Corria tranquilo o ano de 1967, a Revolução já consolidada e
o País a caminho da recuperação do desastre econômico, deixado pelo desgoverno
Goulart. O então presidente, Castelo Branco, movimentava-se, com desenvoltura,
inclusive freqüentando teatros, no eixo Rio - São Paulo, fato inimaginável nos
dias atuais, quando a mídia noticia que o Ministro Jaques Vagner foi apupado,
em restaurante de Brasília. Todavia, como hoje é sexta-feira, dia sem gravata e
paletó, deixemos, de lado, o lado putrefato da política dos tempos modernos e
tratemos de coisas amenas. Como ia dizendo, corria o ano de 1967 e eu, ainda,
recém-formado, funcionava como ‘’advogado
dativo’’ na 21ª Vara Criminal de nossa Capital. De longa data, uma
quadrilha de meliantes desafiava a polícia paulista. Agia ela, a quadrilha, no
entorno da represa, em Interlagos, à época, local ermo, para onde se dirigiam
casais, para assistirem a ‘’corridas de
submarino’’. Quando estavam no ‘’melhor
da festa’’, eram abordados pela quadrilha que se apropriavam de todos os
pertences, deixando os ‘’pombinhos’’,
absolutamente nus. Jamais cometiam qualquer ato de violência física contra as
vítimas, preferindo se divertirem, ao final do assalto. Certa feita, conduziram-nas,
totalmente despidas, amarrando-as, neste estado, naquela horrorosa estátua do
Borba Gato, que fica em Santo Amaro. Doutra feita, após constatar que vítimas
eram chefe e secretaria, ele, casado, conduziram-nos até a residência do
próprio, tocaram a campainha e, quando a esposa apareceu, o desnudo casal foi
deixado aos cuidados da mesma. Finalmente, a quadrilha foi presa e, concluído o
inquérito, o processo foi distribuído à 21ª Vara Criminal. Como os réus
alegaram não dispor de recursos para pagar advogado, eu fui designado para
defendê-los. Os componentes do bando eram ‘’negros
como as asas da graúna’’ (a razão do apelido) e os assaltos eram sempre
praticados à noite, daí a dificuldade das vítimas em identificar os meliantes.
Assim, a estratégia, que utilizei foi o da negativa de autoria. Não me lembro
se tive êxito, mas duvido, porque o Juiz, meu saudoso amigo, Dr. Fausto Whitaker,
era rigoroso e mão pesada. Lembro-me, isto sim, do casal desnudo, absolutamente
constrangido, prestando depoimento, em juízo. Romântica época, ao contrario dos
dias atuais, quando se mata, até para subtrair celular. Acho, até, que as ‘’corridas de submarino’’, não existem
mais, até porque, como diria Vinicius, ficaram demais os perigos desta vida.
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