Tenho ancestral hábito de percorrer livrarias, em busca de
assuntos novos, independentemente de suas naturezas. A depender de meu estado
de espírito, vou da ficção à receita de bolo, passando pelos livros de
Historia, estes, meus prediletos. Nos tempos de jovem – já o fui, acreditem! –
minhas livrarias preferidas eram a ‘’Freitas Bastos’’, na XV de Novembro, a
‘’Civilização Brasileira’’ e a ‘’Livraria Francesa’’, estas últimas na Barão de
Itapetininga, que nem sei se ainda existem, tanto tempo que não vou àquelas
bandas. Atualmente, minha escolhida é a ‘’Martins Fontes’’, na esquina das
Avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antonio, à direita de quem vai para o
‘’Paraíso’’. Freqüento-a, com fidelidade, há vários anos, o que me permite, com
desenvoltura, achar o que procuro, ou garimpar, sem gastar muito tempo. Não é
que, na última semana, em lá estando, deparei com um livro do Fernando Jorge,
tendo por tema a obra de Paulo Francis? Surpreendi-me, porque imaginava que o
Fernando Jorge estava morto, já que nunca mais ouvira falar nele. Fora
intelectual menor que, lá pelos anos 70, pretendeu ser um Gregório de Matos,
cognominado ‘’boca do inferno’’, pela natureza ferina de seus poemas. Todavia,
Fernando Jorge ‘’não decolou’’ e, no final dos anos 80, publicou um livro
‘’Cala a boca, Jornalista’’, falando da censura, à época do regime militar. O
livro, além de medíocre, chegava tarde, com Sarney em pleno governo e muitas
outras obras sobre o tema, desenvolvidas com mais competência. Comprei o livro
sobre o Paulo Francis, levei para casa e perdi – literalmente, perdi – algumas
horas da noite, lendo uma seqüência de ataques rasteiros. Fernando Jorge, com
incompreensível fúria, investe contra Francis, acusando-o de plagiário e
inimigo do idioma, tantos os erros gramaticais cometidos. Livro escrito com
ódio. Ou, em algum lugar do passado, Francis espinafrou Fernando Jorge, que não
o perdoou, ou é inveja mesmo, já que Fernando Jorge, de larga data mergulhado
no ostracismo, provavelmente não suportou o retumbante sucesso de Paulo
Francis, articulista dos principais jornais do Brasil e cronista habitual da
‘’Globo’’. Além disto, produziu importante obra literária, da qual destaco
‘’Cabeça de Papel’’ e ‘’Trinta Anos esta Noite’’, de leitura obrigatória.
Francis, com a acuidade que o caracterizava, denunciou, com quase 20 anos de
antecedência, os desmandos na Petrobrás.
No dia seguinte, voltei à livraria e, como sou cliente
habitual, devolvi o medíocre livro do Fernando Jorge, ou, melhor, troquei-o por
outro: ‘’O Sangue do Cordeiro’’, cujo autor, Sam Cabot, conta a historia de
importante documento, subtraído da biblioteca do Vaticano, por feroz poeta
antipapista e que, quando e se revelado, poderá abalar a estrutura da Igreja
Católica. Promete! Depois eu conto.
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