Acho meio piegas falar sobre o “dia dos pais”, comemorada ontem, até porque, sabemos, todas essas
datas foram criadas pelo comércio, objetivando impulsionar vendas. Confesso
minha ignorância por não saber se tal comemoração também acontece em outros
países, ou se é privilégio do Brasil, pródigo em criar efemérides. Há muitos
anos, advoguei para grande indústria de lingerie (que, mais tarde, seria
engolida pela concorrência predatória do produto chinês), cujo dono teve a
ideia de criar o “dia da amante”.
Gastou grana preta em publicidade, mas a data, por motivos óbvios, não decolou.
Depois, tentaram criar o “dia da sogra”.
Também, não deu certo e nem poderia dar, por falta de pessoas, suficientemente
masoquistas. Não estou a dizer, com isto, que todas as sogras sejam
desprezíveis. Minha esposa, por exemplo, é sogra ideal: não visita os filhos casados (a não ser, após
insistentes convites e com dia e hora marcados) e está disponível para cuidar
dos netos, muito mais por estes, é claro, que enchem de alegria – e barulho – a
casa, onde até os cachorros são ou estão ficando velhos. Mas, voltemos ao dia
dos pais. Para mim, que tenho os filhos presentes, sempre carinhosos, não faz
muita diferença, mas penso nos pais separados, que tiram esse dia especial para
estar com os filhos, levando-os a parques e restaurantes. É pena que, em
separação – tantas as fiz –
principalmente quando o ressentimento aflora, os filhos sejam colocados, em
plano inferior à divisão de bens ou à fixação de pensão alimentícia. Tenho,
para mim, como absolutamente sem sentido, o casamento sem filhos,
concebidos ou adotados. Ver o filho nascer, dar os primeiros passos
vacilantes, conviver com seus ganhos e perdas, até, finalmente, bater asas em
busca de outro ninho, é privilégio do qual não se pode abrir mão. Somos criados
para isto e, penso, só isto justifica
nossa vida. O “dia dos pais”, pode ser dia de tristeza ou alegria. Depende apenas
de nós, do afeto que damos aos filhos, do exemplo que damos aos filhos, das
limitações, que estabelecemos, para que eles possam entender o real sentido da
vida. Tenho, para mim, - e repito como mantra – que o único amor verdadeiro,
porque não exige reciprocidade, é o do pai e da mãe, em relação ao filho.
Ontem na missa, agradeci a Deus o privilégio de ser e estar
pai, em todos os momentos de minha vida. Rezei, também, pelo meu pai, que me
deixou tão cedo e por amigos e conhecidos que tiveram a desventura de enterrar
seus filhos.
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