quinta-feira, 31 de março de 2016

Sem esquecer que hoje é 31 de Março



Lá por volta de 1975, morando no Rio e ainda com as sobras do resto de juventude, tinha eu o hábito matinal de, antes de ir para o trabalho, correr na orla da praia de Copacabana, fazendo, ida e volta, o percurso Leme (onde morava) – Posto 6. Mal o sol dourava o dia, lá ia eu respirar aquele ar e decorando a paisagem, que ficariam gravados, para sempre, em minha memória. Certa manhã, acho que por volta do ano 75, lá ia eu, já quase completada a primeira fase do percurso, quando passa por mim um homem bastante conhecido, até porque, durante anos, seu retrato era enfeite obrigatório em minha sala de trabalho, no Ministério da Fazenda. Tratava-se do ex-presidente Emilio Garrastazu Medici, que fazia o trajeto contrário, caminhando, sem muita pressa, em companhia de outra pessoa. Apesar de ter trabalhado, durante seu governo e como era peixe muito miúdo, nunca o vira de perto, senão no Maracanã, ele, na Tribuna de Honra, radinho de pilha ao ouvido. Por certo, não perderia a oportunidade de, pelo menos, cumprimentá-lo, o que fiz, entabolando amena conversa que durou uns 200 metros. Homem simples e cortês, que viveu e morreu tendo, como patrimônio, modesto apartamento na Rua Julio de Castilho e uma fazendola de gado, no Rio Grande do Sul e que viera dos pais. Outro dia, um ex-Ministro de  Medici, que me privilegia com seu convívio, contou-me o seguinte e eloquente episodio: durante o Governo Medici, festas de final-de-ano, invariavelmente, eram regadas a uísque ‘’Drurys’’ e biscoito de água e sal. Certa feita, o garçom surgiu com uísque escocês. Questionado, por Medici, sobre a origem do dito cujo, foi-lhe respondido que a Receita Federal apreendera um contrabando daquele ‘’Scoth’’ e mandara uma caixa para o Planalto. Medici, irritado, mandou devolver a caixa e prender o Secretário da Receita (que hoje, interinamente, governa importante Estado da Federação), prisão que só não se efetivou pela interferência de alguns Ministros que, entristecidos, voltaram ao nacional ‘’Drurys’’. Relembro estes episódios, de simplicidade e austeridade, primeiro, porque a data é emblemática e, segundo e principalmente, porque vivemos tempos distintos, mas sem nenhuma distinção, tempo de triplex e sítios, reformados com dinheiro desviado da principal empresa pública. Tempo que só se bebe uísque de 60 anos e se gasta 60 mil reais, em um jantar, tudo, naturalmente com o dinheiro do contribuinte. Os que se insurgiram contra o Governo Medici, em nome da liberdade e da democracia, hoje, estão presos, por corrupção ou mergulharam o Brasil na pior crise econômica de sua historia, quando desemprego e desconfiança dos investidores, surgem como marca registrada. Resta perguntar: que Brasil preferíamos: aquele, da austeridade, ou o de hoje, guiado ladeira abaixo, pelas mãos da corrupção? Afinal, para que serve a democracia, senão para servir aos reais interesses do povo?

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