quarta-feira, 12 de julho de 2017

De volta a realidade



Lá estava ele, naquela esplendorosa manhã de sábado, sentado no banco de sempre, com “Petrus”, deitado a seus pés. Ao contrário do sábado anterior, recebeu-me com largo sorriso e me abraçou, como se abraça amigo, que não se vê, de larga data. Fui direto ao ponto: - “pela sua alegria, vejo que seu  romance lhe trouxe grandes prazeres! Conte-me tudo, menos, é claro, os detalhes íntimos.” “Aceitei sua sugestão, fui ao médico, que me liberou a “azulzinha”, desde que eu a usasse apenas uma vez por semana, o que já estava pra lá de bom. Marquei com a fulana, fomos jantar em um restaurante, especializado em frutos do mar, lá no Itaim, bebemos vinho, enfim, criei um clima para o que viria depois. Ao invés de irmos ao apartamento dela, optamos por um motel, cheio das insinuações, cama redonda, luzes que mudavam de cor, música ambiente, televisão com filmes eróticos, enfim toda a parafernália necessária para motivar o casal. Enquanto ela foi ao banheiro, tomei a azulzinha. Era só esperar fazer efeito! Ela voltou, já em trajes mínimos e começamos a batalha, ou melhor, eu comecei, porque ela permanecia estática, como se tudo a desagradasse. Tudo bem, sei que estou velho, talvez não conheça os “novos passos” da dança sexual, mas sempre fui bom em preliminares. De repente, ela deu um pulo da cama, correu para o banheiro e começou a vomitar e outras coisas menos nobres. Voltou pálida, suando frio, dizendo que o camarão do jantar, pelo qual paguei uma nota preta, caíra-lhe mal, que precisava de um tempo. Só que tempo era exatamente o que eu não tinha, uma vez que a situação constrangedora, provocada pelo vômito e pela diarreia (cujos ruídos davam para escutar do quarto) e a espera, que tudo se normalizasse, fizeram com que o efeito do azulzinho se dissipasse. Dormimos um pouco e eu sugeri levá-la para casa, onde poderia se medicar. Toda essa confusão foi para mim um sinal de que eu deveria esquecer paixão, sexo, coisas que já vivi, foram ótimas, mas passaram. Ontem, fui jantar com ela, dei desculpas esfarrapadas e disse que, se ela precisasse de alguma coisa, eu estava às ordens, mas que era melhor nós não mais nos encontrarmos. Acho, até, que ela ficou aliviada. Como me disse você, melhor são meus filmes antigos.”
- Despedimo-nos, ele, mais lépido, levando seu cachorro e eu, não sei bem porque, cantarolando uma música, pra lá de antiga: “podemos ser amigos, simplesmente, coisas do amor, nunca mais!”
Coisa complicada que é administrar a velhice sô!

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