Com certa habitualidade, nas missas dominicais, quando do
‘’abraço da paz’’, pergunto a mim mesmo qual a origem de tantos conflitos,
individuais e coletivos, a exacerbarem o ódio, a tal ponto, que o substantivo
‘’paz’’ foi riscado de todos os dicionários do mundo. O ódio surge, dentro de
cada qual e nos leva a praticar inconcebíveis insanidades. Quando do último
domingo, manhã ensolarada, bastou uma ‘’fechada’’ sem maiores conseqüências,
para que eu, quase instintivamente, invocasse o nome da progenitora do outro
motorista. Por que agi assim, exatamente no percurso para a Igreja? Não me
considero pessoa violenta e esse negócio de não levar desaforo pra casa, ficou
na longínqua juventude, quando tinha pernas e braços ágeis. Só pode ser a tal
semente do ódio, que carregamos conosco, a justificar aquele comportamento. E
que não se utilize a desculpa de que vivemos numa cidade neurótica, a nos
obrigar a matar vários leões por dia, para sobreviver. Odeia-se, também, em
perdidas cidades do interior, onde se briga e se mata, até por não se ter o que
fazer. A ‘’bola da vez’’ são as mulheres, agredidas sem causa, como já foram os
homossexuais do sexo masculino. Psiquiatras e Psicólogos debruçaram-se sobre a
questão, tentando identificar a causa dessa agressividade gratuita que, no meu
raquítico pensar, está neste vírus, que germina, qual doença progressiva e
incurável, pronta a emergir, a qualquer momento, levando-nos a desatinos. Outro
dia, fui procurado por um homem, absurdamente forte, ainda jovem, que espancara
a companheira por causa de uma salada de atum. Juntos, há quase 10 anos, ela
tinha obrigação de saber – justificou ele – que odiava atum. Seu protesto virou
um bate-boca, depois agressão e ele bateu a porta, para não voltar. Ela foi à
Delegacia e registrou a ocorrência. Ambos estão arrependidos, ele da agressão
gratuita, ela do registro do crime. Querem se reconciliar e buscam a solução.
Foi o tal germe do ódio, inoculado em nós desde sempre. Sabemos que todas as
religiões pregam a paz, mas quantas guerras foram e são feitas em nome da
religião. Na Olimpíada do Rio, que é o congrassamento da paz, uma judoca,
sentindo-se injustiçado, quase partiu pra cima do juiz e no jogo Brasil x
Colômbia, de medíocre futebol, a pancadaria covarde predominou. Em todo o reino
animal, só o ser humano ataca sem causa, ou por causa mesquinha. Lembro-me de
um professor de Direito Internacional que dizia não ter a 3ª Guerra Mundial
começado, porque a 2ª não acabara. E não é que ele tem razão? Logo depois de
1945, veio a ‘’guerra da Coréia’’, depois, os conflitos do Oriente Médio – que
perduram até hoje -, depois o Vietnã e assim, sucessivamente, até este
malfadado Estado Islâmico, que resolveu incendiar a Europa e os Estados Unidos.
É o ódio generalizado, que se coletiva, sufocando qualquer possibilidade de
paz. Confesso que, na missa, abraço meus companheiros de banco, sem muito
entusiasmo. É apenas um gesto, sem conteúdo. Afinal, a paz, onde encontrar a
paz?
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