sexta-feira, 13 de maio de 2016

A Hora do Comedimento

Constitui sabedoria popular que, mesmo dos piores momentos, podemos tirar resultados positivos. O Brasil vive a mais grave crise econômica de sua história que, na verdade, foi a força propulsora do impeachment da Presidente Dilma e, se o novo Governo, cuja legitimidade é, pelo menos discutível, não minimizar, em curto prazo, os efeitos dessa crise, também não se sustentará. Mas, não falarei de política e, sim, como conseqüência positiva, o reaprendizado a que cada qual deve se submeter, não só como método de sobrevivência, mas também em respeito aos menos afortunados, desprovidos de necessidades básicas, seja em razão de desemprego, seja em razão de achatamento salarial. Impõe-se mudança de atitudes, ações concretas. Se as vendas estão em queda livre, que tal os comerciantes reduzirem suas margens de lucro? Viajar para o exterior, principalmente agora, que o verão, lá chegará, em uma mês, é ótimo. Levar as crianças à ‘’Disney’’, ou viajar pela França e Itália, bebendo bons vinhos. Passeios, que um casal, sem grandes luxos, consome, em 15 dias, não menos do que 50 mil reais. Que tal deixar a viagem programada para o próximo ano? Estou a fazer estas reflexões, em razão de duas diferentes matérias, lidas na última ‘’Vejinha’’. Na primeira, recomenda-se um restaurante que sugere um prato contendo polvo, acompanhado de ‘’risoto de brie com passas’’, ao preço de 68 reais. A fotografia do prato nos mostra 4 pequenos pedaços de polvo, 3 passas e uma porção de arroz que, com muito boa vontade, atinge 100 gramas. Se considerarmos que, na feira-livre, compra-se polvo a 50 reais o quilo e arroz, tipo 1 “a”, no máximo, a 5 reais, é de concluir que, com todos os agregados (aluguel, luz, água, salários, etc), o custo de tal prato não ultrapassa a 20 reais e, assim, oferecê-lo a 68, além de se constitui abuso, é correr o risco de vê-lo ‘’encalhar’’. Quantos restaurantes cerraram suas portas, neste último ano, em razão da retração do consumidor? Conheço muita gente abonada, de dinheiro e bom senso, que, nestes tempos bicudos, prefere reunir os amigos, ao pé de um bom vinho e canapés caseiros, para um ‘’bate-papo’’, sobre todas as coisas, o que, convenhamos, é muito mais agradável do que ficar sentado, a meio de pessoas estranhas. Ou o tal restaurante revê seus preços ou corre o risco de viver dias amargos. A segunda noticia, extraída da mesma ‘’Vejinha’’ e que tem, como titulo ‘’casamento dobrado’’, informa que milionário casal, para comemorar sua feliz união, dará duas recepções uma, em São Paulo, menos suntuosa e outra, na ilha de ‘’Sain Barths’’, para 300 convidados, onde ‘’o casal fechou o hotel mais sofisticado da ilha, o Le Sereno. Todas as 36 suítes e três vilas estarão à sua disposição.’’ Faço as contas, com a cabeça de classe média e concluo que a festança vai passar de 01 milhão de dólares, ou seja, cerca de 04 milhões de reais. Será isto realmente necessário, em um momento que 11 milhões de desempregados não sabem como vão alimentar e vestir suas famílias? É claro que cada um gasta o que tem, como bem lhe apraz, mas um pouco de comedimento é sempre recomendável. Certa feita, tive o privilegio de conversar com o Dr. Antonio Ermírio de Moraes, então considerado o homem mais rico do Brasil. Depois de algumas garrafas de vinho (‘’a bebida é a sacarrolha da verdade’’, ensinava, como advertência, minha falecida mãe), ousei perguntar-lhe sobre sua quase folclórica simplicidade de vida, apesar de sua maravilhosa residência e excelência de seus vinhos. Justificou ele dizendo que os mais ricos tinham que dar o exemplo que o dinheiro, por ser conseqüência do trabalho, tinha que ser valorizado, em seu uso. Fica a lição para o jovem casal e que sejam felizes para sempre.... mesmo que os ventos soprem ao contrário. 

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