Sexta-feira fria e chuvosa, pessoas de semblante fechado,
trânsito amarrado, atrasando ou cancelando compromissos, tudo isto leva-nos a
pequenas e passageiras depressões, lembrando o verão que se foi, junto com a
idade que se teve e que consagrava, em todo o seu esplendor, o direito de ir e
vir, hoje limitado, pelo tempo, como fenômeno meteorológico e como todos os
anos decorridos. Reconforta-nos constatar que faz, exatamente, 8 dias que Dilma
e seu bando se foram e a guerrilha, que eles preconizaram, não aconteceu. Há certas
solidariedades que só vão até o ferimento leve, como dizia o saudoso Abelardo
Jurema. Aliás, solidariedade é substantivo que, dia a dia, torna-se mais
rarefeito, cada qual tendo que enfrentar seus leões, que o mar não está pra
peixe. Deus, quando fez o homem – e a mulher, em momento de precipitação,
desculpe, Chefe, - fê-lo a sua imagem e semelhança. Equivocou-se – desculpe,
outra vez, Chefe – querendo o dotou de livre arbítrio, porque aí nasceu o
‘’pega pra capar’’ ou o ‘’salve-se quem puder’’, as guerras, individuais e
coletivas. Ao constatar que o homem se tornara um desvairado, diz o ‘’livro do
Genesis’’ que ‘’O Senhor arrependeu-se de ter feito o ser humano na terra’’ (Gn
6,6). Apesar disto, Ele resolveu nos dar outra oportunidade, destruindo tudo e
todos, para começar tudo de novo, porisso preservou Noé, único puro e sua prole
e os animais que ele escolheu. Adiantou? Coisa nenhuma, porque a maldade, ao
contrario do que imaginava Rousseau, está impregnada no ser humano, desde o
momento da concepção. Deus, que é persistente, ainda mandou seu Filho, para nos
ministrar lição de amor ao próximo. E o que esse Filho trabalhou, não teve prá
ninguém. Percorreu centenas de quilômetros, pregando a paz e a fraternidade,
curou doentes, expulsou demônios, ressuscitou mortos, enfrentou os poderosos e,
por fim, sacrifício supremo, deixou-se imolar. Adiantou? A meu modestíssimo
juízo, não. Mal ascendeu ele ao céu, o pau voltou a comer, aqui embaixo e até
inventaram uma expressão equivocada: ‘’o homem é o lobo do homem’’. Equivocada
sim, porque lobo não come lobo. Ao contrario, a alcatéia se une, para se auto
proteger, enquanto o ser humano trucida seu semelhante, seja para lhe tomar o
território, seja para subtrair-lhe um misero celular. Vejam-nos, a nós, os
católicos praticantes: pelo menos uma vez por ano, por ocasião da Páscoa,
evento maior da Cristandade, nós nos confessamos e, seguindo o ritual,
assumimos o compromisso de não reincidir nos mesmos erros confessados.
Cumprimos o compromisso assumido? Qual o que! Já na saída da Igreja, cobiçamos
a mulher do próximo, que passa com suas coxas torneadas e nos mordemos de
inveja da BMW, tinindo de nova, estacionada à frente de nosso carro, a pedir
aposentadoria. A ultima vez que me confessei, meu confessor de 5 ou mais anos,
nem mesmo me determinou uma penitencia. Provavelmente, conhecendo-me bem, tinha
certeza que, dá próxima vez, eu voltaria contando os mesmos pecados. Como se
trata de Sacerdote de refinada cultura e excelente papo, penso que, quando lá
voltar, vou apenas para jogar conversa fora e, quanto aos pecados, apenas
direi: ‘’vide os da vez anterior, os quais ratifico, em seu inteiro teor e
forma.’’
Desculpem-me, mas é o que tenho para uma melancólica
sexta-feira sem previsão de melhorar, no resto do fim-de-semana.
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