Tenho observado como a evolução dos tempos e das coisas,
neles contidas, modifica o entendimento das pessoas em relação à vida. Até
poucas décadas atrás – 04, se tanto – chegar aos 60 anos era quase ato de
proeza e provecto era considerado quem tanto durasse. Meu pai morreu aos 58
anos e a fotografia, na parede ao lado, tirada em seu último natal entre nós,
mostra-me um senhor, cabeça branca, curvado por tantos anos acumulados. Quando
me bate uma angústia, além da justificável, aquele choro contido, que arde o
peito, procuro o silencio dos cemitérios e percorro as alamedas, calculando o
tempo de vida dos definitivos habitantes do lugar, como a me certificar ter
Deus me concedido mais tempo de vida do que o habitual. Da última vez, que lá
estive, comparei e constatei que 70% das pessoas, que nasceram ao final do
século XIX e até a primeira década do século XX não passaram dos 40 anos; os
que nasceram, entre 1910 e 1930, viveram até os 60 e os que vieram ao mundo,
após os anos 40, muitos – como este que vos fala – ainda estão por aqui e os
que partiram contavam, em sua grande maioria, com 70 ou mais anos. Esta
longevidade, essencialmente produto dos avanços da medicina, obriga-nos a rever
valores, tidos como definitivos, sob pena de vivermos atrelados ao passado,
enquanto o que nos resta de vida corre solto. Minha geração, bastante chegada a
uma falsa cultura ou a uma cultura inútil, teve a pretensão de mudar o mundo,
daí gerando brutal sectarismo: a esquerda responsabilizava os Estados Unidos
por todos os males do universo e a direita via o ‘’ouro de Moscou’’ vitaminando todas as democracias, que tentassem
viabilizar qualquer política pública, que privilegiasse os oprimidos. A direita
derramou copiosas lágrimas pela derrocada norte-americana, no Vietnã. A esquerda
sentiu no próprio corpo as marteladas, que derrubaram o muro de Berlim. A
medida que nossos cabelos embranqueceram e o mundo tornou-se menor e mais
próximo, pela internet, ambos, esquerda e direita, foram se aproximando e
encontrando pontos comuns de sobrevivência. A solidariedade passou a ser este
elo, a nos fazer enxergar, com melhores olhos, uns aos outros, cada lado dando
sua colaboração para que vivamos em um mundo menos injusto. Se sou contra o
Estado-empresário, por outro lado, o Governo, como expressão da vontade da
maioria, não pode deixar de intervir, quando a balança ameaça se desequilibrar,
prejudicando os menos favorecidos. Nós, que pertencemos, no passado, a uma
geração, marcada pelo ódio e pelo ressentimento, temos a obrigação de mostrar aos
jovens de hoje que somos capazes de dar as mãos, em busca do entendimento.
Importa – e só importa – a prevalência do justo, que se exterioriza no direito
de cada qual viver vida digna, comendo, morando, vestindo, sem que tenha, para
isto, vilipendiar seu semelhante. Grotius chamava a atenção para o risco de o
cidadão, ao alienar sua liberdade e tornar-se escravo do patrão, admitir a
possibilidade de um povo alienar a sua e tornar-se súdito de um déspota.
Rousseau buscava no ‘’contrato social’’ forma
de associação que proteja e defenda, com toda força, a pessoa e os bens de cada
associado e pela qual cada um, unindo-se a todos, não se submeta senão a si
mesmo, para que possa permanecer livre. Pode até ser uma utopia, mas é
exatamente a busca da utopia que nos mantém vivos e socialmente úteis. Saímos
às ruas, para despejar um Governo que entendíamos prejudicial ao País e
conseguimos nosso intento. Não queiramos, agora, trucidar seus membros,
julgá-los e condená-los, sem que lhes seja assegurado amplo direito de defesa.
O arbítrio, qualquer arbítrio, ao atentar contra a dignidade de um, atinge,
indistintamente, a todos e é fundamental, para a preservação deste bem maior,
que é a liberdade, que respeitemos, muito mais do que isto, que lutemos para
que a justiça, a mais intensa justiça, sobreponha-se a nossas antipatias
pessoais. Afinal, ‘’fora, Dilma’’,
não pode significar ‘’morra, Dilma’’.
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Sonhos desfeitos
Esta tal de ‘’rede social’’ é mesmo coisa de maluco! Quando
dei vida a meu ‘’blog’’, a pretensão não passava de amigos, conhecidos e
clientes, que tivessem paciência para lerem meus despretensiosos escritos.
Passados cerca de três anos, meu universo de seguidores ultrapassou a casa de
milhares, com a chegada de desconhecidos que se tornaram íntimos, que entram em
contato, seja para me espinafrar – principalmente por minhas posições políticas
-, seja para imerecidos elogios a minha tosca pena. É claro que credito este
meu crescimento a meu querido e suspeitíssimo amigo, José Paulo de Andrade que,
de quando em vez, faz referencia a meus escritos, em seu prestigiado programa
na Rádio Bandeirantes. A amizade, principalmente uma tão longeva como a nossa,
traz estas cumplicidades. Orgulha-me usufruir do carinho de José Paulo,
considerado pelo meu estimado Delfim Netto como o mais brilhante e equilibrado
jornalista do rádio e da televisão. Mas não estou aqui para falar do Zé Paulo,
que tenho pouco pano para tanto lustro. É que, ainda ontem, recebi e-mail,
vindo do sul, de alguém, sugerindo-me que fizesse seleção de meus escritos e os
transformasse em livro. Confesso que a idéia já me passou pela cabeça e tenho,
até, um romance, quase pronto, interrompido por falta de motivação e por culpa
deste inverno, que se prolonga, escondendo as coxas e me encolhendo, em todos
os sentidos. Além do mais, como tenho obsessão por livrarias, sempre que as
percorro, bate-me tristeza por ver o decadente caminho dos livros. Ao início,
expostos na seção de ‘’novos lançamentos’’, vão, gradualmente, perdendo espaço,
até serem colocados, lá no fundo e oferecidos com descontos de até 50%. Dali,
seus destinos serão os ‘’sebos’’, cheirando a mofo. Fico a imaginar as horas gastas
pelo autor, criando personagens, lugares, situações, misturando tudo e sonhando
ter, finalmente, criado uma obra de arte, que ganhará as ruas, gerará comentários,
dividirá opiniões e, quem sabe, viajará pelo mundo, em estrangeiras traduções.
Pois aquele sonho terminou ali, junto a companheiros inglórios, oferecidos, um
por dois, três por cinco, tal qual meias e soutiens de camelô. Porisso, sempre
que me arrebata a vontade de parir um livro, dou uma passada pelos sebos da
Praça João Mendes, a contemplar abandono dos livros e das ‘’jovens putas da
tarde’’, postadas à porta das sujas livrarias. É quando aborto a idéia
pretensiosa de publicar livro e retorno à mediocridade destes poucos escritos.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
O Ridículo ao alcance de todos
O anseio de buscar os holofotes e ter seus minutos de glória
vai fazendo escola – má escola, diga-se de passagem! – e, agora, atinge o
Ministério Público do Estado de São Paulo. Não é que anteontem, na boca da
noite, o Promotor José Carlos Bonilha propôs à Justiça Eleitoral a cassação da
candidatura de João Doria, por abuso de poder, consistente em indevido apoio do
Governador Alckmin? Os fatos, apontados pelo representante do Ministério
Público, são antigos, mas, estranhamente, apenas agora, quando Doria, segundo
as pesquisas, assume a dianteira na corrida eleitoral, é que a acusação é
trazida à baila. O Promotor, até então ilustre desconhecido, sustenta que ‘’o
governador se afastou da neutralidade que deve guardar como chefe do
Executivo.’’ Ao ler a notícia, Rodolfo, meu politizado pastor alemão, esticou
as orelhas e perguntou: - ‘’mas Doria e o Governador não pertencem ao mesmo
partido e não foi Alckmin quem fez de Doria seu candidato a Prefeito?’’
Respondo afirmativamente a ambas questões e relembro que desde Deodoro da
Fonseca as coisas funcionam assim e, para não ir muito longe – até porque
Rodolfo tem apenas 03 anos – relembrei o périplo que Lula, no exercício da
Presidência, realizou a favor de Dilma, sem que isto caracterizasse indevido
favorecimento político. Por ser um servidor público coerente, cônscio de suas
responsabilidades, como guardião da ordem e do direito, consta que Dr. Bonilha,
ao ver, pela televisão, o Presidente Obama participando de comícios, defendendo
a candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, prepara-se para
embarcar com destino àquele País, para questionar a exigida neutralidade de
Obama.
Te cuida, Hillary!
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Desavenças e paz entre mim e meu pastor alemão
Chego em casa, ontem à noite e Rodolfo, meu politizado pastor
alemão, que sempre me recebe, festivamente, estava amuado, a um canto e lá
quedou-se. Sinto-o, assim desde domingo, quando fomos passear: nenhum sinal de
alegria ou entusiasmo, chegando a olhar, displicentemente, para um gato, que
cruzara nossa frente. Com certeza, aquele não era o Rodolfo, que eu conhecia,
de temperamento exuberante e personalidade forte. Recusou-se a me acompanhar na
subida da escada, o que foi feito apenas por Nara, a vira-lata gigante que o
iniciara na arte de atacar os pretensos invasores e demonstrar definitiva
antipatia por carteiros, motoqueiros e quetais, mas também a ser extremamente
carinhoso com os de casa. Pois foi Nara que me confidenciou os motivos do amuo
de Rodolfo: o primeiro: chegara-lhe aos ouvidos que, no sábado, eu fora visto,
no parque, em animada conversa com um rapaz que trazia, na cabeça, um boné do ‘’MST’’; o segundo: quando saí, pela
manhã, ouviu-me dizer a alguém, pelo celular, que não assistiria ao debate
Trump x Hillary, que ele, Rodolfo, aguardara, com ansiedade. Pedi desculpas a
Nara, que, naquela noite, sairíamos apenas eu e Rodolfo, para conversa pessoal,
de pai para filho. E assim fizemos! Já na esquina, ele me questionou, como um
homem, com minhas convicções, andou ‘’com
essa gentalha arruaceira do MST’’. Expliquei-lhe que, no caso, era um rapaz
de fino trato, culto, que eu conhecia de larga data e que me privilegiava com
sua amizade e que, em segundo lugar, se quiséssemos que nossas ideias fossem
respeitadas, deveríamos respeitar as ideias opostas às nossas. A isto se dá o
nome de diálogo. Aproveitei a oportunidade para falar-lhe da necessidade de ele
recompor o relacionamento dele com Olavo e Romeu, seus iguais, que protegem os
fundos da casa, o que lhe provocou imediata irritação – ‘’meus iguais, não! Olha minha origem e a duvidosa origem deles’’, -
retrucou ele. Adverti-o que este negócio de raça pura, além de preconceito
idiota, já deu margem a muitas desavenças. – ‘’Tudo bem – conciliou ele – não os ataco, mas não divido meu espaço com
eles. Quanto a sairmos juntos, vou pensar no assunto.’’ Já no parque, ele
me interpelou sobre o debate: - ‘’Você me
obrigou a assistir àquele medíocre espetáculo com os candidatos a Prefeito de
São Paulo e, agora, recusa-se ao mais importante debate do mundo, tem sentido
isto?’’ Rebato: ‘’você tem certeza
que Trump e Hillary têm inteligência suficiente para fazerem o mais importante debate
do mundo, como diz você?’’ Ele não deixou barato: ‘’os personagens não importam,
pois o que está em jogo é o destino do maior País do mundo, que nos dirige a
todos’’. Penso em contraditar, dizendo que não é bem assim, mas, como sou
conciliador e preservo a quem amo, revejo minha posição e convido Rodolfo para,
juntos, assistirmos ao confronto entre os dois candidatos norte-americanos. A tradução
simultânea, fora do ‘’tempo da bola’’,
atrapalhou o entendimento, mas questões cruciais, como emprego, política externa
marcaram a nítida posição de cada um. Rodolfo achou que Hillary jogou sujo,
quando acusou Trump de racista e sexista, no que eu observei que político é
igual, em qualquer lugar do mundo e se utiliza de todos os meios para ganhar
eleição. O importante é que, ao final do debate, eu e Rodolfo saímos
reconciliados e ele, como generosa lambida, demonstrou que a paz voltara a
reinar entre nós. Ele me fez um último pedido – ‘’quando você for andar com seu amigo, peça-lhe para tirar o boné do MST.’’
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Porque é preciso fugir dos refletores
Leio, com perplexidade, que a Procuradoria da República
repudiou, por considerá-la anti-democrática, a reforma do ensino médio,
instituída, através de decreto, pelo Poder Executivo. Logo a Procuradoria da
República, a menos indicada para falar em democracia, ela, que vai
desmoralizando a ‘’lava jato’’, com
ações de truculência, sempre em busca de refletores. De igual sorte, vejo o
Juiz Sergio Moro, transformado em ‘’pop
star’’ internacional, proferindo palestras, recebendo comendas, quando
melhor fora S. Excia., em seu gabinete, estudando os processos – e, por que
não, também os livros? - , o que evitaria decisões apressadas e inconsistentes,
como a que decretou a prisão temporária do ex-Ministro Guido Mantega. Disse e
repito: preocupa-me esse estrelismo exacerbado, essa vaidade tola e
incompatível com a dignidade da justiça, de querer aparecer na mídia,
relegando, a plano inferior, a tranqüilidade e a sensatez, que devem ser a
marca registrada do Magistrado. Venho de uma época em que nomes de Juízes e
Promotores ficavam adstritos aos meios forenses. Ainda hoje, pelo menos nestas
terras paulistas, salvo raríssimos e pontuais exceções, os Juízes continuam ‘’apenas falando aos autos’’ e a própria
eleição para Presidente do Tribunal de Justiça, ou Procurador Geral do
Ministério Público não ultrapassa meia página de um único dia de jornal. O
Brasil, como pobre marca do terceiromundismo, sempre precisou de um ídolo, que
fosse depositário de frustrações e esperanças. Outro dia, disfarçado – ‘’ma non troppo’’ – no aeroporto, Moro
foi alçado à condição de sucessor de Airton Senna, o último herói que habitou
estas plagas. De minha parte, rejeito os heróis, elevados a este status pela
fragilidade de quem não se liberta do indigente complexo de vira-lata. Herói, mesmo,
é meu cliente – empresário que luta para não fechar seu negócio e deixar, ao
desalento, centenas de trabalhadores. Herói, mesmo, é meu sexagenário amigo,
vendedor de sorvete, que das 7 da matina às 2 da tarde, trabalha como porteiro
de edifício, engole sua raquítica marmita e, enquanto dura a mais tênue fímbria
luz do sol, empurra seu tosco carrinho pelas ruas do bairro, oferecendo seu
produto. Sergio Moro é herói menor de
medíocre etapa de nossa história, que passará, junto com seus estridentes Procuradores,
desaparecendo, quando nossas mãos forem menos sujas.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Para falar de sono e de sonhos
Leio, com satisfação, que cerca de 30% da população mundial
têm problemas com o sono: ou dormem mal ou, simplesmente, não dormem. Minha
satisfação decorre de eu pertencer a este grupo. Meu sono, entrecortado, é
sempre povoado de pesadelos, ou quase, sendo que alguns se repetem, com absurda
freqüência. Estar caindo de altura infinita, acordando quando estou prestes a
bater no chão. Lá atrás, muito atrás, minha mãe dizia que este sonho
significava que eu estava crescendo. Se fosse verdade, teria eu uns 60 metros
de altura. Outro, que me traz muita angústia: sonho que entro numa imensa sala,
onde há 03 filas de pessoas: uma, pequena, formada por sorridentes, que vão
para o céu; outra, compenetradas, a falar baixo, que vão para o purgatório; e a
terceira, dos desesperados, a gritarem e chorarem, destinados ao inferno. É
nesta última que eu me encontrava, cabisbaixo, a rememorar os pecados cometidos
e que justificavam ter sido eu colocado na fila dos desvalidos. Achava injusto
– o que era mais um pecado, o da soberba -,mas o que podia eu fazer para mudar
a decisão ‘’lá de cima’’? Ao me aproximar da catraca, último obstáculo a me
separar do ‘’demo’’, eis que surge a mão salvadora de um amigo, colega de turma
e desembargador recém-aposentado que, para meu alivio, transfere-me para a fila
do purgatório. Acordo, suado e não tenho coragem de retomar o sono. Vai que
mãos mais poderosas me reconduzem a caminho do inferno! O terceiro sonho, que
já se repetiu incontáveis vezes, leva-me a mim e a minha esposa descer por um
buraco, abruptamente surgido do nada. Damos em enorme galeria de quadros, onde
nos separamos. Percorro, sozinho, uma ala, onde cada quadro retrata uma fase de
minha vida, desde a mais tenra infância, até a decrepitude atual. Ao final,
quando a parede de quadros termina, viro à esquerda e reencontro minha mulher.
Damo-nos as mãos e, em silencio, caminhamos em direção a um ponto, intensamente
iluminado. Contei este sonho a minha esposa e ela, quase em pânico, afirmou –
‘’só falta este ‘’ponto iluminado’’ ser a ‘’eternidade’’ e eu, que o aturei por
meio século, ter que viver com você por todo o sempre.’’ – Da minha parte, nada
contra.
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Eu, meu pastor alemão e as eleições municipais
Rodolfo, meu politizado pastor alemão, depois de assistir aos
debates dos candidatos a Prefeito de nossa Capital, pergunta-me, com
desconfiança:
- ‘’Mas, se o País está quebrado, se os Estados estão
quebrados, se os municípios estão quebrados, como estes senhores e senhoras vão
construir as creches, que estão prometendo, contratar os médicos, que estão
prometendo, melhorar a saúde pública, como estão prometendo, melhorar o
trânsito, como estão prometendo? De onde vai sair a dinheirama para tanta
coisa?’’ Explico-lhe que não se deve levar a sério, o que eles, os candidatos,
dizem na televisão, que o debate é mais ou menos como a ‘’escolinha do professor
Raimundo’’, é só para ouvir e dar risada. Mas Rodolfo, até pela sua origem,
leva tudo muito a sério. Outro dia, fomos dar um passeio no Parque da Aclimação
e ele notou que o entorno foi transformado em zona azul. – ‘’Mas a rua não é
pública, que significa ‘’do povo’’, então por que se tem que pagar para
estacionar nela?, ‘’questionou ele. Explico, com alguma dificuldade, que,
nestas paragens, ‘’pública’’, antes de mais nada, significa ‘’do poder
público’’, que, assim, pode explorar esses espaços, aumentando a arrecadação.’’
Rodolfo retruca, inconformado: ‘’pelo menos este dinheiro, proveniente do
estacionamento ao redor do parque, é utilizado em melhorias no próprio parque,
não é?’’. Conduzo-o, gentilmente, pela ‘’guia’’ e dou uma volta, para que ele
tire suas próprias conclusões. À medida que andamos, ele rosna baixo, que é
sinal – perigoso – de indignação. A pista abaulada, imprópria para atividades
aeróbicas, apresenta continuas rachaduras, além de coberta por folhas e
gravetos que, quando chove, torna-a escorregadia. Como não vimos nenhum
segurança, fomos até à Administração que nos informou que o contrato com a
respectiva empresa fora rescindido, por falta de verba. Irritado, Rodolfo
mostrou os dentes e se colocou em posição de ataque. Com muito custo,
acalmei-o, dizendo que a culpa não era do funcionário que nos deu a informação
e, se era para morder alguém, eu o levaria até o ‘’Viaduto do Chá’’, onde fica
a sede da Prefeitura. Ele, como todo alemão, levou a proposta a sério e, mal
voltamos para casa, ele se acomodou no banco de trás do carro. Ao subir a Rua
Machado de Assis, o trânsito estava parado. De um lado, um caminhão
descarregava bebidas e, do outro, um caminhão fazia a coleta de lixo, o que
motivou nova irritação de meu inquieto pastor alemão: ‘’- por que estes
serviços não podem ser executados entre 10 da noite e 6 da manhã, como ocorre
em qualquer cidade civilizada? Esta cidade parece a casa da mãe Joana!’’ Ao
atingir a Avenida Paulista, deparamo-nos com obra, no acesso à mesma, provocando
novo e brutal congestionamento. Rodolfo babava de ódio e, por prudência,
desviei-me do caminho e levei-o a comer um sanduíche de picanha e fiquei a
dizer-lhe que administração pública é assim mesmo, pontuada de irracionalidade,
que as soluções, aparentemente óbvias, são difíceis, senão impossíveis de serem
executadas, vinculadas, que são, a interesses, quase sempre obscuros. Rodolfo,
calado, mas pensativo, devorava seu quarto sanduíche, quando propus que
voltássemos para casa, porque, seguramente, o Prefeito, em plena campanha para
a reeleição, não seria encontrado, na Prefeitura. Foi aí que ele me fez a
pergunta, que eu temia: - ‘’afinal, em quem você vai votar e por que?’’
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Ainda: Lula e a Procuradoria da República
Fustiga-me importante jornalista, que me honra, com
cinqüentenária amizade, pelas críticas, que fiz à Procuradoria da República,
pela inútil e descabida exibição, regada a ilustrações, quando do oferecimento
da denúncia contra o ex-presidente Lula. Compreendo o amigo e, até, comungo de
sua indignação, não dele contra mim, que não valho tanto, mas porque, no afã de
‘’aparecer’’, aqueles Procuradores
deram ‘’um tiro no pé’’. Duvido que o
Juiz Sergio Moro, que vem sendo acusado de facciosismo contra Lula, tenha
coragem de receber denúncia, baseada apenas em ‘’convicção’’, que não ultrapassa os limites do subjetivismo. É de
notória sabença que, para denunciar, o Ministério Público precisa tão somente
de indícios, que são as ‘’pegadas’’
da autoria do crime. O ‘’power point’’
exibido pelo apressado Procurador é um amontoado de ilações, que desmerecem a
inteligência dos membros da ‘’lava jato’’.
Deltan Dallagnol fez papel ingênuo, para dizer pouco e facilitou a defesa de
Lula, que, para começo de conversa, terá embasamento legal suficiente para
recorrer da infeliz denuncia, se for ela recebida e, até mesmo, argüir a
suspeição de Sergio Moro e exigir o afastamento dos Procuradores. Lula topou a
briga e se dispôs a ir a pé, para se deixar prender, em Curitiba, se se provar,
materialmente, qualquer ato de corrupção, por ele praticado. Ele, Lula, que
estava acuado, recuperou suas forças, graças à açodada ação do Ministério
Público Federal. Não apenas eu, modesto rábula, mas vários juristas, de
requintada sapiência, manifestaram seu repúdio àquele inoportuno exibicionismo.
Como meu amigo jornalista, também tenho ‘’convicção’’
que Lula é o rei da corte, que se instalou no Brasil, desde o ‘’Mensalão’’. Mas, e daí? Quais os sinais
exteriores de riqueza, advindos de atos, que surrupiaram cerca de 50 bilhões de
reais? Um apartamento de classe média, no Guarujá, que, em nada, nos lembra
Búzios ou Trancoso? Um sítio, em Atibaia, lugar que, nem de longe, nos remete a
Campos de Jordão ou a Serra de Petrópolis? Falam de uma belíssima casa em São
Bernardo do Campo. Se ainda fosse nos Alpes Suíços ou na Riviera Francesa! E
conta no exterior, nada? Ao que tudo indica, restam, contra Lula, delações,
arrancadas dos beneficiados no esquema do ‘’petrolão’’,
o que, como prova, provoca orgasmos intelectuais, nos advogados de defesa.
Amargo minha frustração e, se o Juiz Sergio Moro for prudente, devolve o
processo ao Ministério Público para que esse recheie suas ‘’convicções’’ com fatos concretos. Do
contrário, o até então morto-vivo, estará ressuscitado e apto a nos espantar a
todos, em 2018. Quem viver, verá!
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
Cunha: fantasma permanente
Tempos atrás, no prefacio do impeachment de Dilma Roussef, em
entrevista ao programa ‘’Roda Viva’’, da TV Cultura, o ex-deputado Roberto
Jefferson chamou Eduardo Cunha de ‘’meu bandido predileto’’. E o foi para todos
os brasileiros, vez que, graças a ele o pedido de afastamento da ex-presidente
foi acolhido e seguiu, célere, até o inesquecível 31 de agosto. Cunha, agora,
foi colocado fora de campo, pela esmagadora maioria da Câmara Federal, para
felicidade de todos que almejam o Brasil passado a limpo. Todavia, se está fora
de campo, Cunha não está fora do jogo. A mídia noticia, com incontido orgasmo
múltiplo, que, agora, nas implacáveis mãos de Sérgio Moro, com quase toda
certeza, Cunha não escapará de ter decretada sua prisão temporária. É aí que
ele voltará ao jogo, para desespero de dezenas de deputados que votaram pela
sua cassação e de outras cabeças coroadas do Poder. Tenho segura informação –
cuja fonte não posso revelar, por estar revestida pelo sigilo profissional –
que, através de poderoso mandatário, que se encontra preso pela ‘’lava-jato’’,
aqueles políticos recebiam generosas ‘’doações’’, em dinheiro, para suas
campanhas eleitorais, ou cargos a lhes proporcionar vantagens. Pois esse
mandatário de Cunha estava, apenas, aguardando o desfecho do processo de
cassação do dito cujo e sua eventual prisão, para, em delação premiada,
entregar os comprovantes de pagamentos, efetuados àqueles parlamentares, que
formavam fila, à porta de um bem decorado escritório, situado no bairro do
Itaim Bibi. Consta que, da cassação de Cunha a esta data, aumentou, de modo substancial,
a venda de ‘’lexotan’’, na farmácia do Congresso Nacional. Repetir-se-á o
espetáculo vivenciado no impeachment de Collor: muitos dos que votaram pelo seu
impedimento, mais tarde, foram defenestrados do parlamento, por estarem
envolvidos nas ‘’maracutais’’ do orçamento. Vem chumbo grosso por aí!
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Lula e show de ontem
Ainda 4° ano da Faculdade, com a irresponsabilidade propria
da juventude, fiz o meu primeiro júri. Do outro lado, na tribuna do Ministério
Público, estava o Promotor, Hermínio Alberto Marques Porto, a meu juízo, o mais
brilhante membro daquela Instituição e que, ao longo da vida, privilegiou-me
com sua amizade. Foi, antes de tudo, um mestre que me ensinou que, condenar ou
absolver, deve ser, ter que ser, exclusivamente, resultado da prova, regra que
tomei para mim, nestes 40 ou mais anos que milito na advocacia criminal,
esmiuçando o processo, em busca de sustação fática para a tese de defesa, a ser
sustentada. O apreço pelo sempre elegante Hermínio, sedimentou em mim admiração
e respeito pelo Ministério Público Paulista, onde tenho antigas e novas
amizades, sempre dentro dos limites da legalidade, até porque entendo que a ‘’justiça
não pode ser ação entre amigos’’, como ensinava antigo Desembargador. A
lembrança de Hermínio Marques Porto, a falar da prova e a presença do
Ministério Público, como Instituição, subiram-me a mim, ontem, ao assistir, com
constrangimento, ao show de pirotecnia proporcionado por Procuradores da
República, na denúncia oferecida contra Lula. Todos os que gastam seu tempo,
acompanhando-me nestas ‘’mal traçadas’’, sabem quanto eu abomino Lula e o
petismo. Todavia, se os repudio, com todo o ardor, que me concede minha
raquítica pena, com muito mais ardor, curvo-me, no respeito ao Direito, sem o
qual o ser humano retorna a seu estado mais primitivo. Também acho que Lula
seja o ‘’maestro’’, o ‘’general’’ da tropa que assaltou a Petrobrás, mas, como
indagaria meu saudoso Marques Porto, onde está a prova material, objetiva,
certa de tal envolvimento? É quase inimaginável que, com dezenas de pessoas
envolvidas em um desvio que, até agora, suplantou a astronômica cifra de 50
bilhões de reais, não tenha emergido um único mísero documento, a comprometer o
ex-presidente. E que não se invoque, como prova, delações feitas por presos,
submetidos à coação irresistível. Ou não seria ‘’coação irresistível’’
condicionar a libertação do preso à delação de alguém? O Ministro Gilmar
Mendes, que não esconde sua antipatia pelo petismo, já questionou o valor da
delação, onde o delator é induzido a declarar o que a autoridade quer que ele
declare. Também acho que Lula seja proprietário do triplex do Guarujá e do
sítio de Atibaia. Entretanto, sem prova real, retemo-nos no terreno do ‘’achômetro’’
que, em um estado de direito, não serve para condenar. Até leigo sabe que a
propriedade de bem imóvel se adquire pela transcrição do respectivo título no
cartório imobiliário competente. Assim está gravado em nosso Código Civil,
traduzido, pelo jargão popular, na expressão ‘’quem não registra não é dono’’.
E o triplex está registrado em nome da Construtora OAS, como o sítio o está em
nome de dois amigos. Claro que é suspeito, mas é pouco, ou nada, para permitir
condenação. O espetáculo de ontem, com direito a ilustrações, gráficos etc, era
descabido e desnecessário, até porque o Ministério Público, como titular da
ação penal, reporta-se ao Juiz do processo e não aos telespectadores. Por mais
nefasta que seja a figura do investigado – e o é – trata-se de um ex-Presidente
da República, que tem sua importância histórica e a ‘’coletiva’’ da
Procuradoria teve repercussão internacional, diminuindo-nos no concerto das
nações, podendo, até comprometer nossos interesses econômicos internacionais. A
operação ‘’lava-jato’’ vem trazendo incomensuráveis benefícios ao País, mas
seria conveniente que seus condutores não queiram se transformar em ‘’prima
donna’’ de um espetáculo, que nos envergonha a todos. Lula deve ser punido, mas
não porque o repudiemos, mas, porque existam (coloco o verbo no subjuntivo, que
o modo da ação hipotética) provas concretas contra ele. Assim funciona no
Estado de Direito, garantia da liberdade de todos, dos que amamos e dos que
repudiamos.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Conversa entre amigos
Liga-me antigo amigo, que não via há largo tempo. Cansara-se
de São Paulo, do ‘’pega pra capar’’, que não dá trégua, reuniu seu bem guardado
dinheirinho, que não era pouco, e saiu por aí, sem pouso certo. Nunca mais
soube dele, nem pelos mais íntimos. Sempre foi socialista convicto e só não ingressou
na luta armada, à época do endurecimento do regime militar, porque entendia que
esse era o pior caminho para restaurar a democracia... e os fatos provaram que
ele tinha razão. Apesar das abismais diferenças ideológicas, éramos amigos.
Quem nos visse discutindo, sempre entre chopes e bolinhos de bacalhau, no
agitado ‘’João Cem’’, de Moema, apostava que sairíamos a tapas, o que nunca aconteceu,
vez que nossa amizade sempre esteve acima das divergências filosóficas. Quando
surgiu o PT ele se entusiasmou, ante a possibilidade de a classe operária subir
ao poder. Chegou a frequentar reuniões do novo partido, mas tinha a alma
indisciplinada para compromissos e rituais. A última vez que nos falamos, ao
final do primeiro governo Lula, já perdera um pouco do entusiasmo inicial.
Costumava dizer que a ditadura do proletariado não conseguia vencer a corrupção
do poder. Mais ou menos assim! Quando me ligou, às vésperas do feriado, vinha
de uma temporada na China, para onde pretendia voltar.
- ‘’Você deve estar feliz, com os calhordas de volta à
Presidência’’, disse-me ele, convocando-me ao duelo e, como seria guerra de
largo curso, convidei-o para um vinho, em minha casa. Para ficarmos mais à
vontade, recebo-o em minha modesta biblioteca, isolada dos demais cômodos.
Enquanto alinho as taças, os tira-gosto e abro a garrafa, ele percorre as
estantes, passa os olhos sobre um ou outro livro e não resiste à observação: - ‘’como
pode você, reacionário assumido, ter tantos livros de autores de esquerda?’’
Retruco, preparando as armas: - ‘’primeiro, não sou reacionário, termo que se
aplica a vocês que não aceitam a globalização econômica, que sedimentou o
liberalismo, única forma de ascensão social. Depois, reconheço que os autores
de esquerda, apesar de desconectados com o mundo real, escrevem bem. Além disto,
o que a direita pensa, eu já sei, porque a ela pertenço.’’ – E nosso papo
seguiu, consumindo três garrafas de honesto ‘’cabernet’’ chileno, ele, parado
no tempo, ainda falando em ‘’luta de classes’’, ‘’oligarquia branca escravocrata’’,
‘’exploração do trabalho pelo capital’’, citando Karl Marx e Friedrich Engels,
como se vivêssemos o apogeu da Revolução Industrial. Com a língua já pastosa,
acusou os Estados Unidos de ‘’fabricarem’’ a crise econômica de 2007, apenas
para reestruturarem o neoliberalismo e de serem os responsáveis pelo surgimento
do Estado Islâmico. Ouvi meu amigo, embevecido pela sua cultura, mas triste,
por vê-lo retido, no tempo. Suas ideias, ornadas por teias de aranha, esclarecem
porque a direita cresce na Europa e o melancólico Bernie Sanders abdicou de
disputar a presidência dos Estados Unidos. Não chegamos a introduzir o Brasil
pós-Dilma, em nosso debate, porque meu amigo, abatido pelo vinho, cochilava na
poltrona. Sob protesto dele, o ‘’uber’’ levou-o para casa.
Correção: ontem, equivocamente, afirmei que Carmen Lucia era
a primeira mulher a ocupar a Presidência do Supremo Tribunal Federal. Na
verdade, é a segunda, vez que foi antecedida por Ellen Gracie, de incontestável
competência e eficiência. Erro meu, advindo dos fevereiros acumulados, que já
comprometem minha memória.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
A Pregação Inútil dos Movimentos Sociais
Os movimentos sociais, ligados ao petismo e que sempre
receberam generosas ‘’doações financeiras’’ do Governo, saem às ruas, com a truculência
de sempre, destruindo vidraças, fechando estradas com pneus, em chamas. Nada a
ver com aquelas multidões de pessoas, portando, como única bandeira, a do
Brasil, desfilando, pacificamente, sua indignação e pedindo o fim de um governo
corrupto e incompetente. Agora, são os vândalos de sempre, insuflados pelo MST
e assemelhados, que gritam ‘’fora Temer’’, porque, por certo, vão perder a ‘’boquinha’’,
que os permitia viver, sem trabalhar e remunerar seus ‘’associados’’, quando
queriam promover manifestações a seu exclusivo interesse. Inexpressivos grupos
de marginais, vestindo camisetas da CUT e do MST destroem patrimônio privado e
infernizam o cotidiano da população, achando que, com tais nefastas ações, deporão
um Presidente, alçado ao governo, depois de rigoroso processo constitucional
que, ouvindo a verdadeira voz da rua, expulsou uma presidente incompetente, que
destruiu a economia do País, gerando o absurdo numero de 12 milhões de
desempregados. Os baderneiros, financiados pela CUT e pelo MST, ‘’non pasaran’’,
porque é hora de reconstruir o Brasil. Reconstruir o Brasil, é retirá-lo dos
braços dos Morales e Maduro e realinhá-lo aos Estados Unidos, Canadá,
Inglaterra e outros países, com os quais devemos manter relações comerciais,
que estimulem o mercado exterior. Reconstruir o Brasil é, por exemplo, buscar,
na China, investimentos que promovam a retomada do crescimento, gerando novos
empregos. Reconstruir o Brasil é promover reformas estruturais, em especial a previdenciária,
que dará segurança aos aposentados e a trabalhista, que fortalecerá a relação
capital/trabalho. Reconstruir o Brasil é privilegiar a meritocracia, tirando as
Empresas Públicas das mãos de políticos, substituindo-os por técnicos, de
reconhecida capacitação. Reconstruir o Brasil é, enfim, recolher o entulho
deixado por 13 anos de petismo, virar esta melancólica página de nossa historia
e começar de novo, com responsabilidade e seriedade. O Presidente Temer tem 02
anos para, pelo menos, começar esta reconstrução. Se fracassar, nesta missão,
ou se se desviar do rumo traçado, aí, sim, a população ordeira, que não destrói
patrimônio alheio, que tem, como única bandeira, a nacional, voltará às ruas.
A rainha, pobre e desastrada rainha, está morta! Viva – pelo menos,
por enquanto – o rei!
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
Tchau, Querido!
Hoje, 12 de Setembro, o Ministro Ricardo Lewandowski passa a Presidência
do Supremo Tribunal Federal à Ministra Carmen Lucia, primeira mulher, desde a
criação da Corte, a ocupar tão relevante cargo. Jurista de menor lustro, que
passou pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, Lewandowski chegou no Supremo
pelas mãos de Lula, de quem é amigo, desde São Bernardo do Campo, em cuja
Faculdade de Direito estudou. Sempre se manteve fiel ao ‘’companheiro’’ e, para protegê-lo de Curitiba, determinou ao Juiz
Sergio Moro que separasse as gravações de conversas de Lula com políticos com
foro privilegiado, obstando, assim, o avanço das investigações pela ‘’lava-jato’’, contra o ex-presidente. À
época do mensalão, votou pela absolvição de cabeças coroadas do PT, como José Dirceu,
o principal executivo da máfia e José Genoino, o Diretor Financeiro, que
assinava cheques, empréstimo e transferências bancárias, ‘’sem saber o que estava assinando’’, como alegou em sua defesa.
Lewandowski coroou sua gratidão ao petismo, acolhendo esdrúxula fatiamento de
artigo expresso da Constituição que reúne, de forma indivisível, perda de
mandato com inabilitação política, o que mereceu duras críticas de seus pares:
o decano, Celso de Melo, afirmou que ‘’o artigo 52 compõe uma estrutura
incindível e indecomponível’’ e Gilmar Mendes, que não tem papas na língua,
arrematou que ‘’a solução não passa na
prova dos 9 do jardim de infância do Direito Constitucional.’’ O Presidente
do Supremo comanda o processo de impeachment, exatamente para assegurar que o
ordenamento jurídico, como um todo, e a Constituição, em particular, sejam
rigorosamente observados. Deve ele se conduzir como Juiz togado, a reger as
ações dos juízes de fato, que o são os Senadores. Pois Lewandowski despiu a
toga, desceu da presidência e foi negociar com aliados da ré, melhor solução
para minimizar sua pena. Deu no que deu, para desconforto dos demais Ministros
da Corte.
Lewandowski despede-se da presidência do Supremo, sem deixar
saudades. Passa o bastão para a Ministra Carmen Lucia que, ao longo do tempo,
tem demonstrado competência, discrição e imparcialidade, no exercício de seu ‘’munus’’. Em suas mãos fica a
responsabilidade de recompor a imagem da presidência da Corte. Esperamos e
desejamos que o consiga.
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Parcas considerações sobre a emoção e a razão
Os brasileiros, como todos os povos latinos, são movidos
muito mais pela emoção do que pela razão. Primeiro, agimos, depois, pensamos se
aquele era o melhor caminho a seguir. Vivenciamos isto em nosso cotidiano,
quando brigamos no trânsito ou, compulsivamente, sacamos nosso cartão de
crédito e compramos o que nos encantou, deixando as preocupações com a conta,
mais para a frente. Antigamente, quando se imaginava ser o coração a fonte da
emoção, corria prudente ditado afirmando que ‘’a cabeça foi colocada acima do
coração, para que a razão dominasse a emoção.’’ Para mim, sempre foi apenas um
brocardo, mal construído e afastado da realidade objetiva, pois a emoção sempre
predomina. Enquanto esse paradoxo fica no campo pessoal, as conseqüências
recaem sobre cada qual. Escolheu a mulher apenas pelo seu belo rosto ou pelas
suas coxas torneadas e, ao longo do tempo, ela se revelou uma chata, que
implica com seu futebol de meio de semana, ou tem certeza que você tem um caso
com sua secretaria? Segura essa, meu caro! Por que não a olhou além da beleza e
das coxas? Ou não segura e parte para a separação, com todos os dissabores das
discussões sobre pensão alimentícia, guarda de filho, divisão de patrimônio etc
etc. O problema se agrava – e muito – quando a ‘’emocionalidade’’ transfere-se
para as relações coletivas, como, por exemplo, na elaboração e aplicação das
leis. Cito, apenas, dois exemplos. Quando Tancredo foi eleito, pretendeu ele
constituir uma comissão de juristas, de notável saber, para elaborar o esboço
da nova Constituição. Com a morte de Tancredo, a idéia foi posta de lado e se
elaborou, com a emoção daquele momento histórico, uma Constituição, denominada,
entusiasticamente, ‘’cidadã’’, com cerca de 250 artigos e 100 ‘’disposições
transitórias’’. Ao longo destes 28 anos, nossa Carta já recebeu mais de 100
‘’emendas’’, sem contar as excrecencias interpretativas, como o da semana
passada, que afastou a ex-presidente Dilma, mas manteve seus direitos
políticos. 42 senadores ficaram com ‘’peninha’’ de Dilma e estupraram norma
constitucional expressa. E tudo isto com autorização do presidente do Supremo
Tribunal Federal, que tem, como missão precípua, ser o protetor da
Constituição. Dizem que teve ‘’maracutaia’’, por trás da esdrúxula decisão, mas
eu, em minha ingenuidade, prefiro debitar à emoção do momento. Agora, a ‘’bola
da vez’’ é o debate, que se instalou no Supremo, sobre a possibilidade legal de
o acusado, condenado em segunda instancia, vale dizer, pelos Tribunais
Regionais, ser obrigado a se recolher à prisão, como condição, para recorrer da
decisão condenatória, ao Superior Tribunal de Justiça. Em momento de violenta
emoção, decorrente da operação ‘’lava-jato’’, a Corte decidiu pela prisão
imediata do acusado, antes daquele recurso. Com os ânimos serenados, algumas
Entidades, inclusive a Ordem dos Advogados, insurgiram-se contra aquela
decisão, porque, tanto a Constituição Federal, quanto o Código de Processo
Penal estabelecem a chamada ‘’presunção de inocência’’, segundo a qual ninguém
pode ser definitivamente preso, senão depois de sentença condenatória,
transitada em julgado, exatamente aquela contra a qual não mais cabe mais
qualquer recurso. O relator da matéria, Ministro Marco Aurélio, já votou, neste
sentido e, em próxima sessão, o plenário da Corte decidirá. Por óbvio, toda
esta celeuma teria sido evitada se, afastada a emoção do momento, o tema fosse
objeto de melhor reflexão.
A emoção, sem dúvida,
é má conselheira, seja em nossa vida particular, seja na preservação das
instituições.
terça-feira, 6 de setembro de 2016
A alegria que vem da simplicidade.
Outra noite, passando de carro, por uma rua pobre, casas com
paredes descascadas, prédios com fachadas rabiscadas, lixo espalhado pelo
meio-fio, nosso carro parou em um semáforo, em cuja esquina havia um bar, tosco
bar. Cadeiras na calçada, em torno de raquítica churrasqueira, muitas garrafas
e animada roda de samba, formada por gente simples. Minha esposa comentou como
essas pessoas, de escassas condições financeiras, com todas as suas limitações
materiais, procuram aproveitar a vida. São as mesmas que, em domingos
ensolarados de verão, lotam uma Kombi velha e, correm à praia, a meio a
farofadas, divertem-se, enquanto nós, os ‘’empolados’’, julgando-nos
superiores, torcemos o nariz, mantendo a maior distância possível. Jamais nos
disporíamos a comer bem e a dançar em calçadas. Produzimo-nos, enfrentamos
engarrafamentos e nos permitimos ser explorados, pagando, a peso de ouro, comidas
poucas, mas servidas com pompa e circunstancia. Fazemos por merecer. E a
alegria daqueles, produto da descontração, em contraponto a nosso melancólico
esnobismo, não se exaure na área do divertimento. Dou exemplo pessoal: durante
muitos anos freqüentei a Igreja da Paróquia de meu bairro. Recentemente, por
razões desconhecidas e que, por óbvio, não são de minha conta, o Pároco,
(sacerdote afável, querido de todos os paroquianos, culto, a nos brindar com homilias,
pronunciadas em tom coloquial, mas que nos levavam à reflexão), foi substituído
por outro sacerdote que, pelo menos a mim, passa a impressão de rezar a missa,
por pesada obrigação. Desassossegado, optei por migrar de Igreja, para a de São
Judas Tadeu, no Jabaquara e freqüentado, em sua grande maioria, por pessoas
simples, vindas de diferentes regiões, para cultuar o Santo, de largo
prestígio, pelos incontáveis milagres realizados. Pois, a missa transforma-se
em calorosa festa, onde todos cantam, batem palmas, entregando-se, por inteiro,
na satisfação de poder estar ali, agradecendo e pedindo proteção. Essa alegria
é contagiante, atingindo-me a mim, que venho de sóbrias paragens. Não há
conversas paralelas, nem preocupação com a aparência de quem está a nosso lado.
Irmanados na fé, concentramo-nos, apenas em louvar a Deus. Saio de lá, coração
leve, com a sensação de que o Cristo crucificado ouviu melhor minhas preces,
pensou minhas mazelas espirituais e que estará comigo, dando-me força e
coragem, na superação de minhas vicissitudes.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Reflexão sobre cinzas do domingo
Quando retornei a São Paulo, depois de 10 maravilhosos anos
passados no Rio, mais precisamente do bairro do Leme, quis compensar, a mim e a
minha família, pela praia, deixada para trás e fomos morar em espaçosa casa,
grudada ao Parque da Aclimação. Nesse parque, onde corria e, depois, com o
avançar da carteira de identidade, apenas andava, fiz vários amigos,
companheiros de churrascos e cervejadas memoráveis. Com o tempo, nossa turma
foi ficando rarefeita: uns mudaram de bairro, outros, de cidade e outros,
simplesmente morreram. Hoje, já não vou ao parque, senão, noite caída, para
levar os cachorros grandes para uma volta e, quando vou sozinho, geralmente nas
manhãs de sábado, sinto-me estrangeiro em minha própria terra, pois só vejo
rostos estranhos. Entre os conhecidos de então, tinha especial simpatia pelo
José Luiz, Juiz Federal de extrema competência e dedicação, mas que a exercia
sem ‘’juizite’’. Era extremamente crítico, com sua profissão e seus colegas,
pela incapacidade de ambos cumprirem objetivo maior, fazer justiça. Quase nunca
falava de seu trabalho e, apesar de sua veia satírica, tinha conceito
pessimista da vida e do ser humano. Cerca de dois nos atrás, teve um ‘’a.v.c’’,
que o imobilizou, na cama e, como não reagiu, deixou-se morrer, lentamente. Proibiu
os amigos de visitá-lo. Não queria ver e ser visto, sem sua dignidade. Ontem,
atendendo à recomendação expressa, suas cinzas foram espargidas no parque, ali,
onde era nossa dispersão, após o lazer matinal. Poucos de nós presentes, pelo
motivo já referido. Aquelas cinzas, espalhadas sobre a grama rala que, durante
anos, foi testemunha de nossas conversas inúteis, foi tudo que restou de um
homem inteligente, que ironizava a todos, inclusive ele mesmo. Cumpriu-se a
ordem divina: ‘’lembras-te que és pó e ao pó retornarás’’. A inclusão do verbo ‘’lembrar’’
teve, por objetivo, fazer-nos refletir a respeito de nossa insignificância e de
como, de forma equivocada, valorizamos o que não é essencial. Mas, como definir
o que ‘’não é essencial?’’. Pior, como nos despir do egoísmo acumulado, do
materialismo acumulado, do ressentimento acumulado? Vivemos numa sociedade constituída
em função desses ‘’desvalores’’ e apenas tomamos consciência – efêmera consciência
– de nossa insignificância e dos descaminhos optados, quando, como no domingo,
vemos cinzas de entes queridos jogadas ao vento. Eu, cá de mim, saí do parque
e, alma em ebulição, fui me apascentar, brincando com meus cachorros e hoje,
segunda-feira, contemplo minha agenda do dia, apenas com coisas insignificantes
a fazer, mas necessárias para que se cumpra a maldição bíblica de ‘’ganhar o
pão com o suor do próprio gosto’’.
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
A lingerie da separação
Não o conhecia, fora-me recomendado por colega tributarista
que nunca viajou nas turbulentas águas do direito de família, cheio de desvios,
a nos enveredar pela psicologia. De qualquer maneira, aquele caso misturava o
trágico e o cômico. Paulo (chamêmo-lo assim) era empresário bem sucedido,
passando dos 60, casado há 30 com Beatriz (chamêmo-la, assim). Rigoroso em sua
empresa e na sua vida particular, razão pela qual os filhos – um casal – tão logo
puderam, abandonaram o ninho. O filho foi fazer um curso na Alemanha e por lá
ficou. A filha, aos 23 anos, engravidou-se do namorado, filho de rico
fazendeiro goiano, o casamento foi apressado e ela foi com ele para o interior
de Goiás. Tinha notícia de ambos pela esposa, que se comunicavam por ‘’skype’’.
Paulo orgulhava-se de nunca ter tirado férias, viagens, só a trabalho. Seu
lazer com Beatriz, resumia a jantares, sempre aos sábados e sempre no mesmo
restaurante. Segurança, acima de tudo. Até que veio o infausto acontecimento:
eis que adentra a sua sala Helena, sua secretária de 10 ou mais anos. Helena
(chamêmo-la, assim) ainda não chegara aos 40 e estava com ‘’tudo em cima’’,
principalmente as coxas torneadas, cobiça de todos os diretores da empresa. A relação
entre Paulo e Helena era, como sempre foi: de senhor e senhora, sem qualquer
intimidade. Naquele fatídico dia, Helena entrou na sala de Paulo, levando-lhe o
primeiro café do dia e a agenda de compromissos: ‘’Doutor Paulo, não se esqueça de que hoje é seu aniversário de
casamento. Se o senhor quiser, posso providenciar o presente.’’ Paulo não quis, mas solicitou ajuda da secretária
para comprar alguma coisa significativa. Afinal fariam 30 anos de casados.
Tendo Helena ao lado, na hora do almoço foram ao Shopping Iguatemi e, em uma
joalheria, padrão internacional, optou por um conjunto de colar e brincos.
Helena, entre constrangida e amedrontada, sugeriu-lhe, além das joias, ‘’alguma coisa mais intima, afinal o senhor e
Dª Beatriz ainda são jovens’’ – ‘’Alguma
coisa, como o que?’’, pergunta ele. ‘’Uma
lingerie, por exemplo’’, respondeu Helena, com um sorriso safado nos
lábios. Paulo restou mudo. Ao longo de toda a vida de casado, jamais comprara
uma única peça de roupa para a esposa, quanto mais um lingerie. Todavia, talvez
pelo sorriso de Helena, talvez pela data, a evocar recordações, concordou com a
proposta, desde que Helena escolhesse a peça. Dirigiram-se a uma loja
especializada e, após várias escolhas, Helena dirigiu-se ao provador, de lá
saindo com uma lingerie azul, exibindo seios pontiagudos, por cima e coxas
torneadas, por baixo. Anestesiado, Paulo não conseguia responder à pergunta: ‘’e
aí, gostou?’’ Antes que pudesse recuperar o fôlego, sentiu alguém tocar-lhe o
braço e, em voz baixa, como convém às pessoas de classe, dizer-lhe ‘’então, esta putinha é sua amante?’’
Era Beatriz.
Hoje, após explicações inúteis, Paulo cabeça baixa,
constrangido, veio tratar da separação. Quanto a Helena... talvez!
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Eu, meu cachorro e o Impeachment
Eu juro que não queria, mas a tentação é mais forte. Apressei
o final de reunião na cidade e, quebrando hábito, fui almoçar em casa. Não pelo
almoço, que, por sinal, estava ótimo, mas porque queria, sem desassossego,
assistir ao ultimo capítulo da novela ‘’tchau,
querida!’’ Como sempre, convoquei a companhia de Rodolfo, meu pastor alemão,
companheiro constante em jornadas desta natureza. Dentre os oito cachorros, que
tenho, é o único politizado. Olavo, ainda é muito jovem para espetáculos
fortes. Nara não se interessa senão por assuntos de segurança e os demais, em
avançada idade, preferem falar sobre os último lançamentos da medicina
veterinária. E, quanto ao Clovis, impossível contar com ele. Anarquista
revolucionário, leitor adepto de Bakunin, não me deixaria em paz. Porisso,
sobrou Rodolfo que, com inequívoca má-vontade, postou-se a meu lado. Peguei o
espetáculo pela metade, mas a tempo de ouvir senador paulista, de colorida
plumagem, afirmar, até dando exemplo, que ‘’com’’
era conjunção. Rodolfo empinou as orelhas, olhando-me com olhar de dúvida.
Confirmei-lhe que ‘’com’’ era
preposição, a da ideia de companhia, dei-lhe exemplo – iremos ao parque com
Olavo - , mas seu semblante de dúvida permaneceu. Afinal, o que é apagado escriba
diante de um Senador... e paulista... e do PSDB? Para dissipar suas dúvidas,
mostrei-lhe o ‘’Aurélio’’ e robusto
livro de gramática. Mas os escorregões vernaculares não pararam por aí. Um
Senador capixaba, ligado a uma igreja neo-pentecostal, soltou uma ‘’esgarcação’’, em lugar de esgarçamento.
Rodolfo tapou os ouvidos com as patas. Repreendio-o: precisava ser benevolente,
o senador é orador eloquente e, em estado de violenta emoção, é normal
perder-se no uso de palavras mais rebuscadas. Rodolfo ergueu-se sobre as patas,
quando o jovem senador do PT chamou seus pares de ‘’canalhas’’, mas esboçou sorriso, quando o senador goiano, que
lembra os ‘’galãs’’ dos anos 70, ‘’matou a pau’’, apontando os verdadeiros
canalhas. Rodolfo fez um gesto, com as patas dianteiras, dando-me a impressão que
pretendia bater palmas. Finalmente, Rodolfo ficou com os olhos marejados,
quando o senador do Acre pediu, pelo amor a Deus, que não suspendessem os
direitos políticos da definitivamente afastada Presidente, vez que faltava
apenas um ano para sua aposentadoria e, sem ela, no valor mensal de 05 mil
reais, como iria a infeliz viver? Rodolfo olhou-me assustado, como a indagou
se, em indo ela trabalhar na iniciativa privada, tal tempo de contribuição não teria
validade. Fui logo respondendo que melhor fora perguntar ao Lewandowski,
porque, quem consegue dividir, ao meio, norma indivisível da Constituição, sabe
tudo. Encerrada a sessão, voltei ao escritório, Rodolfo para a frente da casa,
Temer para a China e Dilma para a Alvorada. Tem 30 dias para devolver a residência
oficial. Lembrei-me de um amigo, eleito Prefeito em cidade aqui perto. Ao
assumir o cargo, descobriu que seu antecessor, ferrenho inimigo, tinha feito ‘’caca’’, nas gavetas da mesa de
trabalho. Ora, quem fez ‘’caca’’, por
tanto tempo, Brasil afora, pode não ter perdido o hábito.
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