segunda-feira, 29 de junho de 2015

O amargo retorno



Aquele seria um dia especial na vida de Alex. Iria, finalmente, depois de quase um ano de negociações, assinar o contrato que tornaria sua empresa fornecedora exclusiva para o nordeste, de toda a linha de produção. O contrato seria celebrado às 16 horas, em Recife, mas, por precaução, sairia, de Congonhas no vôo das 8 horas. A ansiedade não o permitira dormir, na véspera. E não era para menos: além da boa comissão, que iria receber, seria promovido a Diretor Adjunto o que representava ‘’status’’, dentro da empresa, aumento de salário e, até, cartão de crédito coorporativo. Poderia trocar o carro de Simone, sua companheira, 20 anos mais jovem e sair do aluguel. Fazia tempo que ambos namoravam um prédio, que estava sendo construído nas Perdizes, bem perto da PUC, onde estudara. Já com 50 anos, Alex voltava, de quando em vez, os olhos para o passado, ali, na Monte Alegre e adjacências, onde sonhava, um dia, morar, deixando para trás o Cambuci, com seu ar de periferia. Agora, com o novo contrato, o sonho poderia virar realidade. Este e outros devaneios perseguiram Alex pela madrugada afora, entrecortando-lhe o sono. Quando os primeiros sinais anunciaram o dia, ele se levantou para se arrumar. Não queria correr o mínimo risco de perder o vôo. Vestiu-se com esmero e, ao sair, deu um beijo em Simone que, dormindo, virou-se na cama, deixando escorregar o lençol. Como tinha o hábito de dormir só de calcinha, Alex fixou-se na rigidez do seio, à mostra, no perfeito relevo da bunda e das coxas torneadas. Conhecera-a, 5 anos antes, em um barzinho da Vila Madalena, ele já separado de Maria Claudia. Ela era cabeleireira, família e vida modestas. Rolou um papo, 3 meses saindo e depois ela foi morar com ele, naquele ancestral prédio do Cambuci. Simone era um vulcão, na cama e só isto já era suficiente para Alex se deixar dominar. É verdade que algumas coisas desagradavam Alex, como seu habito de chegar em casa em horário desencontrados. ‘’Vida de cabeleireira, meu caro’’, justificava ela. Um dia chegou uma multa de carro – o dela – do Campo Belo e ele, com muito cuidado, questionou ‘’nós moramos no Cambuci, você trabalha na Mooca, no lado oposto ao Campo Belo, como é que pode?’’ –‘’Ah, não Alex, sem esta de interrogatório. Esquece que eu também atendo a domicilio? Vou, onde me pagam’’. Alex até se envergonhou, mas, na verdade, era inseguro, a diferença de idade, a beleza de Simone. Parado, ali, ao pé da cama, contemplando aquele corpo, teve vontade de percorrê-lo com os lábios, mas... tinha o aeroporto, a viagem, o contrato. Quando voltasse, tiraria uma semana de folga e iriam para Trancoso, cujas fotos excitaram Simone. No aeroporto, surpresa desagradável o aguardava: os operadores de vôo tinham entrado em greve, por melhores condições de trabalho e os aviões restavam, inertes, na pista. A confusão era geral e ninguém dava informação precisa. Lá pelas 10 horas, a companhia comunicou que todos os vôos do dia estavam cancelados e transferidos para o mesmo horário do dia seguinte, já que a greve, apenas de advertência, era de 24 horas. Alex ligou para Recife, remarcou a assinatura do contrato para o outro dia, comunicou à empresa o acontecido, que passaria em casa para deixar a mala e pegar o carro – viera de taxi – e depois iria para lá. Alex demorou quase uma hora, na fila de taxi e, quando saiu de Congonhas, já passava do meio dia. Ao entrar no apartamento, ouviu vozes, vindo do quarto e observou bolsa e casaco atirados sobre o sofá que, por certo, não pertenciam a Simone. –‘’Talvez ela esteja de bate-papo com uma amiga...’’, pensou ele. Ao se dirigir ao quarto, cuja porta estava aberta, Alex viu uma cena que o paralisou: Simone e uma loura de seios fartos, ambas totalmente nuas, beijavam-se e entrelaçavam seus corpos, em um verdadeiro balé sexual. Ao vê-lo, Simone cobriu-se, a si e à parceira, com o lençol. Alguns segundos se passaram, todos, em sepulcral silencio. Saindo de seu estado de torpor, Alex, lágrimas escorrendo pelo rosto, dirigiu-se até a cômoda, defronte à cama, abriu a gaveta, retirou um revólver e, antes que Simone pudesse esboçar mínima reação, colocou o cano da arma dentro da boca e apertou o gatilho. Sangue e miolos tingiram o lençol que cobria Simone e sua companheira.

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