Leio, com perplexidade, que a Procuradoria da República
repudiou, por considerá-la anti-democrática, a reforma do ensino médio,
instituída, através de decreto, pelo Poder Executivo. Logo a Procuradoria da
República, a menos indicada para falar em democracia, ela, que vai
desmoralizando a ‘’lava jato’’, com
ações de truculência, sempre em busca de refletores. De igual sorte, vejo o
Juiz Sergio Moro, transformado em ‘’pop
star’’ internacional, proferindo palestras, recebendo comendas, quando
melhor fora S. Excia., em seu gabinete, estudando os processos – e, por que
não, também os livros? - , o que evitaria decisões apressadas e inconsistentes,
como a que decretou a prisão temporária do ex-Ministro Guido Mantega. Disse e
repito: preocupa-me esse estrelismo exacerbado, essa vaidade tola e
incompatível com a dignidade da justiça, de querer aparecer na mídia,
relegando, a plano inferior, a tranqüilidade e a sensatez, que devem ser a
marca registrada do Magistrado. Venho de uma época em que nomes de Juízes e
Promotores ficavam adstritos aos meios forenses. Ainda hoje, pelo menos nestas
terras paulistas, salvo raríssimos e pontuais exceções, os Juízes continuam ‘’apenas falando aos autos’’ e a própria
eleição para Presidente do Tribunal de Justiça, ou Procurador Geral do
Ministério Público não ultrapassa meia página de um único dia de jornal. O
Brasil, como pobre marca do terceiromundismo, sempre precisou de um ídolo, que
fosse depositário de frustrações e esperanças. Outro dia, disfarçado – ‘’ma non troppo’’ – no aeroporto, Moro
foi alçado à condição de sucessor de Airton Senna, o último herói que habitou
estas plagas. De minha parte, rejeito os heróis, elevados a este status pela
fragilidade de quem não se liberta do indigente complexo de vira-lata. Herói, mesmo,
é meu cliente – empresário que luta para não fechar seu negócio e deixar, ao
desalento, centenas de trabalhadores. Herói, mesmo, é meu sexagenário amigo,
vendedor de sorvete, que das 7 da matina às 2 da tarde, trabalha como porteiro
de edifício, engole sua raquítica marmita e, enquanto dura a mais tênue fímbria
luz do sol, empurra seu tosco carrinho pelas ruas do bairro, oferecendo seu
produto. Sergio Moro é herói menor de
medíocre etapa de nossa história, que passará, junto com seus estridentes Procuradores,
desaparecendo, quando nossas mãos forem menos sujas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário