Os que já percorreram longa estrada, como este canhestro
escriba, que vos fala, hão de se lembrar dos difíceis dias do Governo Sarney,
com a inflação batendo nos 90% ao mês, as gôndolas dos supermercados vazias de
produtos essenciais e o ‘’mercado negro’’
funcionando a todo vapor, fosse para o tomate, fosse para a carne. Todavia, o
País sobreviveu, porque o mercado de trabalho continuou absorvendo mão-de-obra,
em todos os seus níveis. Voltamos, agora, a viver dias difíceis, agravados com
fato novo, a merecer especial atenção: acentuado crescimento da taxa de
desemprego. A insegurança política gerou a queda de investimento e a saída
provisória, que se encontrou para minimizar os efeitos da crise econômica, foi
reduzir custos fixos, que, primordialmente, traduz-se em dispensar empregados.
Como todos os segmentos foram atingidos, o desemprego vai de construção civil,
que absorve mão-de-obra de baixa qualificação, até empresas de alta tecnologia.
Quer dizer: não há para onde fugir. Índices oficiais – dos quais sempre se deve
duvidar – indicam que há, hoje, no Brasil, cerca de 10 milhões de
desempregados. Acresçam-se a esses números, os que trabalham em subempregos e
os aposentados, todos com salários, insuficientes, até, para suprirem
necessidades essenciais à simples sobrevivência. O resultado desta perversa
soma é a redução do consumo, formando um círculo vicioso, que não se desfaz. Um
País em que 20% dos jovens não conseguem emprego, por obvio, não pode ser
cognominado ‘’país do futuro’’. Com
mais freqüência e intensidade, esses jovens, alguns altamente qualificados,
saem do Brasil, em busca de oportunidades. Perdemos, assim, nosso principal
capital e o perdemos, de forma irrecuperável. Por outro lado, a crescente queda
do consumo pode nos levar a uma situação diametralmente oposta àquela vivida no
governo Sarney: a inimaginável cena de os supermercados, com suas gôndolas
abarrotadas de produtos, sem ter quem os compre. A possibilidade é real e
qualquer economista serio a confirma. Enquanto isto, como se vivêssemos em
outro planeta, o PMDB decide se rompe ou não com o Governo; os congressistas,
citados da operação lava-jato, procuram justificar a origem do dinheiro, recebido
das construtoras; o Poder judiciário debate se Lula pode ser ou não seu
Ministro e 06 milhões de pessoas saem às ruas, pedindo que Dilma seja despejada
do Palácio do Planalto. Perdemos - todos perdemos - a noção do transcendental,
qual seja, como romper o circulo vicioso e retomar o caminho do
desenvolvimento, que gera emprego, que recompõe a dignidade do ser humano, que
dela é despido, quando se lhe aponta o ‘’olho
da rua’’. Se esta retomada do desenvolvimento será com ou sem Dilma, esta é
questão menor. Se a historia serve para ensinar, convém lembrar que Churchill,
depois de comandar a Inglaterra rumo à vitoria, na 2ª Guerra Mundial, não
conseguiu ser reconduzido ao cargo de Primeiro Ministro e a Inglaterra seguiu
em frente. Que Nixon, depois de ter tido a coragem de retirar as tropas
americanas da humilhante guerra do Vietnã, depois de ter restaurado as relações
comerciais com a China, por um deslize, (que, no Brasil, seria comparado a um
furto de galinhas), foi obrigado a renunciar à Presidência e os Estados Unidos
seguiram em frente. O que acontece entre nós? Travou-se um nacional duelo entre
os que são a favor do impeachment e os que são contra ele. Entre os que
defendem a prisão de Lula e os que a repudiam. Este maniqueísmo, esta luta
entre o bem e o mal, está instalada nas redes sociais, na mídia, nas conversas
de restaurantes e botequins, como se fosse a decisão mais relevante, a ser
tomada. Não se identifica, em qualquer lado, um consistente projeto de
recuperação do Pais. Um pouco abaixo de nós, na Argentina, Macri, em menos de
06 meses, recuperou a credibilidade do País, a tal ponto que Obama,
literalmente passando sobre nós, comprometeu-se a recolocar a Argentina no
concerto das nações desenvolvidas. Resta-nos, pelo menos enquanto não aflorar o
bom senso, a indigesta companhia da Bolívia e da Venezuela.
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