sexta-feira, 31 de julho de 2015

Lula x “Veja”


Leio que o ex-presidente Lula ingressou com ação contra a revista ‘’Veja’’, em razão de reportagem, veiculada na edição do último fim-de-semana, envolvendo-o, ele e ate seus familiares, em atos de corrupção. A revista cravou marco de seriedade, no jornalismo brasileiro e se mantém atuante e influente, mesmo numa época em que a mídia impressa vem cedendo espaço, principalmente para a mídia eletrônica. Assim, sua credibilidade constitui a viga mestra de sua sustentação, como a mais importante revista do País. Se tal viga se romper, ‘’Veja’’, com certeza, tomará o rumo do arquivo morto, como já aconteceu com tantos outros noticiários. Por outro lado, Lula vem percorrendo caminhos, pelo menos nebulosos, desde o episódio ‘’mensalão’’. Ficou, na época, uma pergunta parada no ar: como foi possível que se realizassem tantas negociatas, envolvendo as figuras mais proeminentes do PT, todos pertencentes à ‘’entourage’’ do ex-presidente, sem que ele também não estivesse envolvido? Todavia, a Constituição Federal concede a todos brasileiros, a ‘’presunção de inocência’’ e Lula, por óbvio, também é beneficiário dela. A imprensa é livre, mas responde, cível e penalmente, pelas notícias, falsamente veiculadas, e que conspurquem a honra e a dignidade de qualquer cidadão, inclusive e principalmente em se tratando de um ex-presidente. Ao bater às portas do Judiciário, Lula presta inestimável serviço ao Brasil. Terá ele oportunidade de provar como constituiu seu vasto patrimônio, identificado por ‘’Veja’’ e sua relação com a Construtora ‘’Odebrecht’’, a quem, como se divulgou, serviu, no exterior, como privilegiado ‘’relações públicas’’. Provada sua inocência, como conseqüência da condenação de ‘’Veja’’, Lula terá restaurada sua credibilidade, o que o legitimará, se o quiser, a representar seu partido, no próximo pleito presidencial. Se, ao contrário, a ação for julgada improcedente, reconhecendo-se a veracidade das notícias, veiculadas por ‘’Veja’’, escancaram-se as portas para que Lula seja penalmente responsabilizado, lançando-se, definitivamente, seu nome no rol dos inimigos da pátria, que devem ser esquecidos, por todo o sempre.

Obrigado, Lula, pela oportunidade dada ao Brasil, de conhecer sua verdadeira historia. 

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A liberdade como regra


Não criei este ‘’blog’’ para debater temas jurídicos, que prefiro deixar circunscritos a meu universo profissional. Todavia, em circunstancias especialíssimas, quando está em jogo o cumprimento da lei, que nos protege a todos, sou obrigado a abrir exceção. Tenho falado de minha admiração pelo juiz Sergio Moro que, na fase judicial da operação ‘’lava jato’’, abre novo capítulo no combate à corrupção, no Brasil. Aquele magistrado vem agindo, com extrema e admirável cautela, para que os tribunais superiores, através de filigranas, não lancem ao mar todo o ingente trabalho realizado, como aconteceu, no passado, em casos semelhantes. Agora, Sergio Moro, acolheu denuncia do Ministério Público e transformou em réu Marcelo Odebrecht, presidente da Construtora de mesmo nome. Se o fez, foi porque entendeu S. Excia. da existência de consistentes provas, a indicarem que o agora réu, praticou os crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Com a decisão do Juiz, acolhendo a denuncia do Ministério Público, encerra-se a fase investigatória e se inicia a fase processual, propriamente dita, ouvindo-se as testemunhas, de acusação e de defesa, interrogando-se o réu e, depois de a acusação e a defesa apresentarem suas ‘’alegações finais’’ (a defesa já deve ter apresentado suas ‘’alegações preliminares’’) será proferida sentença.

Por que fiz tal digressão? Marcelo Odebrecht, teve sua prisão preventiva decretada e apenas está preso em razão dela. A Constituição Federal assegura a qualquer cidadão, processado pela suposta prática de crime, a chamada ‘’presunção de inocência’’, que só se apaga após condenação definitiva. Assim, como corolário de tal garantia constitucional, o acusado tem o direito de aguardar o julgamento em liberdade e, mantê-lo preso, enquanto perdura o processo, através de prisão preventiva, é exceção à regra e, por isso mesmo, somente pode ocorrer em circunstâncias, expressamente previstas em lei: como garantia da ordem pública, por conveniência do processo, ou para assegurar a aplicação da lei penal. Ora, até onde se sabe, o Sr. Marcelo é primário, isto é, nunca cometeu outro crime, tem residência fixa e profissão definida. Por esse conjunto de elementos não se identifica o mais tênue indicio que, em liberdade, poderá colocar em risco a ordem pública. Em segundo lugar, a chamada ‘’instrução criminal’’, que vem a ser o conjunto de atos que compõem o processo, já está plenamente garantida, vez que todos os necessários elementos probatórios já foram colhidos, na fase investigatória. Finalmente, estando ele com seu passaporte retido, tendo negócios e família no Brasil, improvável que fuja, frustrando a aplicação de eventual pena. Diante de tais argumentos, sustentados pela lei e pelo entendimento de nossos tribunais, a prisão preventiva deve ser revogada, concedendo-lhe o direito de responder ao processo, em liberdade, lembrando que a prisão preventiva pode ser restaurada, a qualquer momento, se advier fato novo que justifique sua decretação. O juiz Sergio Moro, até agora, tem atuado com equilíbrio e isenção e deve continuar assim agindo, sem se deixar pressionar por fatores, acima da lei, sob pena de comprometer seu excepcional trabalho. 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Edward Snowden, heroi ou vilão?

As opiniões sobre o pedido de indulto, negado pelo Presidente Barack Obama a Edward Snowden, nem mais divide a opinião pública internacional. Como se sabe, Snowden, cidadão americano, revelou à imprensa todo o esquema de espionagem, realizado pelo governo norte americano, tendo, como ‘’espionados’’, países como França, Alemanha e até o Brasil. A espionagem sempre existiu, seja como elemento de defesa, para evitar o efeito surpresa, seja para estabelecer a melhor estratégia para enfrentar o adversário. Foi, nestes termos, largamente difundida na segunda grande guerra e, especialmente, durante a ‘’Guerra Fria’’, envolvendo os Estados Unidos e a extinta União Soviética, servindo de inspiração para criação do personagem ‘’James Bond’’, imortalizados, na tela, por Sean Connery. Pois Snowden funcionou como uma espécie de ‘’contra espião’’, roubando e revelando informações, consideradas relevantes pelo seu próprio País. Foi, sem dúvida, um traidor da pátria e, para não ser punido pelos seus atos, acabou por se exilar na Rússia, onde vive. Agora, pleiteia voltar aos Estados Unidos, desde que seja perdoado e Obama disse ‘’não’’. Talvez, aos olhos dos ‘’espionados’’, Snowden possa, até, ser considerado um ‘’homem do bem’’, todavia, recente pesquisa, realizada pelo ‘’Washington Post’’ revelou que 93% dos norte americanos consideram-no traidor, que, com suas revelações, comprometeram a segurança do País, o que é fonte da maior preocupação daquele povo. Para se ter idéia do conceito desabonador de Snowden, apenas 167 mil norte americanos opinaram a favor do indulto, o que fortalece a posição da Casa Branca de que, se ele retornar, será julgado pelo crime de espionagem. Paralelamente, também se discute se países, como a Russia, que mantém relações diplomáticas com os Estados Unidos, podem ou devem conceder asilo a autores de crimes dessa magnitude. O Direito Internacional tem se direcionado no sentindo oposto, isto é, na ampla cooperação, entre os países, no sentido de não abrigarem criminosos, cujas ações delituosas atentem contra a coletividade. Assim tem sido, por exemplo, com o tráfico internacional de entorpecentes, a prática de atos de terrorismo e, como vimos, recentemente, com membros da Fifa, envolvidos em crimes financeiros. O certo é que estão acabando, no mundo, os ‘’esconderijos’’ para os inimigos públicos e Snowden é, sem dúvida, um deles. Se voltar, será julgado e severamente punido. O que se pergunta é até quando a Rússia, que tem importantes relações econômicas e políticas com os Estados Unidos, manterão o asilo, concedido a Snowden, cujo brilho midiático já se apagou.


terça-feira, 28 de julho de 2015

O trigo e o joio

Antes de começar o trabalho, tenho o hábito de ler o evangelho do dia e fazer rápida reflexão sobre o mesmo. O de hoje, 28, obrigou-me a trazer o texto bíblico para o momento brasileiro atual:

1-    O Evangelho (segundo Mateus, 13,36-43):

Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: ‘’Explica-nos a parábola do joio’’. Ele respondeu: ‘’Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos. Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça’’.

2-    A reflexão: aqueles que semeiam a boa semente são os que trabalham e vivem, segundo as boas normas de conduta, ajudando o País a crescer, privilegiando o bem comum. São o trigo. Os maus governantes, que assaltam os cofres públicos, que desviam para si os recursos que deveriam ser utilizados na saúde, na educação, na segurança pública, são o joio, os filho do maligno, que deverão ‘’ser jogados na fornalha de fogo’’.
No próximo dia 16 de agosto, teremos a oportunidade de, nas ruas de todo o País, recolher todo o joio, (o lulopetismo) que impede o bom crescimento do trigo (o Brasil), para atirá-lo à fornalha.



segunda-feira, 27 de julho de 2015

Lisboa, 1° de março do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, de 1.500.

Lisboa, 1° de março do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, de 1.500. 
-Excelentíssimo e Honradíssimo Senhor Pedro Álvares Cabral

Ilustre Senhor,
Fiquei sabendo, através de dileto amigo, que frequenta a Corte, que o Rei, D. Manoel, pretende financiar, expedição marítima, a ser empreendida pelo senhor, com destino às Índias. Posto ser isto verdade, julgo-me na obrigação, como vidente juramentado, de alertá-lo para grande risco que pode comprometer tão nobre empreitada. Como é sabido, alguns anos atrás, seguindo o mesmo itinerário, seu colega de ofício e espanhol de origem, Cristovão Colombo, aportou em terras, a que resolveu denominar ‘’novo mundo’’. Pois me dizem cá os astros que o Senhor, empurrado por mares de poucos ventos, irá bater com sua valorosa esquadra em pedaço de terras desse ‘’novo mundo’’ e lá se deixará ficar, encantado com a beleza das mulheres nativas e com a abundancia dos frutos. Dizem-me, ainda, os astros que melhor fora o senhor se deixar ficar ao largo, sem ir à terra, esperando que os bons ventos o levem a seu destino. Isto porque nessa tal terra, gigante por natureza, as coisas estão fadadas a dar errado, mesmo quando possam dar certo. Vou dar algumas previsões, a mim ditadas pelos astros: dia haverá que um rei de nosso Portugal terá que fugir para lá, vivendo em eterna infelicidade. Será odiado pelos nativos, que farão várias revoluções contra seu reinado, até que, cansado de tanta refrega, voltará para Portugal, deixando, em seu lugar, um filho, este sim, amado pelo povo, principalmente porque seu negocio era esbornia, aí compreendidas mulheres de todas as cores e tamanho. Quererão que ele retorne para cá e ele, após noite de bebedeira e indo curar a ressaca na casa de sua amante preferida, mandará todos àquela parte, declarará a independência das terras e irá repousar suas duas cabeças no corpo daquela amante. Pouco tempo depois, muito a contragosto, ele voltará à pátria, deixando para trás um filho – tantos eles os fará – que, depois de bem criado se tornará um grande rei, culto, idealizador de grandes obras, respeitador das mulheres da terra. É certo que terá amante, mas uma só e francesa, que é papa fina. Mas como o povo da terra jamais será afeito a homens probos, po-lo-ão a correr, inventando uma tal república. Como o senhor sabe, ilustre Cabral, essa palavra vem do latim ‘’ res publica’’, que significa ‘’coisa pública’’ e, naturalmente, a ‘’coisa’’, que é ‘’pública’’, não é de ninguém, não tem dono e, por não o ter, todos se julgarão no direito de meter a mão e assim o farão, por todo o sempre. Um dia virá que os mais humildes e os falsos intelectuais (e que se os há por toda a parte, por que não os haverá, por lá?) tirarão a elite do poder, nele colocando nativos obreiros, na esperança de que, com eles, a ‘’coisa pública’’ seja melhor conduzida. Mas, como crianças famintas em loja de guloseimas, esses obreiros saquearão a coisa pública, por todos os lados, deixando-a depauperada.
São estas visões, ditadas a mim pelos astros, que nunca me falharam, que me levam a escrever ao ilustre companheiro e destemido navegador, suplicando-lhe, em nome de todos os santos, que não desça àquela terra, vez que, se o fizer, semeará o infortúnio que, por todo o sempre, atormentará aquela pobre gente e tornará – perdoe-me a ousadia – amaldiçoado seu nome. Que as luzes de Nosso Senhor e as bênçãos de El-Rei iluminem sua decisão.
Respeitosamente,
Rui Carlos Barbosa de Lacerda
Conselheiro para assuntos transcendentais.

Obs: Carta encontrada por arqueólogos em antigo sitio português.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mensagem a um amigo que partiu


Olho, na parede ao lado, o quadro de nosso time de futebol, na faculdade e constato que você é o primeiro, em pé. O ano, 1965 e, modéstia à parte, éramos imbatíveis, você, zagueiro, à antiga, passava a bola, não o jogador. E fomos amigos fraternos, no sentido mais literal do termo. Dividíamos o estudo e, depois de formados, as vicissitudes e alegrias, pessoais e da profissão. Quando meu primeiro filho pulou para a vida, eu, já morando no Rio, você enfrentou nuvens traiçoeiras e foi batizá-lo. Honra e prazer que se concedem a poucos. Quando eu adoeci, você, carregando ‘’nosso pai-de-santo’’, novamente cortou os ares e foi assistir e curar meu mal. Depois fomos todos, inclusive Renata, companheira de vida inteira, comemorarmos, naquele ‘’inferninho’’ da Rua Prado Jr. E foram tantas historias, vividas em meio século de convivência, sem o menor desentendimento. Senti, com indescritível tristeza e angústia, a partida de sua filha, ainda adolescente e, naquele trágico momento, o brilho de seus olhos começou a se apagar e parte de você se foi com ela, deixando-o, coração permanente sangrando. Vi-o, pela penúltima vez, na porta do fórum, esquálido, cabeça baixa, como se estivesse envergonhado de estar por aqui. Falamo-nos, rapidamente, apenas aquele frio ‘’olá, como vai’’ e ficou a ausência do abraço não dado, que, ainda agora, aperta-me o peito. E o vi, pela última vez, no leito do hospital, você, na sua inconsciência, buscando respirar um ar que seus pulmões teimavam em não receber. Quando saí, já tinha a convicção que você se fora, que, naquele quarto, ficara apenas um espectro do homem, que caminhara comigo, por tantos caminhos, desde o campo da PUC que vejo, no retrato ao lado, até aquele lúgubre encontro, na porta do fórum. Hoje, completa-se um mês, que você partiu, deixando o abraço, que não dei, a palavra de afeto, que eu não disse. Demorei 30 dias para escrever-lhe, porque, tão grande tem sido a emoção, que a caneta teimava em deixar branco o papel. Agora, eu olho o quadro na parede ao lado e tenho a dolorida certeza que você se foi, desfalcando nosso time. Fica a lembrança de tantas andanças e de uma amizade que, sem máculas, atravessou o tempo.

Adeus, amigo. Qualquer dia a gente se vê, seja onde for, para falar de coisas e de gentes, daqui e daí.  

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Por que a CPI do BNDES assusta o governo?

         Chega-me, via internet, a notícia que o Palácio do Planalto quer, a todo custo, evitar a instalação da CPI do BNDES, sob o argumento de que as investigações podem paralisar aquela Instituição e causar sérios prejuízos à economia do País. Li a notícia para meu cachorro, que cochilava, a meus pés, ele abriu os olhos, com profunda má vontade e apenas comentou: - ‘’ué, mas eles não vêm apregoando que são transparentes e imunes à influência política?“. Sentindo que eu ia continuar no assunto, ele se retirou, sem não antes acrescentar: - ‘’não sei como você ainda tem paciência para falar de um governo, que já morreu! Por que não arranja coisa mais útil para fazer?’’ E lá se foi Rodolfo – esse é seu nome – com aquela pose própria de pastor alemão, enquanto eu fiquei a matutar na preocupação do governo. E não é para menos: o BNDES despejou bilhões, financiando, a juros subsidiados, obras na Argentina, na África, em Cuba, sempre tendo a ‘’Odebrecht’’, como construtora, e sempre depois de Lula ter passado pelo respectivo País e ter feito uma palestra, regiamente patrocinada pela dita Construtora. Como o dinheiro, inclusive o que pagou as palestras de Lula,saiu do bolso do contribuinte, é justo e lícito que saibamos onde o BNDES injetou recursos, qual o montante, quais as empresas beneficiadas e quais as garantias de que tais recursos, mesmo aviltados, retornarão aos cofres do banco. Somente uma CPI, bem constituída pode fazer aflorar tais informações e, se irregularidades e ilicitudes as há, seus autores devem ser devidamente punidos. Não vemos como a obtenção de tais informações que, a rigor, deveriam estar disponíveis no site do BNDES, em obediência ao princípio da publicidade, esculpido no inciso XXI do art.37 da Constituição Federal, possa comprometer a economia do País, como sustenta o Governo.
A menos que... 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

As Instituições Democráticas em Perigo


Duas notícias, captadas na imprensa, demonstram a fragilidade das instituições democráticas que, em nosso desassistido País, vão se transformando em joguetes, nas mãos, quase sempre inescrupulosas, de pessoas ou de grupos. A primeira notícia dá conta de que o Ministério Público Federal não aceitará, sem promover retaliação, que o senado reprove o nome de Rodrigo Janot, o provável indicado pela Presidente Dilma, para ocupar o cargo de Procurador Geral da República. A notícia não diz em que consistirá tal ‘’retaliação’’, mas a simples ameaça, que tem inegável finalidade intimidadora, já constitui indiscutível afronta à Constituição. A meu modesto juízo, o processo de escolha é equivocado, já que entendo que, democraticamente, o Procurador Geral deveria ser eleito pelo voto direto dos Procuradores da República. Proclamado o resultado, a nomeação seria conseqüência automática. O sistema atual, que outorga ao Presidente da República o direito da nomeação, dá a impressão – falsa – que o Procurador Geral, se não subordinado, fica devendo um favor ao Chefe do Executivo. Todavia, a regra constitucional determina que o nome, escolhido pela Presidente, seja submetido à chancela do Senado que, por sua vez, tem o direito de aprová-lo ou vetá-lo, até mesmo sem justificar a decisão tomada. O nome de Janot encontra resistência dentro do Senado: alguns senadores consideram-no mero mandatário do Palácio do Planalto, protegendo seus ‘’ocupantes’’, envolvidos no petrolão. Outros senadores consideram-no contumaz perseguidor dos membros daquela Casa. Assim, seu nome corre risco real de não ser aprovado e esta foi a razão que motivou a ‘’Associação Nacional dos Procuradores da República’’ a lançar essa campanha intimidadora aos Senadores. Então, fica assim: se o nome de Janot for aprovado, a intimação produziu os efeitos almejados; se não, vamos aguardar as conseqüências, isto é, as retaliações prometidas. De qualquer maneira, perdem as instituições democráticas. 

A segunda notícia, também a macular aquelas instituições, dá-nos conta que o Senador Collor de Mello – de triste memória – apresentará projeto de lei que permitirá ao Poder Legislativo fiscalizar os atos do Poder Judiciário, numa flagrante violação ao princípio constitucional da independência dos Poderes. Collor ficou ‘’mordido’’ pela busca e apreensão, realizada pela Polícia Federal, cumprindo ordem judicial, na ‘’Casa da Dinda’’ e em sua empresa, em Maceió. Por óbvio, se o Ministro do Supremo, acatando pedido formulado pela Procuradoria da República, autorizou a busca e apreensão, é que havia fortes sinais de ilicitude, praticada pelo Senador alagoano. Assim, o projeto de lei, por ele proposto, não passa de reprovável retaliação, que também agride as instituições democráticas. Espera-se que tal projeto seja abortado, do mesmo modo que se espera que o Senado aja com independência na escolha do novo Procurador Geral da República.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O Brasil ainda respira



Com a tranquilidade dos que sabem que apenas estão cumprindo um dever, o juiz Sergio Moro proferiu as primeiras sentenças condenatórias dos envolvidos no ‘’petrolão’’. Sem pirotecnia – o que é incomum, nestes casos – crava seu nome, na melancólica história da corrupção, no Brasil, não levando em conta a importância, política ou econômica, dos personagens, mas tão somente o grau de envolvimento dos mesmos, nos fatos. Utilizou, com maestria, o instituto da ‘’delação premiada’’, obtendo os resultados conhecidos. Trabalhou, sempre, apoiado na lei, tanto assim é que nenhum dos envolvidos obteve sucesso nos vários ‘’habeas corpus’’ impetrados. E mais, ao trazer, para seu lado, a mídia independente e a população esclarecida, pautou a conduta dos próprios ministros do Supremo, que julgarão os acusados, com foro privilegiado. Assim, mesmo os Ministros, lá colocados pelo petismo, especialmente aqueles que tomaram posição dúbia, no julgamento do ‘’mensalão’’, mesmo esses pensarão duas vezes, antes de se inclinarem para beneficiar réus, cuja culpa está marcada pela contundência. Sergio Moro tem sido magistrado sereno, que procura enxergar os fatos, além do universo jurídico e deu prova disto em sua última declaração, ao sugerir que as construtoras, envolvidas no maior escândalo do Brasil, façam um ‘’acordo de leniência’’, para continuarem atuando no mercado. São elas, sozinhas, responsáveis por 10% do PIB e empregam 20% de toda mão-de-obra ativa, no País, principalmente, a menos qualificada. Se se fosse aplicar, friamente, o que determina a ‘’lei das licitações’’, no caso, a de número 8.666/93, aquelas construtoras deveriam ser declaradas ‘’inidôneas’’ e, via de conseqüência, serem impedidas de contratarem com a Administração Pública, em qualquer de seus níveis, federal, estadual e municipal. Daí adviriam milhares de desempregados que, em nada, contribuíram para as falcatruas perpetradas. Pelo ‘’acordo de leniência’’, aquelas empresas ressarcem os cofres públicos, restituindo o que apropriaram, indevidamente e retornam às suas atividades, guiados por novos parâmetros de moralidade. Por outro lado, os agentes públicos, antes de se envolverem em negociatas, agindo como se a administração pública fosse coisa sua, pensarão várias vezes, antes de adotarem desvio de conduta. É claro que não somos ingênuos, a ponto de achar que, a partir de Sergio Moro, estancou-se a corrupção, no Brasil. Afinal, como ensina o filósofo, ‘’o homem é ele e suas circunstâncias’’ e sempre haverá circunstâncias que incitarão o agente público à pratica de atos de improbidade. Todavia – tenho esta convicção – a corrupção, a partir da ação saneadora de Sergio Moro, descerá a um patamar, digno de País civilizado. Devemos isto ao lulopetismo: foram, de forma tão deslavada, beber na fonte da corrupção, que permitiu que homens, da estatura moral de Sergio Moro, erguessem sua voz e a espada da lei, bradando: ‘’agora, chega. Passem fora os vendilhões da pátria’’. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A falência do ensino

A falência do ensino


Dentre tantas causas, que sufocam o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, o péssimo nível do ensino é, indiscutivelmente, a mais relevante. A escola pública foi, gradativamente, deteriorando-se e, hoje, salvo aquelas exceções que confirmam a regra, atende, de forma precária, a uma população periférica, de quase nenhum  poder aquisitivo. O acesso dessa população às Universidades, através das ‘’quotas’’, longe está de apresentar resultados, pelo menos satisfatórios, já que os alunos, egressos do ensino público, enfrentam dificuldades, às vezes intransponíveis, para acompanharem as matérias ministradas. Não é por outra razão que via de regra, optam eles por cursos, onde não se exigem maiores conhecimentos, ou por faculdades de baixo nível intelectual e que, por óbvio, não preparam o aluno para enfrentar o mercado de trabalhar. Para não falar de seara alheia, falo da minha. As faculdades de Direito despejam, cerca de 20 mil bacharéis, por ano, o que nos faz campeões mundiais em diplomados, neste campo. Todavia, quando submetidos ao exame da Ordem, onde se avalia se o bacharel possui conhecimentos básicos, para se tornar advogado, o índice histórico de aprovação não supera a 20%, vale dizer, apenas 4 mil recebem a carteira, que o habilitará a exercer a profissão. Mesmo esse número já é elevado para um mercado de trabalho, absurdamente saturado, o que faz muitos desistirem do exercício profissional ou se submeterem a subempregos. Em outras profissões, onde não se exige exame de habilitação, a situação é mais dramática, já que o aluno, alheio à potencialidade do mercado de trabalho, ingressa na Faculdade, pelas facilidades de fazê-lo e, ao receber o diploma, ao final do curso, conclui que esse não lhe trará qualquer valia. A reformulação do ensino, no Brasil, começa pela melhor orientação do aluno, já no nível fundamental e médio. Instalar computadores, em salas de aula, é ótimo, mas é quase nada, se lá na frente não estiver um professor, adequadamente preparado e motivado. Causa-me desesperança ver, por todo o País, pulularem greves de professores, ‘’por melhores salários’’ e olha que esse ‘’melhor salário’’, as mais das vezes não chega a 10% do que ganha um deputado e aí não computo o fruto das milionárias ‘’marcacutaias’’. Pesquisas recentes indicam que cresce, em progressão geométrica, o êxodo, para o exterior, de mão de obra qualificada que encontra, lá fora, condições de pesquisa ausentes em nosso País, que continua acumulando bacharéis em muita coisa, que se traduz em coisa nenhuma. Estamos afundados em uma crise político-econômica e, mesmo com a população indo às ruas para protestar, esse protesto cai no vazio, porque, de larga data, não emergem líderes capazes de galvanizar o anseio popular e, concretamente, levar-nos a um porto seguro. E de onde saem estes líderes, se não da boa escola, que lhe proporciona boa formação técnica e moral? Enfeitam-se as escolas com computadores e acham que isto basta. Continuamos vivendo do improviso educacional e, por isso mesmo, seremos, para todo o sempre, apenas um País emergente. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Por causa de ‘’Tolsty’’

Às vezes, especialmente às sextas-feiras, quando o terno e a gravata ficam esquecidos no guarda-roupas, uso este espaço, que criei para registrar minhas impressões do cotidiano (e que cotidiano, meu Deus!), para falar de amenidades. E, que há de mais ameno do que falar de um ser humano, realmente autêntico, consigo mesmo, um homem que é sempre, ele mesmo, no seu jeito despojado de vestir, na sua maneira, absolutamente sincera de dizer o que pensa e com profundo respeito ao seu semelhante, porque expressa sua inequívoca convicção que todos somos realmente iguais? Quem o vê, com sua inseparável calça jeans, com seu tênis, de qualquer marca, com sua vasta cabeleira, enfeitando-lhe o rosto, onde tem sempre largo sorriso, muito longe está de imaginar que este homem, que nos remete a um ‘’hippie’’, anos 60, é ilustre médico neurologista, com mestrado e doutorado em Paris e pós – doutorado na ‘’Columbia University’’, de Nova York. E mais: é fundador do ‘’Setor de Patologia Neuromuscular’’ da Disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina, tendo criado o Laboratório de Patologia Neuromuscular da Unifesp, quase com recursos exclusivamente seus e que percorreu comigo, emoção tomada, como se me apresentasse um filho, especialmente muito querido. Além de médico, professor, cientista, é matemático, filósofo e profundo conhecedor de mitologia grega. Pois este super gênio – Beny Schmidt, é seu nome -, carrega estas toneladas de muito saber e fazer, com a simplicidade dos que nada precisam provar e demonstrar, a não ser seu desmesurado respeito a seu semelhante. Pois Beny, além de tudo isto, arranja tempo para escrever, onde pinta, com mágicas tintas, principalmente o amor, este sentimento, que vai se tornando cada vez mais abstrato, nesta era marcada pelo ressentimento. Beny já cantara seu amor pela esposa e, agora, deixa na portaria de meu prédio, um livro, onde pinta ‘’Retratos de um amor por um cão’’, no caso Tolsty, o dele, que conheci e que é tão doce quanto o dono. Apenas tive tempo de folhear o livro, mas sei que vou lê-lo, várias vezes. Meus cães marcaram a historia de minha vida e os tenho, desde a meninice. Amo-os todos, os presentes e os que já se foram, porque, como Beny, penso serem eles o único ser que oferece amor incondicional, seja ao Presidente dos Estados Unidos, seja ai catador de bagulhos, cuja carroça ele guarda com cuidados e carinho. Pois Beny Schmidt, pelo afeto que me distingue, comparo-o a um cão, livre no fazer e no pensar e que me honra e me enche de orgulho, em fazer-me integrar seu universo.

Apenas uma queixa: continua me devendo uma cerveja, regada a um papo, sem hora para terminar. 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Delfim tornou-se um “delfim?


Quando olho meu “curriculum”, que não é lá estas coisas, causa-me especial orgulho ter atuado, sob a batuta do Ministro Delfim Netto, entre 1970 e 1974, no Ministério da Fazenda. É claro que eu, deslustrado tocador de “pratos”, só via o “maestro” muito de longe, até porque eu era subordinado ao Secretario Geral, José Flavio Pécora, de saudosa memória e que fazia questão de me ter como goleiro de seu time, em nossas “peladas” noturnas, no campo do Flamengo ou no da “Escola de Administração Fazendária”, que construímos, em Brasília. Bons e saudosos tempos! Percorri outras estradas e voltei a reencontrar o Ministro, ele, no Planejamento, cercado de assessores, alguns, amigos que já se foram, como o próprio Pécora e Roberto de Carvalho, levado, prematuramente, pelo uso abusivo de cigarro. Mas, a partir daí passei a ter maiores contatos com o Ministro, a cujas palestras assisto e a quem recorro, para beber em sua invejável lucidez e sapiência, sempre levado pelas mãos de seu fiel escudeiro, Manoel Anastácio. Da última vez, em que estive em seu escritório, ali no Pacaembu, travamos acalorado debate (ousadia minha) sobre o momento político-econômico, vivido pelo País, ele defendendo Dª Dilma. Não me surpreendi, porque, ao que consta – e ele não confirma – foi um dos “Richelieu” de Lula, na economia. Pois, ontem, cumprindo ritual de todas as manhãs, antes de começar o batente, acesso o “Google Notícias” e vejo um Delfim furibundo, insuflando Dilma à rebeldia contra o judiciário e o legislativo e sugerindo que ela “vá à televisão mostrar à sociedade com clareza, que, para desgastá-la, alguns oportunistas recusam os caminhos institucionais e ensaiam jogar o Brasil no caos financeiro”. O estilo é o homem, já disse alguém, e esse é o estilo de meu queridíssimo ex Ministro: jamais ficar “em cima do muro”, diz o que pensa e o faz com argumentos sólidos. Todavia, visto a carapuça e me incluo entre os “oportunistas”. Apenas refuto, dizendo que se está o Brasil, no “caos financeiro” é por conta desse governo, que produziu o maior índice de desemprego, dos últimos 15 anos, que provoca a retração, na industria e no comercio e que, agora, propõe a redução dos salários dos trabalhadores. Quem fica excluído do sacrifício, imposto ao País, é o próprio governo, que mantém seus inúteis 38 ministérios e as instituições financeiras que acumulam lucros indecentes, cobrando juros, que humilham os mais sanguinários agiotas. Se vier à televisão – como sugere meu querido Delfim – a Presidente vai dar traço de audiência, porque sua credibilidade está mais baixa do que “bunda de sapo”. Hoje, a prioridade da Presidente é salvar a própria pele, para não pegar a mesma estrada, trilhada por Collor, em 1992.
Agora, tem uma coisa, meu caríssimo Delfim: se o senhor virar Ministro de Dilma, aí só me restará requerer sua interdição.
Observação para os menos avisados:

“delfim” era o titulo que se dava, na França, à época da monarquia, derrubada pela Revolução Francesa, ao herdeiro do trono e, metaforicamente, usado (pelo menos, por “dinossauros”, como eu), como sinônimo do “preferido” por quem está no Poder. 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

A ceia dos Presidentes


Chega-me a notícia que a Presidente Dilma e o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, encontraram-se, em Portugal, na cidade do Porto, ele vindo de Coimbra, apenas para se reunir com ela. O encontro era para ser secreto, mas, com Dª Dilma monitorada, por todos os lados, vazou e a imprensa divulgou. Ambos os presidentes esclareceram: reuniram-se para discutirem o aumento dos serventuários da justiça, estes ingratos, que reclamam, só porque não têm aumento há 04 anos. Tudo bem, que trabalham feito burro de carga, em um país que acumula quase 100 milhões de processo (a maioria, movida contra e pelos Órgãos Públicos) e daí, onde fica o patriotismo? Mas, voltemos ao encontro presidencial. Causou estranheza que os dois ilustres personagens, morando na mesma cidade, trabalhando em prédios, menos de 500 metros um do outro, precisassem atravessar o oceano para discutir questão que, pelo menos por enquanto, nossa Corte Suprema nada tem a dizer. Tão logo publicada a notícia, os maledicentes de plantão vieram dizendo que, na verdade, a Presidente foi acertar sua blindagem contra o impeachment e contar com a boa vontade do Presidente para abortar a ‘’operação lava jato’’, até porque essas mega operações sempre morreram nos Tribunais Superiores, por ‘’dá cá uma palha’’. Foi assim com a ‘satiaghara’’ que envolvia o banqueiro Daniel Dantas e a ‘’Castelo de Areia’’ que descobrira falcatruas em obras executadas pelas mesmas construtoras, agora envolvidas no ‘’petrolão’’. Afinal, Lewandowski  era amigo, de longa data, do companheiro Lula, que o levara para o Supremo e já demonstrara sua lealdade, no ‘’mensalão’’, quando se portou como verdadeiro advogado de defesa dos petistas envolvidos.
Eu, cá de mim, que acredito nos dois presidentes, não levo a sério essa versão maledicente. Acho que ‘’a’’ Presidente, sabendo que ‘’o’’ Presidente estava em Coimbra, a menos de 200 quilômetros da cidade do Porto, ligou, convidando-o para o encontro. Ante-escuto o diálogo telefônico:
’a Presidente’’: ‘’Ricardo, aqui é Dilma, você está muito ocupado, aí em Coimbra?’’

’o Presidente’’, (com aquela voz de dublador de desenho animado): - ‘’Desculpe, Dilma, de onde?’’
’a Presidente’’: - ‘’puxa, Ricardo, nem você me reconhece mais? A Presidente – ainda – do Brasil’’.
‘’o Presidente’’, (absurdamente constrangido): ‘’desculpe, senhora Presidente, a ligação está ruim, não identifiquei sua voz! Quais são suas ordens?’’
’a Presidente’’: ‘’ordem nenhuma, Ricardo, apenas um convite. Se você não estiver muito ocupado, poderia dar um pulinho aqui, comeríamos um bacalhau à moda, regado a vinho verde e aproveitaríamos para debater esse aumento do Judiciário’’.

E foi assim, apenas assim, que os dois se encontraram e, longe das pressões, puderam discutir tema tão indigesto. 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Para falar em livros e sebos



Sempre fui leitor compulsivo e compulsivo comprador de livros. Antes de vir morar em São Paulo, lá do interior de Minas, comprava-os, pelo reembolso postal, de uma editora chamada ‘’dos Gusmões’’, situada, na rua do mesmo nome e que eu imaginava ladeada de acácias e flamboyants. Quando aqui cheguei, para fazer o colegial, e prosseguir meus estudos, quis conhecer a dita editora, que me fizera, nos livros mandados, viajar os sonhos de adolescente. Para minha decepção, a Rua dos Gusmões ficava no coração da ‘’boca do lixo’’, ponto final das prostitutas decadentes. Como a grana era sempre curta, procurava, ou melhor, ‘’garimpava’’, nos ‘’sebos’’, livros que me interessavam. Quando a situação melhorou, passei a freqüentar a ‘’Freitas Bastos’’, ali na XV de Novembro e que não existe mais e que tinha filial, no Rio, na Rua Sete de Setembro. E os livros foram se acumulando, alguns – confesso timidamente – não lidos, outros, percorridos várias vezes, como ‘’Judas o Obscuro’’, de Thomas Hardy que, no meu mendigo saber, considero a obra-prima da literatura mundial. Quando vivia dependurado na ‘’ponte-aérea’’, antes do embarque, passava pela livraria do aeroporto e sempre achava um ‘’companheiro’’, para ler no avião. Apesar das ‘’megastore’’, espalhadas pelos shoppings, não perdi o vício de percorrer os sebos que se concentram em torno da Praça João Mendes. Quase ao lado do Tribunal de Justiça, há um muito bom, em cuja porta, além dos livros, se oferecem mulheres, que Vinicius chamou as ‘’jovens putas da tarde’’. Do outro lado da praça, inaugurando a Av. Liberdade, localiza-se outro, que ocupa dois andares do prédio. Se você procura um livro específico, o vendedor localiza-o através do computador. Se você prefere ‘’garimpar’’ – o que é o meu caso – basta percorrer as seções, onde os livros estão separados por assunto. Sebo não é lugar de gente apressada. Neles encontrei algumas pedras preciosas, não só pela obra em si, mas pelas dedicatórias, contidas: quatro volumes de ‘’Os Sertões’’, do Padre Antonio Vieira, dedicados a ‘’D. João Chrysostomo D’Almeida Pessoa, Arcebispo Senhor de Braga e Primaz das Hespanhas’’; ‘’Caminhos de João Brandão’’, dedicado, pelo autor, ninguém menos do que Carlos Drumond De Andrade, ‘’com suave afeto, ao querido Paulo’’; ‘’O Cão Negro’’, ofertado, pelo autor, Carlos Lacerda, ‘’ao companheiro de tantas peregrinações’’,  um certo Raul que, imagino possa ser Raul Brunini, amigo e correligionário de Lacerda, na extinta UDN. Saber que as canetas, que escreveram tais dedicatórias, estavam nas mãos de Drumond e Lacerda, arrepiam-me e me concede, até, inefável intimidade com os dois gênios, um na poesia e outro na política. E há inúmeras outras dedicatórias, livros presenteados a alguém por alguém. Fico a imaginar os caminhos percorridos por esses livros, desde o momento, em que alguém os comprou, até os desvios que os trouxeram a estes velhos prédios. Dos meus, tenho-os arrumados em estantes, muitos perdidos, em várias mudanças. Minha esposa preferiria que eu os repassasse, para que outros os lessem. Seria gesto nobre, mas, egoísta que sou, tenho com eles relação, quase patológica. Visito-os, no espaço que ocupam. Converso com eles e, de vários, lembro-me, até, de quando os adquiri. Participam da historia de minha vida. Alguns, como ‘’Ulisses’’, de James Joyce, venceram minha persistência e eu não consegui desvendá-los. Outros, como ‘’Germinal’’, de Zola, ajudaram-me a sedimentar minhas convicções. Com certeza, algum dia, estarão em sebos, como os que gosto de percorrer, mas, não importa, porque, primeiro, não estarei mais aqui, para assistir ao êxodo e, segundo, porque, espalhados nos sebos da cidade, qualquer cidade, poderão ser adotados, no mesmo gesto prazeroso que me faz estender o braço para alcançá-los.  

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Para enterrar o cadáver putrefato do lulopetismo

O petismo, querendo jogar cortina de fumaça, sobre a crise, que ele mesmo instalou, fala em ‘’golpismo’’ e vai promover, amanhã, dia 14, uma concentração de ‘’pelegos’’, a favor da democracia. Engraçado!, quando foi para apear Collor do governo, o PT não só não falou em ‘’golpismo’’, mas também ajudou a promover o movimento dos ‘’cara pintadas’’. Golpismo, é assaltar a Petrobrás e outros órgãos públicos, para se enriquecer e financiar, com o dinheiro desviado, suas campanhas políticas, como o fizeram Lula e Dilma. Golpismo, é fazer campanha, induzindo os eleitores, menos esclarecidos, a erro e, depois, mergulhar o País, em uma crise econômica, sem precedentes, que nos atinge a todos, trabalhadores e empresários, enquanto eles, os assaltantes do dinheiro público, gozam do conforto de suas casas de campo e de seus luxuosos apartamentos, de praia, construídos pelo dinheiro da corrupção. O impeachment – (consultem o José Eduardo que é o único que se salva, neste bando de ‘’trombadões’’) é instituto jurídico, esculpido em nossa Constituição, que é a viga mestra da democracia. Ele, o impeachment, existe, exatamente para proteger o País do governante indigno, que vilipendia as instituições, que utiliza o poder em proveito próprio, que burla a lei, que sacrifica os interesses maiores do povo, para se locupletar, às custas desse mesmo povo, que vê 4 meses de seu trabalho transformados em impostos, mas que tem uma educação medíocre, e uma saúde publica de tribo africana. Pois o ‘’impeachment’’ é o ato de esperança, que temos todos, para nos redimir do equívoco de ter permitido que esses sacripantas chegassem ao poder. Collor também pretendeu levar o povo às ruas para defender a democracia dele. Como a democracia dele não era a do povo, produziu-se efeito contrario, que foi o ultimo ato de seu trágico governo. Pois que façamos amanhã 14 de julho, quando a França comemora sua ‘’Revolução’’, dia da ‘’Revolução Brasileira’’. Saiamos à rua, por nós mesmos, vestindo as cores da ‘’pátria mãe gentil’’, para que esta sinta que ‘’um filho seu não foge à luta’’, lutar para esmagar, de uma vez por todas, esse câncer, chamado ‘’Lulopetismo’’, que é sinônimo de mentira e corrupção.
’Brava gente, brasileira, longe vai temor servil...’’

14 de julho: dia da ‘’brava gente’’ mostrar seu valor e expulsar os vendilhões da pátria. Impeachment, já! 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O governo erra outra vez



Estrategicamente, Dª Dilma embarca para a Rússia, deixando o circo, em que se transformou seu indigente governo, pegando fogo. Todavia, antes de embarcar, orientada pelos ‘’gênios’’, que a assessoram, a Presidente enviou ao Congresso medida provisória, objetivando proteger o emprego. Na essência, tal medida permite ao empregador reduzir salário e jornada de trabalho do empregado, desde que garanta o emprego, sendo que tal medida, para vigorar, dependerá de acordo formal, entre a empresa e o respectivo sindicato laboral, aliás exigência esculpida no inciso VI do art. 6º da Constituição Federal. Tenho fundadas dúvidas que essa proposta traga resultado concretos, vez que pune o trabalhador, reduzindo-lhe o salário e não resolve o problema da empresa, sufocada pela queda do consumo. Leio, no noticiário de hoje, 8, que a GM vai demitir, pelo menos, 400 funcionários de sua fábrica, localizada no município de São Caetano do Sul, como conseqüência da queda de quase 30% na venda de veículos. Leio, também, que o consumo teve, no semestre findo, o menor crescimento, desde 2002. Por simples raciocínio lógico, se se reduz salário, como propõe a medida provisória, maior será a retração do consumo e, via de conseqüência, não se romperá o encalhe da produção. Estará formado o círculo vicioso, agravado pelo aumento da inflação, a oscilação do dólar e a crise política, que gerou total ingovernabilidade. A Presidente viaja em busca de novos investimentos que, dificilmente virão, em cenário tão adverso. Por menos simpatia que sintamos por ela, não podemos ser tão estúpidos para pregarmos o ‘’quanto pior, melhor’’, até porque a crise atinge a todos nós, não importa a classe socioeconômica a que pertençamos. O impasse político, seja com a decretação do impeachment da Presidente, seja com a formação de uma aliança supra partidária, precisa ser superado, com a retomada do desenvolvimento. O que não pode é o País ficar estagnado, a espera da nova vítima da operação ‘’lava jato’’, ou com soluções paliativas, como a medida provisória, ora comentada, que não soluciona nada e apenas serve para acirrar ânimos e gerar antagonismos. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

O Congresso quer legalizar a apropriação indébita



Faz alguns dias, um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, que me honra com sua amizade, relatou-me fato, que só acreditei ser possível, primeiro, pela seriedade da fonte e, segundo, porque, neste nosso desgovernado País, tudo é possível. Disse-me ele que o senador paulista, José Serra, estava apresentando projeto de lei, autorizando o governo a lançar mão de 70% dos ativos financeiros, existentes, sob forma de ‘’depósitos judiciais’’, para pagar precatórios. Pois não é que leio, no ‘’O Globo’’, do último domingo, que esse esdrúxulo, ilegal e imoral projeto já conta com apoio da maioria dos congressistas? Por que me refiro, de forma tão pejorativa a tal projeto? Porque os ‘’depósitos judiciais’’ não pertencem ao Poder Público que é mero depositário deles e que deve entregá-los à parte vencedora da contenda judicial, ao final desta. Até algum tempo, nossa legislação punia, como criminoso, o depositário infiel, aquele que se apropriava da coisa a ele confiada, na simples condição de depositário. Essa figura de ‘’prisão civil’’ foi abolida, permanecendo, todavia o crime, sob o ‘’nomen juris’’ de apropriação indébita qualificada, descrito no inciso I do § 1º do art. 168 do Código Penal. Caracteriza-se tal conduta delitiva, quando alguém ‘’apropria-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção... em deposito necessário’’. E a pena-base, que é ‘’reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa’’, nesta hipótese – decorrer de depósito necessário – ‘’é aumentada de um terço’’. Pois é exatamente essa a proposta do senador José Serra: oficializar, através de lei, que o Estado se aproprie indevidamente, de um dinheiro, que nunca lhe pertenceu, para pagar dívidas que se nega a pagar. Eis porque tal projeto, se convertido em lei, será mais uma aberração a contaminar o ordenamento jurídico brasileiro. Espera-se que o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados impeçam que tal aberração se concretize. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A Grécia e o Brasil



Talvez ainda seja cedo para avaliar as consequências, para a Grécia, do resultado do referendo, que decidiu pela não aceitação da política de austeridade econômica, imposta pela comunidade europeia, como condição para ajudar aquele País a superar a crise, resultante de anos de irresponsabilidade administrativa. A dívida grega – algo entorno de 01 trilhão de reais – equivale a 177% do seu PIB, isto é, de tudo o que o País produz. É mais ou menos, a reprodução da fábula ‘’a cigarra e a formiga’’. A Grécia, simbolizada pela cigarra, escancarou o cofre em demagógicos programas sociais e, agora, quando chegou seu ‘’inverno’’, não tem como pagar a conta. E quem seria a formiga, senão a Alemanha, que vem o sendo, pelo menos desde o começo do século 20? Após a primeira guerra mundial, por força do draconiano ‘’Tratado de Versailles’’, perdia ela um terço de seu território, um terço de sua população e ainda lhe foi imposta uma ‘’dívida de guerra’’ da ordem de 01 bilhão de dólares. A economia alemã ficou fragilizada a tal ponto que, em 1930, era necessária a absurda quantia de 01 bilhão de marcos, para comprar 01 mísero dólar. Seis anos depois, portanto, em 1936, a ‘’formiga’’ Alemanha, em um cenário internacional adverso, já estava economicamente recuperada e, em mais dois anos, iniciava uma guerra, levada pela megalomania de Hitler, da qual, segundo os melhores analistas, somente não saiu vitoriosa, pelo erro estratégico de invadir a Rússia, (com quem possuía, inclusive, um pacto de ‘’não agressão’’), quando tinha a Europa Ocidental, inclusive a Inglaterra, a seus pés. Em 1945, ao final da guerra, a Alemanha era um grande escombro, material e econômico. Mas a ‘’formiga’’ voltou a trabalhar e, não foram necessários mais que 20 anos para que a Alemanha voltasse a ser a mais importante economia da Europa. Em 1989, com a queda do ‘’muro de Berlim’’ e que marcou o enterro, sem gloria, do comunismo, alguns ilustres economistas previram dias difíceis para a Alemanha, com a incorporação do setor oriental, absurdamente atrasado, em relação ao setor ocidental. Mas a ‘’formiga’’ não cessou de trabalhar e aquela incorporação se deu, sem maiores traumas. Quando a crise de 2008, nos Estados Unidos, irradiou-se pela Europa, a Alemanha injetou 20 bilhões de euros, no Banco Central Europeu, segurando, pelas pontas dos dedos, ‘’cigarras’’, como Espanha, Portugal e a própria Grécia. A chanceler Ângela Merkel, em seu pronunciamento, após o referendo grego de domingo, mantém-se disposta a intermediar um acordo entre Atenas e os credores, mas afasta a possibilidade de avalizar um calote grego.  Se a Grécia decidiu continuar ‘’cigarra’’, deverá suportar os rigores do inverno econômico que já se instalou por lá. Que a crise grega sirva de exemplo para o Brasil. Sem uma política de austeridade, onde a demagogia paternalista não entra, não será possível retomar o crescimento, destruído pela irresponsabilidade e pela corrupção petista. Como não pertencemos à comunidade alguma, a não ser a este lixo, chamado ‘’merdosul’’, estamos entregues a nossa própria sorte e isto em um momento, em que temos uma Presidente, que não governa, ‘’uma base política’’, rachada, em diversos lugares e uma oposição, cujo único projeto é um vazio discurso de críticas ao Governo, por si, moribundo. Quem sobreviverá primeiro, o Brasil ou a Grécia? 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Priapo e o divorcio

A secretária avisa-me que Dr. Paulo está ao telefone. É ele meu colega de faculdade, que se transformou em amigo perene e ‘’permutamos’’ clientes, mando-lhe os com problemas trabalhistas, especialidade dele e ele me envia casos ‘’de família’’, mar onde navego, por alguns decênios. Atendo-o e ele, sem nem mesmo dizer ‘’bom dia’’, mas já entre risadas, diz-me – ‘’estou lhe mandando um casal que quer se divorciar. O caso é pequeno, mas só o inusitado já vale os honorários’’. Dia e hora marcados, surge o casal, ambos na faixa dos 70. Indago a mim mesmo o que faria duas pessoas, já em idade provecta, casamento de quase 50 anos, como fui informado, decidir se separar. Teria ele – ou ela – arranjado outro amor, significativamente mais jovem, o que vai se tornando corriqueiro, em tempos de modernidade? Depois de alguns minutos de conversa inútil, ele introduziu o assunto:
- ‘’Sabe, doutor, eu e minha mulher estamos juntos há 48 anos, tivemos oito filhos, todos criados e casados. Nunca ‘’pulei a cerca’’ e olha que não foi por falta de oportunidade. Nunca brigamos, a não ser essas briguinhas bestas, de todo o dia, que não deixam marcas. Acontece que eu gosto de sexo e ela, de uns tempos para cá, tem me evitado, sempre com uma desculpa esfarrapada. Ora, se eu não sirvo mais como homem, também não sirvo como marido, prefiro ir embora’’.
Era indescritível o constrangimento da senhora, cabisbaixa, lágrimas penduradas nos olhos. Eu, apesar de dinossáurica experiência, sem saber como aconselhar uma reconciliação, preparava meu batido discurso sobre a prevalência de uma vida inteira de convívio, a estrutura familiar e outros chavões utilizados. Então ela resolveu falar:
- ‘’Doutor, não é bem assim, como ele está dizendo. Durante todos estes anos de casado ele sempre quis ter relações comigo, todos os dias, às vezes, até na hora do almoço e eu nunca me recusei: Agora, estou velha, cansada, cheia de artrose, não tenho disposição e muito menos vontade para estas coisas. Isto é uma doença que ele tem. Já foi ao médico, mas se recusa a se tratar. Eu não quero separar, mas também não quero este negocio, de todo dia, de manhã, na hora do almoço, de noite. Já disse que ele pode procurar mulher na rua, desde que não arranje problema, eu não me importo’’.
Faltei pular de ansiedade para saber que doença era aquela, porque, se fosse transmissível, eu queria contraí-la. Indagado, ele me respondeu: - ‘’é um tal de priapismo, doutor, o senhor já ouviu falar?’’ Tive vontade de dar uma gargalhada, mas as circunstancias exigiam sisudez. Respondi: - ‘’já, faz com que o pênis do homem tenha ereção duradoura e constante, que, inclusive, causa dor que só cessa com o orgasmo’’. Ia falar um pouco da origem do nome, que vinha de Príapo, Deus da luxuria, segundo a mitologia, filho de outros deuses pecaminosos, Dionísio e Afrodite, e cujo pênis, era absurdamente descomunal, em permanente estado de ereção, apontado para o alto. Lembrei-me, inclusive, da historia, que se contava, de uma cafetina, que tinha, em uma cidade do interior paulista, luxuoso bordel, frequentado por fazendeiros e políticos importantes. Pois essa cafetina mandara esculpir uma estátua de Príapo, em todo o esplendor de seu membro ereto e a colocou no saguão de entrada de seu ‘’estabelecimento’’. No dia da inauguração, houve corte da fita (adivinhem onde estava dependurada?), ela fez um discurso, dizendo a suas ‘’meninas’’: ‘’antes de cortar a fita inaugural, devo lhes dar uma boa e uma má noticia: a boa, para que vocês não temam pela sua integridade física, é que vocês jamais encontrarão nada deste tamanho e com esta rigidez.’’
- ‘’E a má?’’, perguntou uma jovem loura falsificada, com uma mistura de alívio e desagrado. – ‘’A má – respondeu a cafetina – é que vocês nunca encontrarão nada igual’’. Consta que, depois de certo tempo Príapo foi removido ao porão, porque trazia inibição aos clientes.
Saí de minhas divagações e voltei para o casal, que olhava para mim, esperando solução mágica para tão intrincado problema. Era óbvio que eles não queriam se separar. Talvez fosse o caso de recomendar-lhes terapia, mas que terapia poderia aplacar o Príapo que se agitava, indomável, dentro daquele senhor, cabeça branca, voz mansa e olhar já turvo? Voltei aos velhos chavões: falei dos filhos e netos, da repercussão que o divorcio teria na vida de todos, da insegurança de se viver sozinho, em idade já avançada. E dei uma sugestão: que ele espaçasse as idas à fonte do prazer, instalada em sua respeitável senhora e, em casos de extrema necessidade, resolvesse, solitariamente, o, digamos, problema.

O casal saiu, ele taciturno, ela, nitidamente aliviada. Eu já tinha esquecido o caso, quando, cerca de um mês depois, o velho me ligou, contente: ‘’doutor, obrigado, segui seu conselho e resolvi meu problema. Comprei uma coleção de filmes, daqueles, o senhor sabe, e não preciso mais perturbar minha velha. Obrigado, o senhor salvou meu casamento’’.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Para não dizer que não falei da seleção

Não é assunto que figura entre minhas prioridades, mas, como está na boca do povo, vou falar da seleção. Assisti a todos os jogos e a mediocridade técnica dos jogadores equipara-se à mediocridade tática do treinador. Afora Jeferson, que salvou o Brasil de fiasco maior (modéstia à parte, sendo do time que é!) a grande maioria é de ilustres desconhecidos. Tem um tal de Firmino, que, pelo nome, nos lembra o de bedel de escola, aquele funcionário que vigiava se não havia aluno matando aula, ou fumando, no banheiro. Fico a me perguntar onde foram buscar aquele zagueiro que tem o hábito de meter a mão na bola dentro da própria área! Será que por aqui, apesar da péssima safra, não há ninguém melhor? O noticiário dá conta que Dunga segue prestigiado pela CBF, o que significa que ele vai ser demitido – e pela segunda vez. Espera-se que, para o cargo, venha alguém com algum lastro internacional. Não é a toa que todas as seleções finalistas possuem técnicos argentinos, com passagem por clubes europeus. Dunga, por sua vez, nunca saiu de Porto Alegre, que é bela cidade, mas que fica muito distante da Europa.

Recebi uma chuva de pedras, quando falei que Neymar, para se transformar em craque de verdade, precisa se submeter a um tratamento psicológico ou psiquiátrico. A verdade é que lhe falta equilíbrio emocional, quando submetido à pressão. Foi responsável pela lambança, que o tirou das semifinais e dos dois primeiros jogos da eliminatória. Se ele é o grande trunfo da seleção brasileira, acho que já podemos ir pensando na copa de 2022. ‘’Podemos’’, quem, cara pálida? Eu, cá de mim, espero, até lá, já ter mudado de pouso, até porque, ‘’do outro lado’’ já tem uma seleção de verdade, com Nilton Santos, Garrincha, Sócrates e outros bambas.