terça-feira, 17 de maio de 2016

Reflexões sobre a morte e suas causas

Já começo a sentir falta de Dª Dilma e do PT, não por eles, é claro. Já foram tarde, mas é que eles sempre rendiam assunto para estas ‘’mal traçadas’’. Agora, tenho que beber em outras fontes e as minhas são de pouca água. Mas, vamos lá: hoje vou falar, sem drama, da morte e da maneira mais conveniente de dar-lhe as mãos. Lá do interior, de onde vim, distinguia-se duas espécies de morte: a ‘’morte morrida’’ e a ‘’morte matada’’. A primeira decorrida de causa natural – as doenças e a segunda resultava do homicídio ou suicídio. Disputas por terras e garimpos ou questões políticas, sempre geravam ‘’morte matada’’. Aos que afirmam que, nos tempos atuais, o País está dividido é porque não viveram, no interior, lá pelos anos 50. Conto episodio caseiro, só para exemplificar: meu pai era pessoa pacifica, gostava de reunir os amigos para boa conversa e beber ‘’Old Parr’’, seu uísque preferido. Era partidário do antigo PSD, de Benedito Valadares e Juscelino. Tinha saúde frágil, atormentado por pressão alta que, em seus picos, obrigava-nos, a nós, seus filhos, saírem correndo (o telefone ainda não chegara à cidade), em busca de médico, para socorrê-lo. Certa feita, o único localizado era o Prefeito da cidade, Dr. Petrônio Mendes de Souza, competente, mas que tinha intransponível defeito: era membro do PR- Partido Republicano, o mais figadal adversário do PSD. Petrônio era um homem generoso e não se recusou a atender meu pai. Só que este era ‘’turrão’’ e se recusou a ser atendido pelo seu maior adversário político. Ficou aquela situação constrangedora: Petrônio, na sala, tomando café, preparado pela minha doce mãe e meu pai, trancado no quarto. No dia das eleições, era comum verem homens portando, acintosamente, armas. Não se levava desaforos para casa, daí o aumento de ‘’morte matada’’, naquelas ocasiões. Meu pai morreria, de ‘’morte morrida’’, aos 56 anos, vitima de um ‘’AVC’’, doença que me aterroriza, porque, antes de matar, tira a dignidade do ser humano, fazendo-o dependente de terceiras pessoas, até em suas necessidades fisiológicas. Ultimamente, ando preocupado com o ‘’Alzheimer’’, vulgarmente conhecido como ‘’alemão’’. Outro dia, reli um livro, leitura fácil que se faz, ouvindo música e batucando no computador e, para meu quase desespero, não me lembrava do enredo, sendo cada página uma surpresa. Quase um pânico, levei o problema a minha esposa que, com muita acuidade, observou que, com certeza, exatamente por ser livro de leitura fácil, não arquivara o enredo na memória. Acalmei-me, até porque ainda sou capaz de recitar, de cor, pelo menos os dois primeiros ‘’cantos’’ dos ‘’Lusíadas’’, dois discursos de Cícero e vários poemas, principalmente de Castro Alves e Fernando Pessoa. Não me engano e sei que isto nada significa, porque me lembro de excelente ator, já falecido em idade avançada, que, ao longo de sua vida, decorou centenas de falas e, ao final, foi tomado pelo ‘’alemão’’. Na minha ignorância, vou de raciocínio lógico: se os músculos envelhecem, os ossos envelhecem, os órgãos – principalmente ‘’aquele’’ – envelhecem, por que o cérebro não envelheceria? É doença atroz, para doente, que sai do mundo real e viaja para o mundo imaginário e para os parentes e amigos, que têm que conviver e se preocupar com a perda de lucidez.
Pensando bem: prefiro morrer de ‘’morte matada’’. É rápida e traz um pouco de gloria e mistério.


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