sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Reflexões de Sexta-Feira


De repente, aparecem duas verrugas na perna. Passa isto, diz um, passa aquilo, diz outro. Resolvo pelo mais sensato: passo no dermatologista. Competente e descontraído, examina e conclui: - ‘’deve ser um cancerzinho de pele, nada muito preocupante. Tiramos e mandamos para biopsia.  Na próxima semana, você volta para tirar os pontos e já teremos o resultado. A propósito, você toma muito Sol?’’ Respondo que não fiz outra coisa, em todas as praias e piscinas daqui e de lá. Quando morava no Rio, aos fins de semana, era sol das 7 da manhã, até quando ele ia embora. ‘’Palmas para o sol, que nos deu este belo dia’’, dizia alguém e aquele bando de obcecados, dando vivas ao sol. Em Cuba, 40 graus à sombra, meu grupo, esticado na piscina, tomando ‘’cabeza de toro’’, cerveja com teor alcoólico de uísque, ou na praia de Varadero, a água mais transparente daquele lado do Caribe. Por aqui, sol no quintal de casa, em companhia de meus cachorros. Restaram possíveis ‘’cancerzinhos’’ e manchas senis? É assim mesmo. Como aprendi, na vida não há bônus sem ônus.

Uma semana de sufoco: a simples palavra ‘’cancerzinho’’ já é suficiente para derrubar qualquer mortal. Felizmente, era benigno e ficamos, eu e o médico, jogando conversa fora e ele propõe retirar as marcas do tempo de meu rosto? – ‘’é procedimento simples, indolor e você vai rejuvenescer 10 anos’’. Digo, apenas por educação, que vou pensar. Não vale a pena, 10 anos não refresca muita coisa. Além do mais, só no rosto? Talvez se voltasse 10 anos no tempo...! Concluo que nem assim. Nesta última década, perdi pessoas queridíssimas e não gostaria de repetir a dor de tais perdas. Hoje, essas pessoas moram em minha lembrança e as invoco com carinho e suavidade. Voltar 10 anos é como propor ao maratonista, que já enxerga a linha de chegada, que recue 10 quilômetros e refaça o percurso. Haja fôlego! Além do mais, nada fiz, nestes 10 anos, de tão extraordinário, que merecesse um ‘’replay’’. E, se recuasse, ainda ‘’perderia’’ dois netos, que inundam de alegria minha casa e minha vida. E estas manchas senis mostram-me todos os dias, na hora do barbear, que ‘’combati o combate’’ e quem julgará se foi ele bom ou ruim, aguarda-me – tenho certeza – com benevolência. Fico com elas, que armazenam minhas lembranças. 

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