Ao olhar a agenda do dia, surpreendi-me com o fato de ontem
ter sido São João. Nenhum balão iluminou, qual estrela cadente, o céu, que,
também, não viu o riscar dos fogos de artifício. Do Santo, alguns apenas se
lembram de ter sido quem batizou Cristo e que foi concebido na velhice de
Izabel, como graça de Deus. E da festa? Tem-se notícia – vaga notícia – ser o ‘’São João’’ uma das maiores festas do
nordeste. Mas a mim, a data remete-me à infância, absurdamente distante. A
fogueira era montada, lenha a lenha, com dias de antecedência. Aos olhos de eu
menino – que teimo em conservar – atingia a uns 10 metros de altura. A
excitação tirava-me o sono de véspera e o grande dia transcorria agitado,
preparando os doces e a comida. Mal escurecia e lá íamos nós para o ritual de
acender a fogueira: ver a madeira estalar e, lentamente, ser lambida pelo fogo.
Às crianças eram distribuídos ‘’fósforos
de cor’’ e ‘’espanta coió’’, uma
fita de pólvora que, em se passando pela parede, produzia um barulho seco e
escurecia os dedos. E havia também o ‘’traque’’
que atirávamos uns aos outros, ou os acendíamos em circulo, formando uma ‘’ciranda’’. Comíamos ‘’batata doce’’, ‘’pé de moleque’’, ‘’lombo de
porco’’, até que o inicio da madrugada nos levasse, cansados, para a cama.
Lembro-me de meu pai – ele também João -, sentado à distancia, apreciando nossa
alegria. Sem euforia, mas, tenho certeza, com o coração transbordado, por saber
que tinha nos proporcionado viver um sonho, que jamais irá se apagar de minha
retina cansada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário