sexta-feira, 11 de março de 2016

Para lembrar as “corridas de submarino”

Corria tranquilo o ano de 1967, a Revolução já consolidada e o País a caminho da recuperação do desastre econômico, deixado pelo desgoverno Goulart. O então presidente, Castelo Branco, movimentava-se, com desenvoltura, inclusive freqüentando teatros, no eixo Rio - São Paulo, fato inimaginável nos dias atuais, quando a mídia noticia que o Ministro Jaques Vagner foi apupado, em restaurante de Brasília. Todavia, como hoje é sexta-feira, dia sem gravata e paletó, deixemos, de lado, o lado putrefato da política dos tempos modernos e tratemos de coisas amenas. Como ia dizendo, corria o ano de 1967 e eu, ainda, recém-formado, funcionava como ‘’advogado dativo’’ na 21ª Vara Criminal de nossa Capital. De longa data, uma quadrilha de meliantes desafiava a polícia paulista. Agia ela, a quadrilha, no entorno da represa, em Interlagos, à época, local ermo, para onde se dirigiam casais, para assistirem a ‘’corridas de submarino’’. Quando estavam no ‘’melhor da festa’’, eram abordados pela quadrilha que se apropriavam de todos os pertences, deixando os ‘’pombinhos’’, absolutamente nus. Jamais cometiam qualquer ato de violência física contra as vítimas, preferindo se divertirem, ao final do assalto. Certa feita, conduziram-nas, totalmente despidas, amarrando-as, neste estado, naquela horrorosa estátua do Borba Gato, que fica em Santo Amaro. Doutra feita, após constatar que vítimas eram chefe e secretaria, ele, casado, conduziram-nos até a residência do próprio, tocaram a campainha e, quando a esposa apareceu, o desnudo casal foi deixado aos cuidados da mesma. Finalmente, a quadrilha foi presa e, concluído o inquérito, o processo foi distribuído à 21ª Vara Criminal. Como os réus alegaram não dispor de recursos para pagar advogado, eu fui designado para defendê-los. Os componentes do bando eram ‘’negros como as asas da graúna’’ (a razão do apelido) e os assaltos eram sempre praticados à noite, daí a dificuldade das vítimas em identificar os meliantes. Assim, a estratégia, que utilizei foi o da negativa de autoria. Não me lembro se tive êxito, mas duvido, porque o Juiz, meu saudoso amigo, Dr. Fausto Whitaker, era rigoroso e mão pesada. Lembro-me, isto sim, do casal desnudo, absolutamente constrangido, prestando depoimento, em juízo. Romântica época, ao contrario dos dias atuais, quando se mata, até para subtrair celular. Acho, até, que as ‘’corridas de submarino’’, não existem mais, até porque, como diria Vinicius, ficaram demais os perigos desta vida. 

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