Quando olho meu “curriculum”,
que não é lá estas coisas, causa-me especial orgulho ter atuado, sob a batuta
do Ministro Delfim Netto, entre 1970 e 1974, no Ministério da Fazenda. É claro
que eu, deslustrado tocador de “pratos”,
só via o “maestro” muito de longe,
até porque eu era subordinado ao Secretario Geral, José Flavio Pécora, de
saudosa memória e que fazia questão de me ter como goleiro de seu time, em
nossas “peladas” noturnas, no campo
do Flamengo ou no da “Escola de Administração
Fazendária”, que construímos, em Brasília. Bons e saudosos tempos! Percorri
outras estradas e voltei a reencontrar o Ministro, ele, no Planejamento,
cercado de assessores, alguns, amigos que já se foram, como o próprio Pécora e
Roberto de Carvalho, levado, prematuramente, pelo uso abusivo de cigarro. Mas,
a partir daí passei a ter maiores contatos com o Ministro, a cujas palestras
assisto e a quem recorro, para beber em sua invejável lucidez e sapiência,
sempre levado pelas mãos de seu fiel escudeiro, Manoel Anastácio. Da última
vez, em que estive em seu escritório, ali no Pacaembu, travamos acalorado
debate (ousadia minha) sobre o momento político-econômico, vivido pelo País, ele
defendendo Dª Dilma. Não me surpreendi, porque, ao que consta – e ele não
confirma – foi um dos “Richelieu” de
Lula, na economia. Pois, ontem, cumprindo ritual de todas as manhãs, antes de
começar o batente, acesso o “Google
Notícias” e vejo um Delfim furibundo, insuflando Dilma à rebeldia contra o
judiciário e o legislativo e sugerindo que ela “vá à televisão mostrar à sociedade com clareza, que, para desgastá-la,
alguns oportunistas recusam os caminhos institucionais e ensaiam jogar o Brasil
no caos financeiro”. O estilo é o homem, já disse alguém, e esse é o estilo
de meu queridíssimo ex Ministro: jamais ficar “em cima do muro”, diz o que pensa e o faz com argumentos sólidos.
Todavia, visto a carapuça e me incluo entre os “oportunistas”. Apenas refuto, dizendo que se está o Brasil, no “caos financeiro” é por conta desse
governo, que produziu o maior índice de desemprego, dos últimos 15 anos, que
provoca a retração, na industria e no comercio e que, agora, propõe a redução
dos salários dos trabalhadores. Quem fica excluído do sacrifício, imposto ao
País, é o próprio governo, que mantém seus inúteis 38 ministérios e as
instituições financeiras que acumulam lucros indecentes, cobrando juros, que
humilham os mais sanguinários agiotas. Se vier à televisão – como sugere meu
querido Delfim – a Presidente vai dar traço de audiência, porque sua
credibilidade está mais baixa do que “bunda
de sapo”. Hoje, a prioridade da Presidente é salvar a própria pele, para
não pegar a mesma estrada, trilhada por Collor, em 1992.
Agora, tem uma coisa, meu caríssimo Delfim: se o senhor virar
Ministro de Dilma, aí só me restará requerer sua interdição.
Observação para os
menos avisados:
“delfim” era o
titulo que se dava, na França, à época da monarquia, derrubada pela Revolução
Francesa, ao herdeiro do trono e, metaforicamente, usado (pelo menos, por
“dinossauros”, como eu), como sinônimo do “preferido” por quem está no Poder.
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