quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sermão do Papa Francisco no dia 27/08/2017



Aí as pessoas escrevem livros, realizam simpósios, ciclos de debates, tudo isto para entender ou, pelo menos, conceituar este substantivo, com gosto de adjetivo, abstrato, mas que se exterioriza em atos e fatos concretos, chamado “felicidade”.
Aí, vem o Papa Francisco, em homilia pronunciada no “21º Domingo do Tempo Comum” e diz tudo que pensamos e sentimos, na busca da “felicidade”. Transcrevo e transmito a lição do Papa Francisco, que chegou às minhas mãos, por especial pessoa, que acabou de entrar em nossa família. Só por isso: seja benvinda!

Sermão do Papa Francisco no dia 27/08/2017
Este é o Papa com maior espiritualidade desde Pedro.
Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo. Só você pode impedir que vá em declínio. Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam. Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções. Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia. Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo. Ser feliz é parar de sentir-se vitima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida. Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si. É ter coragem de ouvir um “não”. É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com amigos, mesmo quando nos magoam. Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples. É ter maturidade para poder dizer: “errei”. É ter a coragem de dizer: “perdão”. É ter a sensibilidade para dizer: “eu preciso de você”. É ter a capacidade de dizer: “te amo”. Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz... Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria. E que quando errar, recomece  tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas  usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência. Nunca desista... Nunca renuncie às pessoas que o amam. Nunca renuncie  à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível”.
(Papa Francisco)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Das vantagens da insônia



Tenho o sono como invencível inimigo. Durmo mal, mesmo tomando remédio. Não importa a hora que  vá dormir – nunca antes da meia noite -, impreterivelmente, às quatro da madrugada, acordo. Aprendi, depois de amargar seguidas derrotas, que não adianta lutar com o travesseiro... ele sempre vence. Assim, resolvi transformar esses reveses em vantagem. Mudo de quarto – o voo dos filhos deixou-nos grávidos deles -, ou ligo a televisão ou me ponho a ler. A TV, pela madrugada, nos canais fechados, exibe excelentes filmes antigos. Na semana passada, vi, pela enésima vez, “Cantando na Chuva” e “Vitor ou Vitória”, ingênuos, deliciosos e relaxantes filmes, sem violência, sexo ou heróis com super poderes.  Quanto a livros, os dois últimos prenderam-me até o amanhecer. “quatro vidas de um cachorro” narra a história de um cão que, após renascer quatro vezes, em locais diferentes, mas sempre preso à primeira encarnação, ao final, descobre a razão de tantas vidas. Há pessoas boas e más, circulando pelo enredo, mas ele, o cão e seu primeiro dono são os personagens principais. O final é emocionante e eu, na idade provecta, quando se chora por qualquer motivo, desmanchei-me em  lágrimas. Apenas ainda não me decidi se gostaria de ser o dono do cão, ou o próprio. O segundo livro, “Os meninos que enganavam nazistas”, li, em duas madrugadas seguidas. Confesso que cheguei a ansiar por perder o sono, para ganhar a leitura. É a história real de dois meninos, judeus franceses, que, com muito engenho, conseguem, por quatro anos, durante a ocupação da França pela Alemanha nazista, escaparem da Gestapo. Nessa fuga, a pé, de trem, de bicicleta, absolutamente  sozinhas, vão de Paris à Riviera Francesa e desta aos Alpes. Haja fôlego e coração para acompanhá-los num emoção contínua.
Recomendo os dois livros, seja para os perdidos na madrugada, como eu, seja para os que podem fazer seu tempo a qualquer tempo. O fato é que, com este problema de sono, ou melhor de não sono, separei livros para serem lidos, ou antes de dormir ou madrugada a fora.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

“Quem os homens dizem que eu sou?”



Domingo 27: Evangelho de Mateus (16,13-20)
¨Jesus  foi à região de Cesareia de Felipe e ali perguntou a seus discípulos:

“Quem os homens dizem que eu sou?””



Conforme o evangelho de Mateus, as respostas foram variadas: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; ou um dos profetas.” Mesmo entre os que o conheciam em primeira mão, havia pouco consenso a respeito da identidade do enigmático pregador da Galiléia. Passados mais de dois mil anos, a pergunta de Jesus ainda carece de uma resposta precisa. A verdade é que a polêmica acerca da vinda de Jesus à Terra continua, com vigorosa ferocidade e muitas dissensões. Hoje, uma das muitas questões a respeito da vida terrena de Jesus se focaliza na profundidade com que se envolveu na causa de sua nação contra Roma: ele foi um revolucionário, ou mesmo um fanático? Certamente, tanto Judas Escariotes, quanto Simão, o Zelote, vieram desse contexto. Quando atenderam ao chamado de Jesus – “venha e siga-me” – será que eles abandonaram seu tipo de vida? Não se pode discordar de que Jesus, desde o início de seu ministério, começou a preparar o povo para a ocorrência de grandes acontecimentos. Em vez de ficar, como outros rabis, ministrando apenas à comunidade local, ele rapidamente se tornou uma figura que atraía multidões, primeiramente na Galiléia e depois em toda nação, quando foi a Jerusalém nos dias finais de sua carreira. A partir disso, é razoável deduzir que Jesus viu o seu papel como o de alguém com uma missão, expandido a toda nação judaica. Por que mais ele viajaria constantemente, exortando o povo para que soubesse que “o tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo...?” Em sua decisão deliberada de formar uma pequena comunidade – seus discípulos imediatos – ele estava seguindo um padrão há muito estabelecido por profetas como Elias e Eliseu. Esses foram figuras políticas. Será que Jesus se configuraria no mesmo molde? Será por isso que, parábola após parábola, ele retoma os mesmos pontos que, justificadamente, podem ser chamados de “fervor apocalíptico”: que a chegada do Reino de Deus será súbita e que somente os que estiverem preparados para recebê-lo não perecerão? Essa não é a pregação de um homem cuja mensagem é urgente? Na verdade, tudo que se pode dizer, sem polêmicas, é que, por um curto período da história judaica, Jesus foi a única esperança para a maioria do povo judeu. Quantos deles foram atraídos pela ousadia das reivindicações de Jesus, pelo absoluto carisma de sua personalidade, pelo poder de seus milagres e pela perspectiva de que ele era alguém que poderia conduzi-los para fora do jugo da ocupação romana? Quantos não teriam se desapontado quando ele não lançou uma rebelião violenta e se voltaram contra ele por essa razão? A verdade é que a questão de como Jesus via a si mesmo é uma das polêmicas mais acirradas do Novo Testamento. A dificuldade em desvendar tal questão reside no fato de que Jesus não deixou registros de próprio punho. Os que mais tarde registraram suas palavras pareciam estar preocupados em mostrá-lo como um reformador religioso, rejeitado pela sua própria raça. Não podemos esquecer que Jesus nasceu, cresceu e morreu como judeu. É uma das muitas ironias que Jesus, na cruz – que é o mais potente símbolo da fé cristã – use vestes para cobrir seus quadris. Tal ocultação não pode ser entendida como decência. Todavia, não há nada escrito que apresente Jesus como qualquer outra coisa que não seja um judeu normal: um homem completamente sintonizado com as aspirações religiosas e nacionalistas do seu povo, vivendo em um tempo de fanatismo religioso. Muitos os há que afirmam não ter Jesus ensinado nada de novo e que suas ideias foram tiradas da literatura e tradições de seu povo. Pode até ser que Jesus não tenha dito qualquer coisa nova. Apenas disse melhor. Mas, Jesus era um revolucionário da forma como, vulgarmente, entendemos essa palavra? A questão pode ser melhor respondida ao dizer que ele foi acusado, processado e condenado como se fora um revolucionário. O acidente de ter crescido na Galiléia, na época em que a província era vista por Roma como o principal reduto da resistência judaica, foi um potente fator de contribuição. Jesus chegou ao conhecimento das autoridades por sua pregação radical, como político suspeito e, quando começou a pregar mais abertamente, também como religioso suspeito.

No início da década de 1980, algumas rádios e jornais de incontestável respeitabilidade como a “BBC” e o “The Sunday Times” anunciaram que tinham sido encontrados, em um túmulo em Jerusalém, ossários contendo os nomes José, Maria e Jesus. Por certo, se as urnas funerárias, conhecidas como ossários, contivessem os restos de Cristo e sua família, elas lançariam dúvidas sobre a essência da fé cristã: a ressurreição. Por certo, a fé cristã estaria seriamente abalada e a igreja católica apostólica romana e as seitas dela derivadas sofreriam fundo e talvez mortal golpe. Mais tarde, todavia, importantes arqueólogos identificaram, naquelas mesmas ruínas, mais de mil ossários com os nomes José, Maria e Jesus, nomes que eram comuns na antiguidade e, ao longo dos anos, foram encontrados mais dez ossários, contendo o nome Jesus, em suas variações hebraicas e gregas, sendo certo que havia maior abundancia de variações de Miriam, nome a partir do qual Maria é derivada. A partir dessa incontestável evidência histórica, a fé cristã restaurou-se, por inteiro.

Todavia, voltemos à questão central: “Quem é Jesus?” E mais: por que ele, em nenhum registro dos evangelhos, diz claramente quem ele é? Quando João Batista perguntou a Jesus, por meio de seus discípulos, “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” Jesus, em resposta, enviou uma mensagem: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem...” (Mateus, 11:3-5). Mesmo em resposta à pergunta de Pedro, “Tu és o Cristo?” Jesus “os advertiu que não falassem a ninguém a seu respeito” (Marcos, 8:30). Muitos “cristologistas” tem se manifestado no sentido de que a busca pela verdadeira identidade de Jesus não deve ficar limitada aos evangelhos, cuja autenticidade chegam a colocar em dúvida, inclusive sustentando que os mesmos foram escritos por anônimos, muito tempo depois da morte de Jesus. Essa tese, todavia, restou definitivamente superada quando, em 1995, famoso papirologista alemão, Carter Dieter Thiede, identificou, em papiros da metade do 1º século D. C., trechos dos evangelhos de Marcos e Mateus, o que permite concluir pela possibilidade concreta de estarmos diante de relatos de testemunhas oculares. E mais, fragmento de papiro, existente na Universidade de Paris, identificado como sendo dos anos 60 D. C. é parte do evangelho de Lucas. Tais informações tornam inquestionável, não só a contemporaneidade dos evangelhos com Jesus, mas a veracidade de seus conteúdos, por mais que tal autenticidade irrite os eruditos não cristãos. A esse respeito, o mesmo Thiede lembra-nos de que: “se os evangelhos são mais anteriores do que pensamos, então a brecha entre o Jesus da história e o Cristo da fé não seja tão grande quanto os eruditos disseram e os cristãos temeram. Para os não crentes, esses achados não vão forçar ninguém a se tornar cristão. Mas o relato de testemunhas oculares da geração de Jesus torna os evangelhos dignos de crédito, inclusive como relato histórico.” Alguns analistas dessa superaquecida arena de debates bíblicos questionam o porque de os evangelhos oferecerem parcas informações sobre a vida terrena de Jesus, seu cotidiano, seu relacionamento com as pessoas que encontrou. A explicação se nos afigura óbvia: Cristo é apresentado nos evangelhos como a essência da divindade e, como tal, mesmo tendo vivido como homem, os detalhes de seu cotidiano não podiam – ou não deviam – ser revelados. Até porque, o que alteraria aquela “essência divina” informar onde e como fazia, por exemplo, suas necessidades fisiológicas? Importa saber que, em tudo, era igual a todos os homens, menos no pecado.

Outra questão, que nos parece relevante, diz respeito à relação de Jesus com o povo judeu. Muito mal foi feito a esse povo, em nome de Jesus. Hitler mesmo, no princípio, justificou sua perseguição aos judeus sob o falacioso argumento de que foram eles responsáveis pela morte de Jesus. Todavia, hoje se aceita, como definitivamente verdadeiro, que as ligações com o judaísmo sempre estiveram presentes em todas as proclamações a respeito da vinda de Cristo. Como leciona Gordon Thomas que, por quase uma década, debruçou sobre o tema, “renovam-se a história e princípios do judaísmo do Novo Testamento e o Cristianismo parecerá não ter sentido.” Apesar desse preconceito ter sido reduzido, principalmente a partir da ação do Papa João XXIII, muitos judeus continuaram convencidos de que o anti-semitismo que perturbou sua vida, por séculos, se prolongará até que o tema central dos evangelhos seja removido: que ele foi preso por ordem do sumo sacerdote do templo; que, antes, ele foi julgado por um Sinédrio de outros sacerdotes; que ele foi condenado à crucificação, punição imposta aos judeus, sempre na linha de frente de todas as narrativas dos evangelhos. Todavia é hoje, amplamente aceito que a responsabilidade pela morte de Jesus deve ser atribuída ao sistema imperial romano e, especificamente, ao Procurador da Judéia, o ofício de sumo sacerdote e uma coleta ininterrupta de tributos para os cofres de Roma, garantindo, assim a estabilidade política de Pilatos. Tudo mais na história de Jesus e sua morte decorreriam dessa aliança.

É particularmente importante, na compreensão do homem Jesus e sua missão, enxergá-lo no contexto de seu tempo; tentar entender como viviam os que o cercavam, mais de perto: Maria e Marta, Lázaro, irmão delas; os sacerdotes do templo; Pôncio Pilatos e sua família; a aristocracia judaica e até mesmo os romanos, em sua fortaleza. Esta compreensão demanda conhecimento de seus estilos de vida, seus hábitos, seu sistema jurídico; demanda a recriação com toda fidelidade, do mundo em que a palavra foi primeiramente empregada – e compreender seus efeitos nos que a ouviram pela primeira vez. Também é importante refletir sobre moderna visão do próprio Vaticano, segundo a qual a fé não se baseia, ou se exaure, nos detalhes da história. Deus, ao inspirar pessoas, permitiu que escrevessem dentro da moldura de seu próprio tempo, mente e cultura. O que eles criaram não foi simplesmente verdades eternas, imutáveis. Aceitar isso seria reduzir as escrituras a pouco mais do que princípios teológicos, virtualmente esvaziados da verdade singular – no caso do Novo Testamento, pode ser chamado de “verdade do evangelho” – misturando parábolas, casos, atos, declarações formais, leis, milagres, pessoas e hinos. A riqueza disso é parte história, parte hagiografia, parte biografia e, sobretudo, a mensagem de Deus que, embora baseada em fatos, não depende de cada detalhe desses fatos.

As controvérsias sobre “fatos” da vida de Jesus (se ele nasceu ou não em Belém, se ele tinha ou não irmãos, o ano exato em que ele nasceu), a nosso juízo, pelo menos para a resposta à questão de nosso tema, é de pouca, para não dizer, nenhuma importância. Quando Jesus perguntou a seus discípulos: “Quem os homens dizem que eu sou?”, seguramente não desejava que se desenvolvesse um debate sobre sua aparência ou sobre fatos relacionados a sua história física – onde e quando nasceu; onde e como morava; o que e quando comia, etc. Quando Pedro responde “Tu és o Messias.” ele sintetiza a essência da única verdade: era ele o Deus-homem, real, como todos os homens, mas perfeito, como nenhum outro homem.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Amor ao cabresto



Outro dia, escrevi sobre a subserviência do povo brasileiro, escondida sob o manto da cordialidade. Recebi, de pessoa muito querida, e muito culta, e-mail, verdadeira aula de história, lembrando que “a Inglaterra fez a revolução industrial com o ouro do Brasil, via Portugal” e que “os inconfidentes só surgiram para se livrarem das dividas que tinham com Portugal”. Impossível não concordar, quando visitamos nossa história e, com olhos críticos, constatamos que alguns “heróis da pátria”, não foram tão heróis assim. A monarquia foi derrubada pelo Marechal Deodoro que, além de ser monarquista, estava doente e não sabia muito que movimento liderava. D. Pedro II tinha realizado primorosa administração e a República, que surgiu, a partir de Floriano, foi uma lástima, com sucessivos golpes, sempre sob o olhar complacente do povo, que gosta mesmo é de uma boa ditadura. Getulio Vargas governou o Brasil, com mão-de-ferro, torturando e matando seus opositores, através de sua “polícia política”, comandada por Filinto Mueller. Mesmo assim, gozava de estrondoso apoio popular, tanto que era considerado “pai dos pobres” e, na primeira eleição, após ter sido deposto, em 1945, foi eleito senador, por diversos, Estados (naquele tempo, podia) sem sair de sua fazenda. Em 1950 foi eleito Presidente e mesmo morto, em 1954, na eleição seguinte, foi decisivo para a eleição de Juscelino. Durante o Regime Militar, salvo uma ou outra manifestação, o povo, no geral, deu o maior apoio aos militares. No período mais duro, começo dos anos 70, cansei  de ver o Presidente Medici ser ovacionado, sempre que ia ao Maracanã. Agora mesmo, querem transformar Gilmar Mendes, em grande vilão nacional (vide “Veja” do último fim-de-semana), apenas porque ele quer colocar freios legais, na “lava-jato”, que vem usando a prisão preventiva, como forma de obter delações, de acordo com os interesses da “operação”. Gilmar Mendes não “joga para a plateia”, que quer ver sangue, por isso ele, Gilmar, tem o apoio de quem é do ramo e sabe que a democracia não sobrevive, sem o Estado de Direito. A turba, tangida por uma mídia comprometida, não vê que os verdadeiros inimigos da democracia são Janot e Fachin, que tramaram com Joesley a gravação de Temer, concedendo àquele o mais indecente “prêmio” da história da delação. E mais: os dois querem porque querem desestabilizar o governo e, como petistas históricos, tramaram à sombra, pelo retorno de Lula ao Poder, o mesmo Lula que sonha ser o Maduro do Brasil. E o povo, apaixonado pela submissão, não enxerga os esforços do governo Temer, para colocar o País no trilho e, sem dúvida, vai eleger Lula. Somos e temos o que merecemos ser e ter. Só isto!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Precioso presente de precioso amigo



Esta é para deitar e esparramar inveja, em quem me segue nestas mal traçadas. É que ontem, quase ao findar do dia, passei pelo escritório de meu colega e amigo, Braz Martins Neto, advogado de longo curso – na lida desde 1973 – e elitizada clientela. Braz, é talvez, a única unanimidade de bem querer e bem fazer, neste ofício, onde a vaidade é marca registrada. Costumo chamá-lo de “nosso Catão”, tal seu comportamento ético. Conhecemo-nos, já lá vão 20 ou mais anos, defendendo interesses antagônicos e daí surgiu relacionamento, onde ele sempre foi mestre e eu orgulhoso aprendiz. Braz já foi tudo da Seccional da OAB (atualmente, comanda a CAASP) e só não foi presidente, porque não quis. Aliás, certa feita, ilustre advogado, eterno adversário da Diretoria da Ordem, que Braz integra, confidenciou-me que ele seria a única hipótese de candidato, sem oposição, à Presidência da Entidade. Eis o homem! Daí descubro que, além de advogado de horário, prá lá de integral, vez não ser incomum juntar o dia à noite, em seu mister, Braz, há 50 anos, dedica-se a atividades filatélicas, inclusive percorrendo o mundo, em suas viagens de trabalho, para adquirir selos raros. Agora, juntando duas de suas três paixões, selo e advocacia, (a primeira, é claro, são esposa e filhas), organizou coleção, a que deu o título “Estado de Direito – defesa e violação”,  reunida em livro – que ele chama de “encarte” – de 80 páginas. São cerca de 500 ou mais selos, dos mais variados rincões do mundo, contando, de modo simbólico, as vitórias e as vicissitudes, pelas quais passou o Estado de Direito. O livro se inicia com “série retratando cada um dos dez mandamentos lapidados nas pedras entregues por Deus a Moises”, passa pelas revoluções, as boas, que consagraram a liberdade do cidadão, como a Revolução Francesa e percorre as más, exatamente as que suprimiam tão augusto bem, como a Revolução Russa. Mas tem muitíssimo mais, porque a coleção é deliciosa aula de história, a ser saboreada, pouco a pouco. Só há um problema: o livro, que reúne tal coleção, não está à venda. Teve edição reduzida, a ser distribuída aos amigos do Braz e eu fui dos agraciados, com direito à dedicatória. Desde já aviso: não empresto! No máximo, permito que o folheem e desde que o seja na minha presença. Na dedicatória, uma pequena mentira! Diz ela:
“ao querido Saul, com o apreço do colega que, nas horas de lazer advoga e, nas horas que lhe sobram, coleciona selos”.
A mentira: além de não lhe sobrar horas, seu maior lazer é colecionar amigos e admiradores, como este honrado rábula.