De repente, aparecem duas verrugas na perna. Passa isto, diz
um, passa aquilo, diz outro. Resolvo pelo mais sensato: passo no
dermatologista. Competente e descontraído, examina e conclui: - ‘’deve ser um cancerzinho de pele, nada muito
preocupante. Tiramos e mandamos para biopsia.
Na próxima semana, você volta para tirar os pontos e já teremos o
resultado. A propósito, você toma muito Sol?’’ Respondo que não fiz outra
coisa, em todas as praias e piscinas daqui e de lá. Quando morava no Rio, aos
fins de semana, era sol das 7 da manhã, até quando ele ia embora. ‘’Palmas para o sol, que nos deu este belo
dia’’, dizia alguém e aquele bando de obcecados, dando vivas ao sol. Em
Cuba, 40 graus à sombra, meu grupo, esticado na piscina, tomando ‘’cabeza de toro’’, cerveja com teor
alcoólico de uísque, ou na praia de Varadero, a água mais transparente daquele
lado do Caribe. Por aqui, sol no quintal de casa, em companhia de meus cachorros.
Restaram possíveis ‘’cancerzinhos’’ e manchas senis? É assim mesmo. Como
aprendi, na vida não há bônus sem ônus.
Uma semana de sufoco: a simples palavra ‘’cancerzinho’’ já é suficiente para
derrubar qualquer mortal. Felizmente, era benigno e ficamos, eu e o médico,
jogando conversa fora e ele propõe retirar as marcas do tempo de meu rosto? – ‘’é procedimento simples, indolor e você vai
rejuvenescer 10 anos’’. Digo, apenas por educação, que vou pensar. Não vale
a pena, 10 anos não refresca muita coisa. Além do mais, só no rosto? Talvez se
voltasse 10 anos no tempo...! Concluo que nem assim. Nesta última década, perdi
pessoas queridíssimas e não gostaria de repetir a dor de tais perdas. Hoje,
essas pessoas moram em minha lembrança e as invoco com carinho e suavidade.
Voltar 10 anos é como propor ao maratonista, que já enxerga a linha de chegada,
que recue 10 quilômetros e refaça o percurso. Haja fôlego! Além do mais, nada
fiz, nestes 10 anos, de tão extraordinário, que merecesse um ‘’replay’’. E, se recuasse, ainda ‘’perderia’’ dois netos, que inundam de
alegria minha casa e minha vida. E estas manchas senis mostram-me todos os
dias, na hora do barbear, que ‘’combati o
combate’’ e quem julgará se foi ele bom ou ruim, aguarda-me – tenho certeza
– com benevolência. Fico com elas, que armazenam minhas lembranças.
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