quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A omissão ao alcance de todos



Luiz Felipe Pondé, o mais brilhante filósofo brasileiro contemporâneo, afirma que, no futuro, os dias atuais serão conhecidos como a “era do ressentimento”, por ser esse sentimento negativo o que predomina nas relações individuais e coletivas. Não ouso discordar de Pondé, quando vejo os confrontos, no Rio de Janeiro, as manifestações de agressividade, entre o Presidente dos Estados Unidos e o maluco da Coréia do Norte, o “nós” contra “eles”, que se instalou na Venezuela e, até, no Brasil. E esse ressentimento se exacerba nas relações individuais, quando torcedores de um clube agridem os adversários, ou, até mesmo, quando se entra em ebulição, por mera questiúncula de trânsito. Todavia, ao lado do ressentimento, outra marca registrada do ser humano moderno é a omissão. Voltados para o próprio umbigo, transferimos para Deus - os que creem nele - ou para o governo a solução dos problemas. Outro dia, assisti a um “especial” sobre o Betinho e sua incessante luta para amenizar o problema da fome, da miséria que assola milhões de brasileiros. Exemplo que deveria ser seguido. De quando em vez, em época de calamidades, pessoas se reúnem para ajudarem os desafortunados. Depois, cada um que se vire. Todavia, não é só no campo assistencial que se identifica a omissão. A população foi às ruas, exigindo o impedimento de Dilma. Obtivemos o resultado almejado e dai? Voltamos para casa, esperando que os problemas, só por aquela manifestação, estivessem resolvidos.  Agora mesmo, tramita pelo Congresso Nacional, projeto de reforma política, fundamental para a consolidação de nossa debilitada democracia. Ante o silêncio das entidades de classe – e, aqui, incluo a Ordem dos Advogados -, ao que tudo indica,  vão empurrar na conta do contribuinte a verba destinada às campanhas eleitorais, a bagatela de 04,2 bilhões de reais, isto em um País que não há recursos para a saúde e o aumento dos servidores  públicos é suspenso. Daqui a pouco, chegará ao Congresso a Reforma da previdência, cujo ônus maior sobrará para a parte politicamente menos influente dos assalariados. A reforma já excluiu os militares, parece que excluirá os membros do Poder Judiciário, um “chega pra lá” no princípio da isonomia, esta grande mentira, esculpida em nossa Constituição. Vejamos o caso do Estado do Rio, destruído, moral e financeiramente, pela dolosa inércia administrativa de seus governantes. A população daquele Estado, suas entidades representativas já deveriam ter saído às ruas, exigindo intervenção federal, naquele Estado. Todavia, contentam-se todos com a fugidia presença das forças armadas, enquanto as organizações criminosas vão solidificando seu poder e dominando as cidades. Costuma-se dizer que o brasileiro é um povo cordial. Pois é exatamente esta cordialidade que nos torna reféns da imoralidade política, que vai nos remetendo para os últimos lugares, em termos de segurança e condições mínimas de vida humana digna. Neste caso, “cordialidade” torna-se sinônimo de “submissão”.

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