quarta-feira, 23 de março de 2016

Porque vivemos a semana Santa

Esta Santa semana, inaugurada no ‘’domingo de ramos’’, a marcar a entrada triunfal de Jesus, em Jerusalém, não pode ser conspurcada por considerações e analises sobre o podre momento político, vivido por nosso infeliz País, cujos governantes despem-se do mínimo de dignidade, apenas para manterem seus espúrios privilégios. Jesus entra em Jerusalém, montado em humilde jumento, iniciando seu périplo, que não termina no calvário, mas na ressurreição, a vida, vencendo a morte. Nesta semana, de sofrida caminhada, Cristo foi vítima da traição de Judas, da vacilação de Pedro e viu o sofrimento no rosto de Maria, essência de todas as mães verdadeiras. Há mais de dois mil anos que Cristo nos deu a lição de amor e de misericórdia. Ninguém duvida mais da passagem de Cristo, pela terra, homem, igual a todos os homens, em tudo, menos em pecado. Todavia, parece que continuamos cegos e surdos, pois persistimos em nosso egoísmo; não vemos ou, pior, recusamos a ver as injustiças sociais, que fazem velhos e crianças dormirem, semi desnudos, cobertos por folhas de papelão, sob as marquises dos prédios, rescendendo a urina. Passamos por eles, como se aqueles velhos, um dia, jovens, não tivessem tido um sonho, o sonho de viver uma vida digna. E aquelas crianças, já mergulhadas em droga, são meras estatísticas, usadas como justificativa para redução da maioridade penal. O País, que não dispõe de vagas, nas creches, cujos hospitais públicos fornecem – quando fornecem – um atendimento tão precário que pessoas, humildes pessoas, morrem a suas portas, entretanto, este mesmo País, desgraçado País, realizou uma Copa do Mundo e vai realizar Olimpíadas, cuja finalidade precípua foi e é enriquecer, indevidamente, empresários e servidores públicos, de todos os níveis. E, se a população vai às ruas, pedindo o fim desta barbárie, justificam, eles, os vendilhões do templo, que se prega um golpe. Na verdade, continuamos cultivando estreitíssimo conceito de amor e, mais que este, cultivamos, mesmo, o ressentimento. Buscamos, fora de nós, culpados para nossos erros e fracassos. Olhamos para a imagem do Cristo crucificado, a cabeça envergada sobre o peito, os sinais da dor afligida, despojado de vestes e sabemos que Ele quer nos dizer alguma coisa. Na verdade, há mais de dois mil anos Ele nos repete a mesma lição: sem o amor, ventre maior do respeito ao próximo, da caridade, material e moral, não somos nada, e nossa única real perspectiva é retornar ao pó. Na quinta-feira Santa Jesus reparte o pão entre seus discípulos. Com quem temos partilhado nosso pão? A quem temos estendido nossas mãos, espontaneamente, sem nada querer ou esperar, em troca? Eis algumas reflexões, que esta semana nos sugere.

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