quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Eu, meu pastor alemão e as eleições municipais



Rodolfo, meu politizado pastor alemão, depois de assistir aos debates dos candidatos a Prefeito de nossa Capital, pergunta-me, com desconfiança:

- ‘’Mas, se o País está quebrado, se os Estados estão quebrados, se os municípios estão quebrados, como estes senhores e senhoras vão construir as creches, que estão prometendo, contratar os médicos, que estão prometendo, melhorar a saúde pública, como estão prometendo, melhorar o trânsito, como estão prometendo? De onde vai sair a dinheirama para tanta coisa?’’ Explico-lhe que não se deve levar a sério, o que eles, os candidatos, dizem na televisão, que o debate é mais ou menos como a ‘’escolinha do professor Raimundo’’, é só para ouvir e dar risada. Mas Rodolfo, até pela sua origem, leva tudo muito a sério. Outro dia, fomos dar um passeio no Parque da Aclimação e ele notou que o entorno foi transformado em zona azul. – ‘’Mas a rua não é pública, que significa ‘’do povo’’, então por que se tem que pagar para estacionar nela?, ‘’questionou ele. Explico, com alguma dificuldade, que, nestas paragens, ‘’pública’’, antes de mais nada, significa ‘’do poder público’’, que, assim, pode explorar esses espaços, aumentando a arrecadação.’’ Rodolfo retruca, inconformado: ‘’pelo menos este dinheiro, proveniente do estacionamento ao redor do parque, é utilizado em melhorias no próprio parque, não é?’’. Conduzo-o, gentilmente, pela ‘’guia’’ e dou uma volta, para que ele tire suas próprias conclusões. À medida que andamos, ele rosna baixo, que é sinal – perigoso – de indignação. A pista abaulada, imprópria para atividades aeróbicas, apresenta continuas rachaduras, além de coberta por folhas e gravetos que, quando chove, torna-a escorregadia. Como não vimos nenhum segurança, fomos até à Administração que nos informou que o contrato com a respectiva empresa fora rescindido, por falta de verba. Irritado, Rodolfo mostrou os dentes e se colocou em posição de ataque. Com muito custo, acalmei-o, dizendo que a culpa não era do funcionário que nos deu a informação e, se era para morder alguém, eu o levaria até o ‘’Viaduto do Chá’’, onde fica a sede da Prefeitura. Ele, como todo alemão, levou a proposta a sério e, mal voltamos para casa, ele se acomodou no banco de trás do carro. Ao subir a Rua Machado de Assis, o trânsito estava parado. De um lado, um caminhão descarregava bebidas e, do outro, um caminhão fazia a coleta de lixo, o que motivou nova irritação de meu inquieto pastor alemão: ‘’- por que estes serviços não podem ser executados entre 10 da noite e 6 da manhã, como ocorre em qualquer cidade civilizada? Esta cidade parece a casa da mãe Joana!’’ Ao atingir a Avenida Paulista, deparamo-nos com obra, no acesso à mesma, provocando novo e brutal congestionamento. Rodolfo babava de ódio e, por prudência, desviei-me do caminho e levei-o a comer um sanduíche de picanha e fiquei a dizer-lhe que administração pública é assim mesmo, pontuada de irracionalidade, que as soluções, aparentemente óbvias, são difíceis, senão impossíveis de serem executadas, vinculadas, que são, a interesses, quase sempre obscuros. Rodolfo, calado, mas pensativo, devorava seu quarto sanduíche, quando propus que voltássemos para casa, porque, seguramente, o Prefeito, em plena campanha para a reeleição, não seria encontrado, na Prefeitura. Foi aí que ele me fez a pergunta, que eu temia: - ‘’afinal, em quem você vai votar e por que?’’

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