Ontem, 11, quando se comemorou a instalação do primeiro curso
jurídico, no Brasil e, por esta razão, considerado ‘’dia do advogado’’, recebi
vários telefonemas de clientes, cumprimentando-me pela data. Viajei no tempo,
tentando refazer este longo caminho, que vai chegando ao fim. Muitos colegas já
se foram – tantos o são – que me sobe a expectativa, quase esperança, de que minha
vez esteja próxima. Houve perdas e ganhos, mas o simples fato de ainda estar na
batalha, em si, já é vitória. Ingrata, como todas as profissões liberais, onde
só se identifica o malfeito. Quando se ganha, o caso não era tão complexo, assim;
quando se perde, foi por incompetência. Na área criminal, onde navego com mais
desenvoltura, o problema é mais agudo: o delinquente sempre justifica sua
conduta e se se tem que achar saída estruturada para defendê-lo, sem se
envolver, emocionalmente. Como ensinava o sempre brilhante e pranteado Marcio
Thomaz Bastos, ‘’defendemos o criminoso, não o crime’’. Pensar assim, no mínimo
apascenta nossa consciência e nos faz imaginar afastados do fogo do inferno.
Tomara! Vejam como o tempo é minuano implacável: contratei um jovem advogado,
formado há dois anos. Assustei-me ao ver seu número de inscrição na secção
regional da Ordem: OAB/SP 340.494. Senti-me definitivo dinossauro, já que o meu
é ancestral 21.800. Outro dia, fui fazer sustentação oral, em uma das Câmaras
do nosso Tribunal e o Presidente da mesma apregoou: ‘’considerando a presença
do advogado com o mais antigo OAB, chamo a julgamento o processo número tal.’’
Era o meu! Levantei-me, entre orgulhoso e constrangido e, procurando demonstrar
passo firme, dirigi-me à tribuna. É, o tempo passou e é muito bom que assim
seja! Tenho me encontrado com jovens e excelentes advogados (dentre os quais,
cabotinamente, incluo meu filho), competentes, dedicados e extremamente éticos.
É claro que, como em todas as atividades, temos ovelhas negras, em nosso
rebanho, cujos desvios de conduta afloram, com mais repercussão, primeiro,
porque nossos atos são públicos, segundo, porque lidamos com bens preciosos: patrimônio
e liberdade. E quanta pedra temos pelo caminho, principalmente um Poder Judiciário,
pessimamente estruturado para enfrentar o absurdo número de processos.
Tramitam, pelo País, mais de 100 milhões de feitos, o que dá uma média de 01
processo para cada dois habitantes. Mas, se temos tristezas, uma única alegria recompõe
nosso animo, quando encontramos, abraçados, a Justiça e o Direito.
De minha parte, agradeço a Deus o caminho escolhido e
percorrido. Bem ou mal, foi o que sempre quis e seria dádiva suprema fechar
meus olhos ainda neste meu fazer diário.
Para comemorar a data, minha memória recua mais de meio século:
11 de agosto era – não sei se ainda o é – tradicional dia do ‘’pendura’’,
quando se entrava (ou se entra) em restaurante, come-se, bebe-se e, depois,
oferece-se a conta ao proprietário. Dizem que, em dias atuais, a ‘’oferta’’ não
é bem aceita e termina ou em conflito físico ou em Delegacia. Justifica-se: em
tempos ancestrais – os meus – só havia 03 faculdades de direito, em nossa
Capital e o ‘’pendura’’ era restrito aos alunos de 2° ano, como compensação às
amarguras, impingidas pelos ‘’veteranos’’, um ano antes. Hoje, temos mais de 10
e, ao que me consta, o calote é aberto a todos. Pois naquele tempo ancestral,
em 11 de agosto de 1964, (saudoso ano!) eu um querido amigo adentramos a um
chiquetérrimo restaurante instalado em suntuoso casarão, na Avenida Paulista. Comemos,
bebemos e, depois, oferecemos a conta a ninguém menos do que a Horácio Lafer,
sentado à mesa ao lado que, honrado, agradeceu-nos a gentileza e pagou. O ‘’Kinkon’’
não mais existe, o casarão deu lugar a gigantesco edifício e Horacio Lafer virou nome de Avenida.
Invoco Fernando Pessoa: como pude me esquecer de esconder o
tempo na algibeira da calça!?
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