quinta-feira, 5 de maio de 2016

A sombra tenta ofuscar a luz

Tenho ancestral hábito de percorrer livrarias, em busca de assuntos novos, independentemente de suas naturezas. A depender de meu estado de espírito, vou da ficção à receita de bolo, passando pelos livros de Historia, estes, meus prediletos. Nos tempos de jovem – já o fui, acreditem! – minhas livrarias preferidas eram a ‘’Freitas Bastos’’, na XV de Novembro, a ‘’Civilização Brasileira’’ e a ‘’Livraria Francesa’’, estas últimas na Barão de Itapetininga, que nem sei se ainda existem, tanto tempo que não vou àquelas bandas. Atualmente, minha escolhida é a ‘’Martins Fontes’’, na esquina das Avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antonio, à direita de quem vai para o ‘’Paraíso’’. Freqüento-a, com fidelidade, há vários anos, o que me permite, com desenvoltura, achar o que procuro, ou garimpar, sem gastar muito tempo. Não é que, na última semana, em lá estando, deparei com um livro do Fernando Jorge, tendo por tema a obra de Paulo Francis? Surpreendi-me, porque imaginava que o Fernando Jorge estava morto, já que nunca mais ouvira falar nele. Fora intelectual menor que, lá pelos anos 70, pretendeu ser um Gregório de Matos, cognominado ‘’boca do inferno’’, pela natureza ferina de seus poemas. Todavia, Fernando Jorge ‘’não decolou’’ e, no final dos anos 80, publicou um livro ‘’Cala a boca, Jornalista’’, falando da censura, à época do regime militar. O livro, além de medíocre, chegava tarde, com Sarney em pleno governo e muitas outras obras sobre o tema, desenvolvidas com mais competência. Comprei o livro sobre o Paulo Francis, levei para casa e perdi – literalmente, perdi – algumas horas da noite, lendo uma seqüência de ataques rasteiros. Fernando Jorge, com incompreensível fúria, investe contra Francis, acusando-o de plagiário e inimigo do idioma, tantos os erros gramaticais cometidos. Livro escrito com ódio. Ou, em algum lugar do passado, Francis espinafrou Fernando Jorge, que não o perdoou, ou é inveja mesmo, já que Fernando Jorge, de larga data mergulhado no ostracismo, provavelmente não suportou o retumbante sucesso de Paulo Francis, articulista dos principais jornais do Brasil e cronista habitual da ‘’Globo’’. Além disto, produziu importante obra literária, da qual destaco ‘’Cabeça de Papel’’ e ‘’Trinta Anos esta Noite’’, de leitura obrigatória. Francis, com a acuidade que o caracterizava, denunciou, com quase 20 anos de antecedência, os desmandos na Petrobrás.

No dia seguinte, voltei à livraria e, como sou cliente habitual, devolvi o medíocre livro do Fernando Jorge, ou, melhor, troquei-o por outro: ‘’O Sangue do Cordeiro’’, cujo autor, Sam Cabot, conta a historia de importante documento, subtraído da biblioteca do Vaticano, por feroz poeta antipapista e que, quando e se revelado, poderá abalar a estrutura da Igreja Católica. Promete! Depois eu conto. 

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