vêm de uma escola pública desidiada pelo Estado.
Onde estiverem, mando meu fraterno abraço a Gela e Ladeira – e tantos outros que os haverá, por aí -, porque conquistaram seus espaços, pelos seus méritos, profissionais de primeira grandeza, que prescindiram do favorecimento do Governo para atingirem seus objetivos.

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