Recebo a visita de cliente, quase amigo de larga estrada,
biólogo de formação e empresário por opção, que ousa o ser em País, que tudo
faz para desestimular quem o queira. Seja pela sua formação profissional, seja
porque os leões cotidianos enfileiram-se, à porta de sua empresa para serem
abatidos, o certo é não ser ele afeito às coisas da poesia, forma literária que
eu mesmo imaginava sepulta, até que meu querido Marcelo Martins Pizzo,
exibiu-me um punhado delas, de amolecer corações, mesmo empedernidos. Confessa
que segue – ou é perseguido – pelo meu “blog”
e, no texto de ontem, falei em “Pasárgada”
e queria saber o que significava. Como estou naquela idade, em que a memória
remota aflora, com mais nitidez, repeti Manuel Bandeira: “vou-me embora pra Pasárgada, lá
sou amigo do rei, tenho a mulher que quero, na cama que escolherei...”
Busquei minha explicação: “Pasárgada”,
no imaginário do poeta, é o lugar ideal, sem credores ou devedores, sem
reclamações trabalhistas, sem ladrão, nem polícia, onde você pode se deitar na
praia, vendo o mar batendo suas ondas e, ao simples levantar do braço, alguém,
sem nome, nem rosto, lhe entrega cerveja gelada, enquanto, “a mulher que quero” faz um chamego, sem
segundas intenções. Ele me pergunta: “mas isto existe?”, ao que eu retruco: “em
algum momento de nossa vida, deve ter existido, mas que se esvaiu, antes que pudéssemos
guardá-lo na “algibeira da calça”,
para citar Fernando Pessoa, travestido
de “Álvaro de Campos”. Antes que ele
me indagasse sobre o poeta português que, sem querer, entrou na conversa, eu o
perguntei: “você nunca teve sua “Pasárgada”?” – “Agora me lembro e tenho muita saudade: até alguns anos atrás, tinha um
barco e, quando me batia o sufoco, eu o colocava no mar, procurava uma enseada,
jogava o anzol e zerava meu pensamento, só ouvindo o bater das ondas no casco
do barco, que balançava, suavemente.” Enquanto falava, ele contemplava o vazio,
com certeza, viajando no tempo e duas lágrimas tristes lhe caíram. Rapidamente,
ele se levantou, foi ao banheiro lavou o rosto e já voltou falando na ação que
pretendia propor. Deixou na pia suas fugidias recordações! Depois que saiu,
recostei-me no sofá, a buscar minha “Pasárgada”. Iniciava minha reflexão,
quando Jorge, meu fiel timoneiro, entrou na sala: “desculpe-me Doutor, mas estou lhe trazendo a relação das despesas do mês
de agosto”. Então, minha Pasárgada explodiu, convertendo-se em ruínas, como
a Pasárgada da antiga Pérsia.
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