sexta-feira, 6 de maio de 2016

Carta a um irmão entristecido

Um dia, você, na sua ideologia, retirada da ‘’teoria da libertação’’, fugidia quimera de igualdade e justiça social, filiou-se ao PT, imaginando que, com a chegada da classe operaria ao Poder, todas as desigualdades seriam suprimidas, e passaríamos a viver no melhor dos mundos. Eu, cá de mim, cultura pouca, mas vivencia muita, passo longe de suas crenças. Não vou ficar de ‘’lengua-lengua’’, demonstrando que, historicamente, nunca houve sociedade totalmente justa e que, nos países desenvolvidos, o Estado tem funções mínimas, objetivando reduzir tais desigualdades. A esquerda, a sua esquerda, fracassou, porque pregou a utopia e, quando chegou ao Poder, viu que ‘’o buraco era mais embaixo’’ e quem manda mesmo são as leis do mercado. Tenho ciência que ‘’seu PT’’ não é este que morre, agora, sem honra nem gloria, afogado em inusitado mar de corrupção. Por que isto aconteceu? Quantas vezes você deve ter se perguntado isto, com o amargo gosto da decepção. Porque – respondo eu – o exercício do Poder exige preparo, no mais largo sentido do termo. Em algum lugar da Bíblia está gravado ‘’não é o servo maior que o senhor’’, o que, em entendimento rasteiro, significa que quem exerce o Poder deve ser superior, em formação cultural e moral, aos que a ele estão submetidos. É preconceito? Pode até ser, mas é assim que a roda gira. O fundamental é que todos tenhamos as mesmas possibilidades. A partir daí, fica por conta de cada qual, com esforço, alcançar seus objetivos. O populismo, o Estado paternalista acabou e seus resquícios apenas são encontrados em países subdesenvolvidos, dos quais – espero – o Brasil esteja saindo. Estes, que agora ascendem ao Governo, longe estão do meu ideal de governantes, todavia trazem consigo a esperança de novos rumos. Aprendi, no exercício da profissão, confiar, desconfiando e sigo, assim, sem grandes expectativas de que o Brasil rompa a barreira do terceiro-mundismo, mas, se não caranguejarmos, já está muito bom. Não lhe escrevo, depois de prolongado silencio, para tripudiar sobre o melancólico fim de seu partido. O importante é que sirva ele de reflexão, para você coordenar seu ideal, sem abrir mão dele, mas entendendo, com objetividade, como o jogo político é jogado, em todo o ocidente. Sigo, como você, julgando que ‘’todos têm direito a uma vida humana digna’’ e assino embaixo de Rosseau, quando este afirma que justa é a sociedade em que ‘’nenhum cidadão seja tão rico para poder comprar um outro, nem tão pobre para que alguém seja obrigado a vender-se’’.
Veja, assim, que, na essência, concordamos e queremos a mesma coisa. O que nos diferencia são os meios para chegar lá.
Fica meu abraço fraterno e meu desejo que possamos retomar nossos debates, que muito me enriqueceram.
Com carinho,

Saul

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