terça-feira, 6 de setembro de 2016

A alegria que vem da simplicidade.



Outra noite, passando de carro, por uma rua pobre, casas com paredes descascadas, prédios com fachadas rabiscadas, lixo espalhado pelo meio-fio, nosso carro parou em um semáforo, em cuja esquina havia um bar, tosco bar. Cadeiras na calçada, em torno de raquítica churrasqueira, muitas garrafas e animada roda de samba, formada por gente simples. Minha esposa comentou como essas pessoas, de escassas condições financeiras, com todas as suas limitações materiais, procuram aproveitar a vida. São as mesmas que, em domingos ensolarados de verão, lotam uma Kombi velha e, correm à praia, a meio a farofadas, divertem-se, enquanto nós, os ‘’empolados’’, julgando-nos superiores, torcemos o nariz, mantendo a maior distância possível. Jamais nos disporíamos a comer bem e a dançar em calçadas. Produzimo-nos, enfrentamos engarrafamentos e nos permitimos ser explorados, pagando, a peso de ouro, comidas poucas, mas servidas com pompa e circunstancia. Fazemos por merecer. E a alegria daqueles, produto da descontração, em contraponto a nosso melancólico esnobismo, não se exaure na área do divertimento. Dou exemplo pessoal: durante muitos anos freqüentei a Igreja da Paróquia de meu bairro. Recentemente, por razões desconhecidas e que, por óbvio, não são de minha conta, o Pároco, (sacerdote afável, querido de todos os paroquianos, culto, a nos brindar com homilias, pronunciadas em tom coloquial, mas que nos levavam à reflexão), foi substituído por outro sacerdote que, pelo menos a mim, passa a impressão de rezar a missa, por pesada obrigação. Desassossegado, optei por migrar de Igreja, para a de São Judas Tadeu, no Jabaquara e freqüentado, em sua grande maioria, por pessoas simples, vindas de diferentes regiões, para cultuar o Santo, de largo prestígio, pelos incontáveis milagres realizados. Pois, a missa transforma-se em calorosa festa, onde todos cantam, batem palmas, entregando-se, por inteiro, na satisfação de poder estar ali, agradecendo e pedindo proteção. Essa alegria é contagiante, atingindo-me a mim, que venho de sóbrias paragens. Não há conversas paralelas, nem preocupação com a aparência de quem está a nosso lado. Irmanados na fé, concentramo-nos, apenas em louvar a Deus. Saio de lá, coração leve, com a sensação de que o Cristo crucificado ouviu melhor minhas preces, pensou minhas mazelas espirituais e que estará comigo, dando-me força e coragem, na superação de minhas vicissitudes.

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