sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A visita da paz



Eu não o conhecia, apenas o via passar pelo átrio da Igreja, que frequentamos, aos domingos. Um certo  ar bonachão, sempre de sandálias. Passamos, não me lembro  bem porque, a nos cumprimentar até porque a missa das 10, depois de certo tempo, torna-nos cúmplices no amor a Deus e na devoção a Nossa Senhora do Carmo, a padroeira de nossa paróquia. Em um final de missa, já na saída, sou abordado por uma Senhora, conhecida apenas de cumprimentos no “abraço da paz”. Pede-me cartão, que vai marcar hora, para que eu oriente em problema específico. No dia e hora marcados, ela chega a meu escritório, acompanhada dele. Não os sabia marido e mulher, até porque  sentam-se separados, na missa. Cumprimentamo-nos, com se fôssemos velhos amigos, equaciono o problema dela – de fácil solução – e passamos, eu e ele, a conversar sobre igreja, religiosidade e assuntos afins, ele muito mais firme em suas convicções do que eu. De repente, toma-me as mãos e convida-me a uma oração. Não uma formal e, muita vez, disperso pai-nosso, mas conversa afável com Deus e seu Filho, a falar de fraquezas, mas também de esperança. Tudo que eu precisava ouvir nesta fase de sobressalto e angústias, quando as forças parecem escorrer, por entre os dedos. Ao final da prece, que iluminou a mim, como se acendesse forte luz em quarto escuro, quis saber mais sobre aquele homem, o que fazia, onde ficava o depósito da paz, que exala de suas palavras. Não se tratava de empresário importante, nem acumulara riqueza ou poder. Era simplesmente um homem, que carregava fé inabalável e incomensurável misericórdia. Ao sair da missa com a esposa, “sentira” que nuvem sombria viajava comigo e queria ajudar-me a soprá-la, para bem longe, por isso acompanhara a esposa, em nosso encontro. Nada queria de mim, senão ofertar-me aquela oração, feita de mãos atadas, como instrumento de transmissão da esperança, que agonizava, em mim. Ao final, disse-me que auxiliava idoso sacerdote em sessões de exorcismo. Perguntei-lhe se não tinha medo, em luta contra tão potente adversário. Explicou-me, apenas superficialmente, como se travavam tais batalhas e não havia como ter medo, porque a força, de que dispunha, era-lhe cedida por Deus. É um homem comum, simples, no vestir e no falar. Daí concluí que aquele ar bonachão era o de quem encontrou a paz, esta misteriosa harmonia consigo mesmo, dom, verdadeiro dom, que Deus só concede a pessoas especiais.

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