Constitui sabedoria popular que, mesmo dos piores momentos,
podemos tirar resultados positivos. O Brasil vive a mais grave crise econômica
de sua história que, na verdade, foi a força propulsora do impeachment da
Presidente Dilma e, se o novo Governo, cuja legitimidade é, pelo menos
discutível, não minimizar, em curto prazo, os efeitos dessa crise, também não
se sustentará. Mas, não falarei de política e, sim, como conseqüência positiva,
o reaprendizado a que cada qual deve se submeter, não só como método de
sobrevivência, mas também em respeito aos menos afortunados, desprovidos de
necessidades básicas, seja em razão de desemprego, seja em razão de achatamento
salarial. Impõe-se mudança de atitudes, ações concretas. Se as vendas estão em
queda livre, que tal os comerciantes reduzirem suas margens de lucro? Viajar
para o exterior, principalmente agora, que o verão, lá chegará, em uma mês, é
ótimo. Levar as crianças à ‘’Disney’’,
ou viajar pela França e Itália, bebendo bons vinhos. Passeios, que um casal,
sem grandes luxos, consome, em 15 dias, não menos do que 50 mil reais. Que tal
deixar a viagem programada para o próximo ano? Estou a fazer estas reflexões,
em razão de duas diferentes matérias, lidas na última ‘’Vejinha’’. Na primeira, recomenda-se um restaurante que sugere um
prato contendo polvo, acompanhado de ‘’risoto
de brie com passas’’, ao preço de 68 reais. A fotografia do prato nos
mostra 4 pequenos pedaços de polvo, 3 passas e uma porção de arroz que, com
muito boa vontade, atinge 100 gramas. Se considerarmos que, na feira-livre,
compra-se polvo a 50 reais o quilo e arroz, tipo 1 “a”, no máximo, a 5 reais, é
de concluir que, com todos os agregados (aluguel, luz, água, salários, etc), o custo
de tal prato não ultrapassa a 20 reais e, assim, oferecê-lo a 68, além de se
constitui abuso, é correr o risco de vê-lo ‘’encalhar’’.
Quantos restaurantes cerraram suas portas, neste último ano, em razão da
retração do consumidor? Conheço muita gente abonada, de dinheiro e bom senso,
que, nestes tempos bicudos, prefere reunir os amigos, ao pé de um bom vinho e
canapés caseiros, para um ‘’bate-papo’’,
sobre todas as coisas, o que, convenhamos, é muito mais agradável do que ficar
sentado, a meio de pessoas estranhas. Ou o tal restaurante revê seus preços ou
corre o risco de viver dias amargos. A segunda noticia, extraída da mesma ‘’Vejinha’’ e que tem, como titulo ‘’casamento dobrado’’, informa que
milionário casal, para comemorar sua feliz união, dará duas recepções uma, em
São Paulo, menos suntuosa e outra, na ilha de ‘’Sain Barths’’, para 300 convidados, onde ‘’o casal fechou o hotel mais sofisticado da ilha, o Le Sereno. Todas
as 36 suítes e três vilas estarão à sua disposição.’’ Faço as contas, com a
cabeça de classe média e concluo que a festança vai passar de 01 milhão de
dólares, ou seja, cerca de 04 milhões de reais. Será isto realmente necessário,
em um momento que 11 milhões de desempregados não sabem como vão alimentar e
vestir suas famílias? É claro que cada um gasta o que tem, como bem lhe apraz,
mas um pouco de comedimento é sempre recomendável. Certa feita, tive o
privilegio de conversar com o Dr. Antonio Ermírio de Moraes, então considerado
o homem mais rico do Brasil. Depois de algumas garrafas de vinho (‘’a bebida é a sacarrolha da verdade’’,
ensinava, como advertência, minha falecida mãe), ousei perguntar-lhe sobre sua
quase folclórica simplicidade de vida, apesar de sua maravilhosa residência e
excelência de seus vinhos. Justificou ele dizendo que os mais ricos tinham que
dar o exemplo que o dinheiro, por ser conseqüência do trabalho, tinha que ser
valorizado, em seu uso. Fica a lição para o jovem casal e que sejam felizes
para sempre.... mesmo que os ventos soprem ao contrário.
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