quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Eu, meu cachorro e o Impeachment




Eu juro que não queria, mas a tentação é mais forte. Apressei o final de reunião na cidade e, quebrando hábito, fui almoçar em casa. Não pelo almoço, que, por sinal, estava ótimo, mas porque queria, sem desassossego, assistir ao ultimo capítulo da novela ‘’tchau, querida!’’ Como sempre, convoquei a companhia de Rodolfo, meu pastor alemão, companheiro constante em jornadas desta natureza. Dentre os oito cachorros, que tenho, é o único politizado. Olavo, ainda é muito jovem para espetáculos fortes. Nara não se interessa senão por assuntos de segurança e os demais, em avançada idade, preferem falar sobre os último lançamentos da medicina veterinária. E, quanto ao Clovis, impossível contar com ele. Anarquista revolucionário, leitor adepto de Bakunin, não me deixaria em paz. Porisso, sobrou Rodolfo que, com inequívoca má-vontade, postou-se a meu lado. Peguei o espetáculo pela metade, mas a tempo de ouvir senador paulista, de colorida plumagem, afirmar, até dando exemplo, que ‘’com’’ era conjunção. Rodolfo empinou as orelhas, olhando-me com olhar de dúvida. Confirmei-lhe que ‘’com’’ era preposição, a da ideia de companhia, dei-lhe exemplo – iremos ao parque com Olavo - , mas seu semblante de dúvida permaneceu. Afinal, o que é apagado escriba diante de um Senador... e paulista... e do PSDB? Para dissipar suas dúvidas, mostrei-lhe o ‘’Aurélio’’ e robusto livro de gramática. Mas os escorregões vernaculares não pararam por aí. Um Senador capixaba, ligado a uma igreja neo-pentecostal, soltou uma ‘’esgarcação’’, em lugar de esgarçamento. Rodolfo tapou os ouvidos com as patas. Repreendio-o: precisava ser benevolente, o senador é orador eloquente e, em estado de violenta emoção, é normal perder-se no uso de palavras mais rebuscadas. Rodolfo ergueu-se sobre as patas, quando o jovem senador do PT chamou seus pares de ‘’canalhas’’, mas esboçou sorriso, quando o senador goiano, que lembra os ‘’galãs’’ dos anos 70, ‘’matou a pau’’, apontando os verdadeiros canalhas. Rodolfo fez um gesto, com as patas dianteiras, dando-me a impressão que pretendia bater palmas. Finalmente, Rodolfo ficou com os olhos marejados, quando o senador do Acre pediu, pelo amor a Deus, que não suspendessem os direitos políticos da definitivamente afastada Presidente, vez que faltava apenas um ano para sua aposentadoria e, sem ela, no valor mensal de 05 mil reais, como iria a infeliz viver? Rodolfo olhou-me assustado, como a indagou se, em indo ela trabalhar na iniciativa privada, tal tempo de contribuição não teria validade. Fui logo respondendo que melhor fora perguntar ao Lewandowski, porque, quem consegue dividir, ao meio, norma indivisível da Constituição, sabe tudo. Encerrada a sessão, voltei ao escritório, Rodolfo para a frente da casa, Temer para a China e Dilma para a Alvorada. Tem 30 dias para devolver a residência oficial. Lembrei-me de um amigo, eleito Prefeito em cidade aqui perto. Ao assumir o cargo, descobriu que seu antecessor, ferrenho inimigo, tinha feito ‘’caca’’, nas gavetas da mesa de trabalho. Ora, quem fez ‘’caca’’, por tanto tempo, Brasil afora, pode não ter perdido o hábito. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário