sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Porque foi 11 de Agosto



Ontem, 11, quando se comemorou a instalação do primeiro curso jurídico, no Brasil e, por esta razão, considerado ‘’dia do advogado’’, recebi vários telefonemas de clientes, cumprimentando-me pela data. Viajei no tempo, tentando refazer este longo caminho, que vai chegando ao fim. Muitos colegas já se foram – tantos o são – que me sobe a expectativa, quase esperança, de que minha vez esteja próxima. Houve perdas e ganhos, mas o simples fato de ainda estar na batalha, em si, já é vitória. Ingrata, como todas as profissões liberais, onde só se identifica o malfeito. Quando se ganha, o caso não era tão complexo, assim; quando se perde, foi por incompetência. Na área criminal, onde navego com mais desenvoltura, o problema é mais agudo: o delinquente sempre justifica sua conduta e se se tem que achar saída estruturada para defendê-lo, sem se envolver, emocionalmente. Como ensinava o sempre brilhante e pranteado Marcio Thomaz Bastos, ‘’defendemos o criminoso, não o crime’’. Pensar assim, no mínimo apascenta nossa consciência e nos faz imaginar afastados do fogo do inferno. Tomara! Vejam como o tempo é minuano implacável: contratei um jovem advogado, formado há dois anos. Assustei-me ao ver seu número de inscrição na secção regional da Ordem: OAB/SP 340.494. Senti-me definitivo dinossauro, já que o meu é ancestral 21.800. Outro dia, fui fazer sustentação oral, em uma das Câmaras do nosso Tribunal e o Presidente da mesma apregoou: ‘’considerando a presença do advogado com o mais antigo OAB, chamo a julgamento o processo número tal.’’ Era o meu! Levantei-me, entre orgulhoso e constrangido e, procurando demonstrar passo firme, dirigi-me à tribuna. É, o tempo passou e é muito bom que assim seja! Tenho me encontrado com jovens e excelentes advogados (dentre os quais, cabotinamente, incluo meu filho), competentes, dedicados e extremamente éticos. É claro que, como em todas as atividades, temos ovelhas negras, em nosso rebanho, cujos desvios de conduta afloram, com mais repercussão, primeiro, porque nossos atos são públicos, segundo, porque lidamos com bens preciosos: patrimônio e liberdade. E quanta pedra temos pelo caminho, principalmente um Poder Judiciário, pessimamente estruturado para enfrentar o absurdo número de processos. Tramitam, pelo País, mais de 100 milhões de feitos, o que dá uma média de 01 processo para cada dois habitantes. Mas, se temos tristezas, uma única alegria recompõe nosso animo, quando encontramos, abraçados, a Justiça e o Direito.
De minha parte, agradeço a Deus o caminho escolhido e percorrido. Bem ou mal, foi o que sempre quis e seria dádiva suprema fechar meus olhos ainda neste meu fazer diário.
Para comemorar a data, minha memória recua mais de meio século: 11 de agosto era – não sei se ainda o é – tradicional dia do ‘’pendura’’, quando se entrava (ou se entra) em restaurante, come-se, bebe-se e, depois, oferece-se a conta ao proprietário. Dizem que, em dias atuais, a ‘’oferta’’ não é bem aceita e termina ou em conflito físico ou em Delegacia. Justifica-se: em tempos ancestrais – os meus – só havia 03 faculdades de direito, em nossa Capital e o ‘’pendura’’ era restrito aos alunos de 2° ano, como compensação às amarguras, impingidas pelos ‘’veteranos’’, um ano antes. Hoje, temos mais de 10 e, ao que me consta, o calote é aberto a todos. Pois naquele tempo ancestral, em 11 de agosto de 1964, (saudoso ano!) eu um querido amigo adentramos a um chiquetérrimo restaurante instalado em suntuoso casarão, na Avenida Paulista. Comemos, bebemos e, depois, oferecemos a conta a ninguém menos do que a Horácio Lafer, sentado à mesa ao lado que, honrado, agradeceu-nos a gentileza e pagou. O ‘’Kinkon’’ não mais existe, o casarão deu lugar a gigantesco edifício e  Horacio Lafer virou nome de Avenida.

Invoco Fernando Pessoa: como pude me esquecer de esconder o tempo na algibeira da calça!?

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