segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Porque é preciso fugir dos refletores



Leio, com perplexidade, que a Procuradoria da República repudiou, por considerá-la anti-democrática, a reforma do ensino médio, instituída, através de decreto, pelo Poder Executivo. Logo a Procuradoria da República, a menos indicada para falar em democracia, ela, que vai desmoralizando a ‘’lava jato’’, com ações de truculência, sempre em busca de refletores. De igual sorte, vejo o Juiz Sergio Moro, transformado em ‘’pop star’’ internacional, proferindo palestras, recebendo comendas, quando melhor fora S. Excia., em seu gabinete, estudando os processos – e, por que não, também os livros? - , o que evitaria decisões apressadas e inconsistentes, como a que decretou a prisão temporária do ex-Ministro Guido Mantega. Disse e repito: preocupa-me esse estrelismo exacerbado, essa vaidade tola e incompatível com a dignidade da justiça, de querer aparecer na mídia, relegando, a plano inferior, a tranqüilidade e a sensatez, que devem ser a marca registrada do Magistrado. Venho de uma época em que nomes de Juízes e Promotores ficavam adstritos aos meios forenses. Ainda hoje, pelo menos nestas terras paulistas, salvo raríssimos e pontuais exceções, os Juízes continuam ‘’apenas falando aos autos’’ e a própria eleição para Presidente do Tribunal de Justiça, ou Procurador Geral do Ministério Público não ultrapassa meia página de um único dia de jornal. O Brasil, como pobre marca do terceiromundismo, sempre precisou de um ídolo, que fosse depositário de frustrações e esperanças. Outro dia, disfarçado – ‘’ma non troppo’’ – no aeroporto, Moro foi alçado à condição de sucessor de Airton Senna, o último herói que habitou estas plagas. De minha parte, rejeito os heróis, elevados a este status pela fragilidade de quem não se liberta do indigente complexo de vira-lata. Herói, mesmo, é meu cliente – empresário que luta para não fechar seu negócio e deixar, ao desalento, centenas de trabalhadores. Herói, mesmo, é meu sexagenário amigo, vendedor de sorvete, que das 7 da matina às 2 da tarde, trabalha como porteiro de edifício, engole sua raquítica marmita e, enquanto dura a mais tênue fímbria luz do sol, empurra seu tosco carrinho pelas ruas do bairro, oferecendo seu produto.  Sergio Moro é herói menor de medíocre etapa de nossa história, que passará, junto com seus estridentes Procuradores, desaparecendo, quando nossas mãos forem menos sujas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário