Briga no andar de cima: foi só a ‘’Veja’’ noticiar a nada
republicana relação do todo-poderoso da OAS, Leo Pinheiro, com o Ministro do
Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, para que o ‘’espírito de corpo’’
começasse a agir. O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, mandou
suspender o acordo de delação premiada de Leo Pinheiro e o Ministro Gilmar
Mendes deitou falação, assegurando que o delator foi induzido a dar a resposta,
pretendida pelos investigadores. Será? O escriba aqui, é rasteiro rábula, mas,
nestes poucos 45 anos de militância, na advocacia criminal, jamais permitiu que
cliente seu fosse ‘’induzido’’ a dar resposta, apenas do agrado da
investigação. Ora, o presidente da OAS está assistido por criminalistas do mais
alto grau de competência e experiência. Para começo de conversa, como o ilustre
Janot sabe que Leo Pinheiro foi a origem do vazamento da notícia? A propósito,
quem ‘’vazou’’ a gravação do famoso diálogo entre Lula e Dilma e que punição
recebeu ele? Leo Pinheiro está sendo punido por um ato, cuja autoria é
atribuída a ele. E a prova da autoria? E tem mais: se os delatores estão sendo
induzidos a responderem o que querem os investigadores, então tais delações não
têm serventia jurídica. Se não servem para incriminar Toffoli, também não
servem para incriminar Lula. O velho direito romano dizia que ‘’volumptas coacta
tamen volumptas est’’ (a vontade coagida também é manifestação de vontade.
Então, ainda é assim? Coisa nenhuma! Nosso Código Civil, repetindo o que
vigorou entre 1916 e 2003, estabelece que são anuláveis os negócios jurídicos,
praticados sob coação de uma das partes. (art. 151). É assim que funciona em um
estado de direito, não é, ilustre constitucionalista, Ministro Gilmar Mendes?
Corro na Constituição para ver se, enquanto eu dormia, não revogaram aquela
cláusula pétrea que afirma ‘’todos são iguais perante a lei’’. Continua lá,
cravada no artigo 5º, se bem que nunca acreditei nela e, na própria
Constituição há dezenas de exemplos de ‘’privilégios’’ a identificarem
desigualdades, também recheadas em dezenas de normas infra-constitucionais. O
velho e ótimo Rui Barbosa já dizia que a verdadeira igualdade consiste em
tratar desigualmente a desiguais. Isto há quase 100 anos e ninguém o levou a
sério. Afinal, quem vale mais, Dias Toffoli, em campo, ou Lula no banco de
reservas? Disse e repito: detesto, abomino delatores, de qualquer gênero e,
pior do que eles, são os que exigem a delação, como condição de conceder
prêmio. Meus rudimentares conhecimentos de Direito Penal dizem-me que já vi
isto em algum lugar. Vou ao Código idem e lá encontro, no artigo 344, a
descrição do crime de ‘’coação no curso do processo: ‘’usar de violência ou quase ameaça (confessa, senão continua
preso, ô Marcelo Odebrecht!) com o fim de
favorecer interesse próprio ou alheio’’ (sou o bom, obtive a confissão que
queria!). Se estivesse eu de mau humor (e deveria estar, pois detesto frio),
poderia, até, invocar o crime do artigo 159, ‘’extorsão mediante seqüestro’’.
Ah, tá bom, os investigadores estão em ‘’escrito cumprimento de um dever legal,
o que exclui a ilicitude do ato, (art. 23, III)? Muito bem, mas que coloca na
subjetividade a liberdade de cada qual, isto não tenho dúvidas que coloca!
Repito o extinto latim ‘’hodie mihi, cras tibi’’ (hoje sou eu, amanhã, será
você.)
Por óbvio, não pretendo (e quem sou eu, para pretender!)
denegrir a operação ‘’lava-jato’’, apenas esperava que, sem estrelismo,
apurasse responsabilidades, punisse os responsáveis, sem praticar ‘’lesões corporais de natureza grave’’
(Código Penal, art. 129 §1º) em nosso ordenamento jurídico. Ah, lesão corporal
é crime contra a pessoa e não contra instituição? Tá certo, sou parvo, mesmo. Então
deixa o arbítrio correr solto.
Para melhorar meu astral, vou telefonar para um
Desembargador, que me privilegia com sua amizade e que, segundo os dados
estatísticos do Tribunal, está no topo da lista dos que mais produzem. Seu nome
não sai no jornal, não dá entrevista para televisão e a porta de seu gabinete –
onde ele pode ser encontrado, todos os dias – está sempre aberta para qualquer
advogado, até os miúdos, como eu. Lá, além do café e da bala, bebe-se e se
come, o bom direito e a verdadeira justiça.
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