Rodolfo, meu politizado pastor alemão, depois de assistir aos
debates dos candidatos a Prefeito de nossa Capital, pergunta-me, com
desconfiança:
- ‘’Mas, se o País está quebrado, se os Estados estão
quebrados, se os municípios estão quebrados, como estes senhores e senhoras vão
construir as creches, que estão prometendo, contratar os médicos, que estão
prometendo, melhorar a saúde pública, como estão prometendo, melhorar o
trânsito, como estão prometendo? De onde vai sair a dinheirama para tanta
coisa?’’ Explico-lhe que não se deve levar a sério, o que eles, os candidatos,
dizem na televisão, que o debate é mais ou menos como a ‘’escolinha do professor
Raimundo’’, é só para ouvir e dar risada. Mas Rodolfo, até pela sua origem,
leva tudo muito a sério. Outro dia, fomos dar um passeio no Parque da Aclimação
e ele notou que o entorno foi transformado em zona azul. – ‘’Mas a rua não é
pública, que significa ‘’do povo’’, então por que se tem que pagar para
estacionar nela?, ‘’questionou ele. Explico, com alguma dificuldade, que,
nestas paragens, ‘’pública’’, antes de mais nada, significa ‘’do poder
público’’, que, assim, pode explorar esses espaços, aumentando a arrecadação.’’
Rodolfo retruca, inconformado: ‘’pelo menos este dinheiro, proveniente do
estacionamento ao redor do parque, é utilizado em melhorias no próprio parque,
não é?’’. Conduzo-o, gentilmente, pela ‘’guia’’ e dou uma volta, para que ele
tire suas próprias conclusões. À medida que andamos, ele rosna baixo, que é
sinal – perigoso – de indignação. A pista abaulada, imprópria para atividades
aeróbicas, apresenta continuas rachaduras, além de coberta por folhas e
gravetos que, quando chove, torna-a escorregadia. Como não vimos nenhum
segurança, fomos até à Administração que nos informou que o contrato com a
respectiva empresa fora rescindido, por falta de verba. Irritado, Rodolfo
mostrou os dentes e se colocou em posição de ataque. Com muito custo,
acalmei-o, dizendo que a culpa não era do funcionário que nos deu a informação
e, se era para morder alguém, eu o levaria até o ‘’Viaduto do Chá’’, onde fica
a sede da Prefeitura. Ele, como todo alemão, levou a proposta a sério e, mal
voltamos para casa, ele se acomodou no banco de trás do carro. Ao subir a Rua
Machado de Assis, o trânsito estava parado. De um lado, um caminhão
descarregava bebidas e, do outro, um caminhão fazia a coleta de lixo, o que
motivou nova irritação de meu inquieto pastor alemão: ‘’- por que estes
serviços não podem ser executados entre 10 da noite e 6 da manhã, como ocorre
em qualquer cidade civilizada? Esta cidade parece a casa da mãe Joana!’’ Ao
atingir a Avenida Paulista, deparamo-nos com obra, no acesso à mesma, provocando
novo e brutal congestionamento. Rodolfo babava de ódio e, por prudência,
desviei-me do caminho e levei-o a comer um sanduíche de picanha e fiquei a
dizer-lhe que administração pública é assim mesmo, pontuada de irracionalidade,
que as soluções, aparentemente óbvias, são difíceis, senão impossíveis de serem
executadas, vinculadas, que são, a interesses, quase sempre obscuros. Rodolfo,
calado, mas pensativo, devorava seu quarto sanduíche, quando propus que
voltássemos para casa, porque, seguramente, o Prefeito, em plena campanha para
a reeleição, não seria encontrado, na Prefeitura. Foi aí que ele me fez a
pergunta, que eu temia: - ‘’afinal, em quem você vai votar e por que?’’
Nenhum comentário:
Postar um comentário