Esta Santa semana, inaugurada no ‘’domingo de ramos’’, a marcar a entrada triunfal de Jesus, em
Jerusalém, não pode ser conspurcada por considerações e analises sobre o podre
momento político, vivido por nosso infeliz País, cujos governantes despem-se do
mínimo de dignidade, apenas para manterem seus espúrios privilégios. Jesus
entra em Jerusalém, montado em humilde jumento, iniciando seu périplo, que não
termina no calvário, mas na ressurreição, a vida, vencendo a morte. Nesta
semana, de sofrida caminhada, Cristo foi vítima da traição de Judas, da
vacilação de Pedro e viu o sofrimento no rosto de Maria, essência de todas as
mães verdadeiras. Há mais de dois mil anos que Cristo nos deu a lição de amor e
de misericórdia. Ninguém duvida mais da passagem de Cristo, pela terra, homem,
igual a todos os homens, em tudo, menos em pecado. Todavia, parece que
continuamos cegos e surdos, pois persistimos em nosso egoísmo; não vemos ou,
pior, recusamos a ver as injustiças sociais, que fazem velhos e crianças
dormirem, semi desnudos, cobertos por folhas de papelão, sob as marquises dos
prédios, rescendendo a urina. Passamos por eles, como se aqueles velhos, um
dia, jovens, não tivessem tido um sonho, o sonho de viver uma vida digna. E
aquelas crianças, já mergulhadas em droga, são meras estatísticas, usadas como
justificativa para redução da maioridade penal. O País, que não dispõe de
vagas, nas creches, cujos hospitais públicos fornecem – quando fornecem – um
atendimento tão precário que pessoas, humildes pessoas, morrem a suas portas,
entretanto, este mesmo País, desgraçado País, realizou uma Copa do Mundo e vai
realizar Olimpíadas, cuja finalidade precípua foi e é enriquecer,
indevidamente, empresários e servidores públicos, de todos os níveis. E, se a
população vai às ruas, pedindo o fim desta barbárie, justificam, eles, os
vendilhões do templo, que se prega um golpe. Na verdade, continuamos cultivando
estreitíssimo conceito de amor e, mais que este, cultivamos, mesmo, o
ressentimento. Buscamos, fora de nós, culpados para nossos erros e fracassos.
Olhamos para a imagem do Cristo crucificado, a cabeça envergada sobre o peito,
os sinais da dor afligida, despojado de vestes e sabemos que Ele quer nos dizer
alguma coisa. Na verdade, há mais de dois mil anos Ele nos repete a mesma lição:
sem o amor, ventre maior do respeito ao próximo, da caridade, material e moral,
não somos nada, e nossa única real perspectiva é retornar ao pó. Na
quinta-feira Santa Jesus reparte o pão entre seus discípulos. Com quem temos
partilhado nosso pão? A quem temos estendido nossas mãos, espontaneamente, sem
nada querer ou esperar, em troca? Eis algumas reflexões, que esta semana nos
sugere.
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